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Presidente da Abrapel analisa estratégias contra a desinformação eleitoral

Em entrevista ao Correio, a presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais, Mara Telles, explica que há pesquisas eleitorais que não são registradas no TSE e ludibriam a sociedade brasileira

Isabel Dourado*
postado em 10/05/2022 17:56 / atualizado em 10/05/2022 17:57
 (crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)
(crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)

Há pesquisas eleitorais que não são registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas ainda assim circulam em redes sociais, como WhatsApp, Telegram, Facebook, para ludibriar o eleitor brasileiro. É o que aponta a presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais, Mara Telles.

Ela comentou estratégias contra a desinformação eleitoral e explicou a função da Abrapel nesta terça-feira (10/5), em entrevista ao CB.Poder — uma parceria do Correio com a TV Brasília.

“A Abrapel quer trazer profissionais da área de eleições em geral, ou seja, comunicólogos, jornalistas, cientistas sociais e políticos que tratam do tema de eleições tanto com metodologias qualitativas quanto quantitativas para que a gente possa qualificar e capacitar para trazer informações de qualidade à sociedade brasileira, tendo em vista o número de desinformação.”

Ignorância

Mara Telles avaliou que atualmente ocorre uma crise institucional que impõe mudanças no mundo todo. “Recentemente, o que a gente tem visto no Brasil, por exemplo, são institutos desconhecidos e sem legitimidade fazendo pesquisas sem mostrar ao público a metodologia usada, qual foi o questionário. E essas pesquisas são bastante divulgadas, intencionalmente, para desinformar sobre o processo eleitoral. Isso tem ocorrido muito no sentido de desacreditar as pesquisas eleitorais, sejam pesquisas de intenção de voto, pesquisas acadêmicas, de eleição, sobre o comportamento do eleitor.”

Nesse sentido, segundo a especialista, entra o conceito de agnotologia, que é o estudo da ignorância. O termo foi difundido pelo historiador americano Robert Proctor, da Universidade de Stanford. Ela explica que a produção da ignorância acontece tanto de forma intencional, com o objetivo de obter vantagens, quanto não intencional.

"Data Povo"

A presidente da Abrapel destaca não haver um controle das pesquisas divulgadas nas redes sociais. “Não tem um controle sobre o IP ou a identidade de quem está disseminando essas pesquisas, sobretudo no período eleitoral, e as pesquisas influenciam o comportamento do eleitor.”

De acordo com Mara, o chamado "Data Povo" tem substituído pesquisas eleitorais feitas com métodos científicos e com amostras elaboradas. Também segundo a entrevistada, essas pesquisas não oficias são mencionadas diversas vezes nas redes sociais pelos grupos de direita, que validam tais informações como sendo mais eficientes do que as pesquisas eleitorais.

A direita dissemina nas redes sociais que as pesquisas eleitorais legítimas não valem e que são feitas apenas com o intuito de derrubar o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), apontou a especialista.

As pesquisas citadas por Telles chegam até o eleitor por meio, sobretudo, do WhatsApp e do Telegram. Em ambas as redes sociais é difícil fazer o controle das chamadas fake news, pois os aplicativos permitem que muitos usuários participem de grupos. De acordo com a especialista, as pesquisas ilegítimas que são divulgadas nas redes sociais são usadas em duas dimensões. Primeiro, para reforçar convicções internas de uma parte do eleitorado, pois é muito mais confortável, como diz a teoria, receber informações que reforçam suas convicções e pontos de vistas, e ainda existe aquele outro leitor que é desavisado.

“É aí que entra a ignorância deliberada em que as pessoas questionam os resultados das pesquisas e não só as pesquisas de intenção de voto, mas os pesquisadores em geral e a ciência em geral, quase como um regresso à Idade Média. Muitos cientistas ainda não sabem o porquê muitas pessoas educadas e que têm um conhecimento razoável, uma percepção razoável da sociedade, estarem criando essa realidade paralela. É como se a ciência deixasse de importar para elas.”

EUA

Ela argumentou ainda que o processo de desinformação não é um fenômeno que ocorre apenas no Brasil, mas também em outros países. E citou os Estados Unidos, do ex-presidente Donald Trump, que sugeriu a injeção de desinfetante para o tratamento de pacientes com covid-19.

“A ideologia faz com que as pessoas confiem tanto nos políticos que isso passa a se sobrepor a outros elementos científicos.”

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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