RACIALIDADE

Caetano defende uso do termo ‘mulato’: "Não sou obrigado a concordar com tudo"

O artista rebateu uma orientação de uma jornalista negra que afirmou que o termo é considerado pejorativo por ser derivado de mulas

Talita de Souza
postado em 21/12/2021 01:31
 (crédito: Reprodução/Roda Viva )
(crédito: Reprodução/Roda Viva )

O cantor Caetano Veloso foi alvo de críticas nas redes sociais, na noite desta segunda-feira (20/12), após defender o uso do termo ‘mulato’ em músicas e até mesmo em autodeclaração racial. O termo é considerado racista e pejorativo, por ter uma origem etimológica que compara os negros, chamados assim sobretudo à época da escravidão, com jumentos, é fortemente repreendido por ativistas raciais.

As declarações do artista foram feitas no programa Roda Viva, da TV Cultura, desta segunda-feira, após a jornalista negra Adriana Couto, da própria emissora, orientá-lo que a expressão não é mais usada por ter sido usada para fazer uma associação animalesca e desumanizadora de negros escravizados trazidos ao Brasil.

“Eu sou pardo. Mas a primeira palavra que aparece no meu disco sobre isso é mulato. Até dediquei essa música ao Jorge Mautner, eterno defensor da miscigenação brasileiro. Ela virou um mito de beleza brasileira, que atrapalha certas coisas, certas estatísticas que precisam ser enfrentadas e atos do cotidiano. Tem muita gente que decide modificar a terminologia, o que pode ou não usar”, rebateu o cantor.

Ele também afirmou que não é “obrigado a concordar com tudo”, em relações às mudanças de pensamento e de comportamento feitas para não perpetuar o preconceito contra negros.

Eu não sou obrigado a concordar com tudo, acho que esse movimento (revisionista) é uma movimentação muito útil se o Brasil souber aproveitar e não se deixar dominar por isso. Não vejo qual o problema de mulato, meu pai era mulato, a pessoa que eu mais adorava e respeitava”, declarou.

Caetano ainda critica a fala de ativistas e do próprio Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, que indica que mulato deriva de mula, e que é o mesmo que jumento. “Tem gente que dizia que é tirado de mula? qual o problema, não tenho nada contra as mulas”, disse. “Mas eu nem acho que venha das mulas”, declarou, por fim. Veja o momento:


“Bem racista”: internet divide opiniões sobre as declarações do artista

Nas redes sociais, a fala recebeu duras críticas. “Caetano deu uma escorregada ao tentar definir a categoria racial mulata, hoje já ultrapassada e, inclusive, pejorativa. ‘Como bom antropófago’, que ‘come tudo e metaboliza as coisas’, ele deveria saber que mulato era aquele que carregava os brancos nas costas”, escreveu um usuário do Twitter.

“Essa expressão em relação ao termo mulato foi bem racista, hein querido Caetano”, disse outro perfil.

Outros perfis, no entanto, apoiaram a fala do cantor e disseram que a jornalista Adriana Couto só queria “lacrar”. “A jornalista da lacração quis corrigir o Caetano por ter usado o termo mulato e ele disse que não via problema algum em falar mulato e sustentou isso muito bem”, escreveu um perfil. “Caetano falando que diz mulato a hora que quiser kkkkk Lacradores vão à loucura”, disse outro usuário.

A edição que recebe Caetano Veloso conta com as perguntas de Luiz Antonio Simas, professor e escritor, Adriana Couto (TV Cultura), Mariliz Pereira Jorge (Folha de S. Paulo), Maria Fortuna (O Globo), Leonardo Lichote (crítico musical) e Ademir Correa (Rolling Stone Brasil). O programa teve o comando de Vera Magalhães.

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