G20

ABI repudia ação de seguranças de Bolsonaro em agressão a jornalistas na Itália

Caso inédito de agressão a jornalistas por parte dos seguranças do presidente do Brasil em reunião do G20 causa manifestações de repúdio

Tainá Andrade
postado em 01/11/2021 11:28
 (crédito: LUDOVIC MARIN)
(crédito: LUDOVIC MARIN)

Em carta aberta a Jair Bolsonaro (sem partido), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) repudia a atitude dos seguranças do presidente em Roma, na Itália, contra jornalistas. "O senhor está tornando o Brasil um pária na comunidade internacional, presidente. Tenha compostura", escreveu o presidente da ABI, Paulo Jerônimo.

"Com o seu comportamento avesso à democracia e com ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas, o senhor estimula essas agressões. Assim, torna-se também responsável por elas. E, como numa bola de neve, elas só aumentam seu isolamento e o repúdio que o senhor recebe da comunidade internacional. Pior, o isolamento não é só seu. Atinge e envergonha o país que o senhor representa", continuou.

Paulo Jerônimo denunciou a agressão ocorrida, após a reunião do G20, pelos seguranças do presidente a repórteres da Globo, Folha de S. Paulo e a um colunista da Uol, que formalizaram a queixa na delegacia. A confusão ocorreu porque, segundo ele, os profissionais faziam perguntas corriqueiras a Bolsonaro. Além da violência física, os jornalistas tiveram os equipamentos roubados, em represália.

OAB classifica como "lamentável"

Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados no Brasil (OAB) também se manifestou contrário às atitudes do chefe de Estado. "Lamentável que incidentes como esse ocorram, refletindo uma postura frequente de desrespeito ao trabalho dos profissionais de imprensa", disse, em nota.

Até o momento, o Palácio do Planalto não se manifestou sobre o caso e as autoridades que estão em Roma, incluindo Jair Bolsonaro, não se retrataram. Paulo Jerônimo expõe a atitude na carta.

Jerônimo também comentou sobre o sentimento causado pela presença do presidente brasileiro que, segundo ele, “foi obrigado a ficar pelos cantos” e ao ser questionado por jornalistas agiu como “troglodita” e estimulou as agressões.

Ele também mencionou a atitude do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, ao cumprimentar com um aperto de mão todos os chefes de Estado e de governo, menos Bolsonaro. Além disso, de acordo com Jerônimo, também evitou ser fotografado ao lado do presidente brasileiro.

“Percebendo que era quase um penetra na festa, o senhor preferiu não aparecer para a foto oficial com os estadistas do mundo inteiro. Sentiu a rejeição generalizada. Tampouco sentiu-se à vontade para participar do passeio organizado pelo governo italiano para os líderes do G20, que tiraram fotos jogando moedas na Fontana di Trevi, tradicional ponto turístico de Roma”, informou.

Leia na íntegra a carta da ABI:

CARTA ABERTA DA ABI A JAIR BOLSONARO

Mais uma vez o senhor envergonha o Brasil, presidente.
Repudiado por governantes do mundo inteiro, em cada evento de chefes de Estado o senhor mostra que o País foi relegado a uma situação de um pária na comunidade internacional.
Na reunião do G-20 neste fim de semana, mais uma vez, o senhor foi obrigado a ficar pelos cantos, como aqueles convidados indesejados a quem ninguém dá atenção.
Como reação, age como um troglodita, hostilizando e estimulando agressões a jornalistas que lhe fazem perguntas corriqueiras.
É de dar vergonha.
Na cerimônia de abertura do evento do G-20, no sábado, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, cumprimentou os chefes de Estado e de governo com um aperto de mão, mas o evitou claramente, fato devidamente registrado pela imprensa italiana. Não quis ser fotografado ao seu lado.
Mas as coisas não ficaram por aí.
Percebendo que era quase um penetra na festa, o senhor preferiu não aparecer para a foto oficial com os estadistas do mundo inteiro. Sentiu a rejeição generalizada.
Tampouco sentiu-se à vontade para participar do passeio organizado pelo governo italiano para os líderes do G20, que tiraram fotos jogando moedas na Fontana di Trevi, tradicional ponto turístico de Roma.
Mas o vexame e a vergonha foram maiores. Não pararam por aí.
Seus seguranças agrediram jornalistas brasileiros e roubaram seus equipamentos em represália a perguntas simples sobre as razões pelas quais o senhor não cumpriria a agenda comum aos demais chefes de Estado.
Repórteres da TV Globo e do jornal “Folha de S. Paulo” e um colunista do Uol foram à delegacia de polícia formalizar queixa das agressões praticadas por seus seguranças. Foi, talvez, um acontecimento inédito.
Mesmo assim, o senhor e os demais membros de sua comitiva, aí incluídos representantes do Itamaraty, foram incapazes de uma palavra de desculpa aos profissionais que estavam apenas trabalhando. Ao contrário, continuaram hostilizando os jornalistas brasileiros.
A ABI mais uma vez faz o registro: com o seu comportamento avesso à democracia e com ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas, o senhor estimula essas agressões. Assim, torna-se também responsável por elas.
E, como numa bola de neve, elas só aumentam seu isolamento e o repúdio que o senhor recebe da comunidade internacional.
Pior, o isolamento não é só seu. Atinge e envergonha o país que o senhor representa.
O senhor está tornando o Brasil um pária na comunidade internacional, presidente.
Tenha compostura."

Paulo Jeronimo, Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

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