Eleições

Tarcisio de Freitas: Bolsonaro é mais sagaz do que se imagina

Uso do marketing de guerrilha catapulta o presidente Bolsonaro aos holofotes ao apostar no inusitado, dizem especialistas

Deborah Hana Cardoso
postado em 01/04/2022 16:39 / atualizado em 01/04/2022 16:39
 (crédito: José Cruz/Agência Brasil)
(crédito: José Cruz/Agência Brasil)

ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (PL), pré-candidato ao governo de São Paulo, explicou que, diferentemente do que pensam, o presidente Jair Bolsonaro (PL) é “sagaz”. A afirmação foi feita nesta sexta-feira (1º/4) diante de empresários na capital paulista.

Para exemplificar a fala, Freitas usou como exemplo a inauguração da ponte Abanuã, que conecta o Acre ao sistema rodoviário brasileiro e permite o escoamento das produções nas regiões Norte e Centro-Oeste, principalmente soja. O ex-ministro a quem Bolsonaro chama de “Capita” — por ter sido capitão do Exército — destacou a falta de capacete na travessia da ponte (que foi feita mais de uma vez). “'Capita, qual vai ser a notícia?' Ao que Tarcísio respondeu: '(A notícia será) Que estamos sem capacete'. Bolsonaro concordou: 'Exatamente, vão falar que atravessamos a ponte sem capacete, mas vão falar da ponte. Da inauguração dessa obra que levou décadas e, do contrário, ninguém ia falar'”, relatou o ministro, em entrevista ao portal Money Report.

“Bolsonaro me perguntou: 'Essa foto nossa atravessando a ponte, você acha que ganha quantas curtidas?'" Tarcísio contou que não tinha ideia, mas que Bolsonaro respondeu. “Nas primeiras horas, três milhões de curtidas nas minhas redes sociais. Sabe o que é isso, capita? Publicidade de graça”, disse o presidente.

De acordo com o especialista em marketing político, Marcelo Vitorino, em certa medida, o presidente Bolsonaro acerta ao colocar a “tia do zap” como cabo eleitoral, mas faz ressalvas. “Talvez esse seja o motivo de sua baixa popularidade hoje, dado que essa mesma pessoa é quem vai no supermercado e identifica o aumento dos preços, que abastece o carro, que compra o gás de cozinha”, opinou.

Questionado pelo Correio se o presidente usa das ferramentas do marketing de guerrilha, Vitorino respondeu: “O entendimento do marketing de guerrilha é correto, o que talvez esteja faltando é o entendimento de que chavões e ideologia não resolvem o problema da maioria dos guerrilheiros, que é a queda do poder aquisitivo e o endividamento”, afirmou.

Imagem vinculada

Vitorino destacou que, apesar da forte presença do chefe do Executivo nas redes, a televisão tem um papel importante nas campanhas majoritárias, pois entra na casa da maioria dos brasileiros. “A campanha de Bolsonaro em 2018 foi beneficiada pela exposição de seu atentado, projetando sua imagem para além do que seus seguidores iam”, destacou, se referindo ao episódio da facada.

Segundo o analista político da Arko Advice, Carlos Borenstein, o ministro Tarcísio, para ter chance em São Paulo, precisa tentar se desvincular da imagem de Bolsonaro, pois pode atrair para si a rejeição do presidente, como ocorreu com Fernando Haddad (PT) em 2018 em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Bolsonaro nada de braçada no digital. O bolsonarismo tem um gerenciamento de rede que nenhum outro partido tem. No campo da esquerda, o PSOL até tenta, mas não chega perto do bolsonarismo. Os bolsonaristas são organizados em diversas redes, fazendo este marketing de guerrilha e marketing viral. É assim que ele consegue rapidamente mobilizar a opinião pública”, destacou.

Já o cientista político André Rosa destacou que Bolsonaro construiu uma linha discursiva que abrange um grande público de massa. “Para que ele capture esses afetos, é necessário ter uma comunicação simples e com gestos com os quais as massas se identifiquem. Do ponto de vista eleitoral, transmitir uma imagem extremamente intelectual pode gerar efeitos menos abrangentes em termos de percentuais de votos. Já uma imagem voltada às massas pressupõe um maior número de adeptos à narrativa bolsonarista. Tal como Lula, Bolsonaro tem um viés parecido, usando uma linguagem simples. Alguns atos, mesmo reprováveis ao olhar mais crítico, são tidos como engraçado para o seu grande público”, disse.

 

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