Opinião

Alexandre Garcia: Nem mesmo o PT está seguro de sua escolha

Alexandre Garcia
postado em 25/05/2022 06:00 / atualizado em 25/05/2022 06:05
 (crédito:  Alexandre Guzanshe/Estado de Minas)
(crédito: Alexandre Guzanshe/Estado de Minas)

Doria desistiu, mas não resolveu o enigma tucano. O PSDB continua em cima do muro, agora balançando entre Simone Tebet e Eduardo Leite. Adiou a decisão para a próxima semana. Ficar com Eduardo Leite escancara o golpe contra Doria, o vencedor da prévia do partido; ir para Tebet mostra a carência de nomes tucanos, ao adotar a candidata do MDB. Nessa segunda, ele chegou ao encontro com seus correligionários já decidido, de discurso pronto e acompanhado da mulher, dona Bia, e do irmão Raul. Lançou uma frase destinada a ser lapidada: "Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve". Afinal, fora rezar em Goiânia na véspera. O choro, depois, nos braços de Bia, fez lembrar a Pietà — e pareceu tão sincero quando o recolhimento com as mãos postas, em oração. E ainda fez uma frase de marketing, projetando seus 2%: "Agradeço aos seis milhões de brasileiros que manifestaram a intenção de votar em meu nome para presidente". Doria sendo Doria. PSDB sendo PSDB.

O episódio faz parte de um problema mais amplo: a ausência de nomes conhecidos e populares em grandes partidos. O MDB e o Cidadania (novo nome do PCB) se reúnem para apontar candidato e — perguntar não ofende — será que vão mesmo convergir para Simone Tebet? A senadora, ex-prefeita de Três Lagoas (MS), se tornou conhecida na patética CPI da Covid, mas não muito. Além das divisas do seu estado, vai ser difícil conquistar eleitores. No próprio MDB, há divergências — e até aparece o nome de Temer como candidato. Como já se viu num jantar em Brasília entre senadores do MDB e Lula, a preferência do partido no Nordeste é pelo ex-presidente. De Minas para o Sul, as preferências são aderir a Bolsonaro. O Cidadania vai a reboque, e o União Brasil já caiu fora, com o candidato autoescolhido, o presidente do partido, Luciano Bivar, outro quase desconhecido, a não ser pelos iniciados em política. Imagino o quanto o DEM esteja se lamentando de ter-se juntado ao PSL para formar o União Brasil. E também imagino que a via dos eleitores do DEM e do PSL leva a Bolsonaro.

Nem mesmo o PT está seguro de sua escolha. As trocas de comunicadores e marqueteiros mostram isso. E até há petista sonhando com Ciro Gomes, que teria menos rejeição que Lula, cujo passado o condena. Também há petistas tentando atrair Ciro, mas Ciro está convicto de que é alternativa a Lula. Tanto que faz críticas a Lula e parece esquecer Bolsonaro. O presidente que busca a reeleição, por sua vez, está aceitando todos os convites para eventos e levando seus ministros para apresentar pelo Brasil resultados de obras todas as semanas. As multidões que atrai servem como água fria sobre as pesquisas que põem Lula na frente, o candidato que evita as ruas.

Uma via de meia-volta foi vista na Justiça. A Corte foi unânime em recusar ação do ex-presidente do PT Rui Falcão e de Fernando Haddad para obrigar o presidente da Câmara a despachar pedidos de impeachment do partido. E, agora, Alexandre de Moraes volta atrás e revoga sua liminar que proibia o presidente da Câmara de convocar eleição para substituir os membros da Mesa Diretora, inclusive o vice Marcelo Ramos, ferrenho crítico de Bolsonaro. Lira já convocou eleição para esta quarta. Parece que o Supremo deu uma relida no segundo artigo da Constituição, sobre Poderes independentes e harmônicos. A via da Constituição não comporta contramão.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.