escândalo do mec

Bolsonaro mantém silêncio sobre suspeita de interferência em investigação

Na Marcha para Jesus, Bolsonaro retoma discurso do "bem contra o mal", defende o armamento da população em nome da "liberdade", mas não fala da apuração contra ministério

Tainá Andrade
postado em 26/06/2022 06:54 / atualizado em 26/06/2022 06:56
No Balneário Camboriú, Bolsonaro disse ter exército de cerca de 200 milhões de pessoas no país -  (crédito: RICARDO TRIDA/UAI FOTO/ESTADÃO CONTEÚDO)
No Balneário Camboriú, Bolsonaro disse ter exército de cerca de 200 milhões de pessoas no país - (crédito: RICARDO TRIDA/UAI FOTO/ESTADÃO CONTEÚDO)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou, neste sábado (26/6), da Marcha para Jesus, no Balneário Camboriú (SC), fez discurso, mas não comentou sobre a suspeita levantada pelo Ministério Público Federal (MPF) de que teria interferido na Operação Acesso Pago — investigação da Polícia Federal sobre corrupção no Ministério da Educação.

Em vez de abordar o assunto, Bolsonaro optou por criticar governos anteriores. Disse que, ao definir sua equipe, "fez o contrário" de gestões passada. "Formar um ministério com pressões, as mais variadas possíveis, para que Brasília continuasse como sempre esteve ao longo das últimas décadas, fizemos ao contrário. Apostamos, porque sempre devi lealdade ao povo que está à minha frente", declarou para a multidão de evangélicos e foi saudado com gritos de "mito".

Bolsonaro voltou à narrativa do bem contra o mal ao disparar contra seu principal rival nas eleições de outubro: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas de intenção de voto. Ele disse que sua chegada ao Planalto "tirou da zona de conforto quem queria o mal do país", numa menção à agenda de costumes. "Nessa briga do bem contra o mal, sabemos o que está na mesa. Um lado defende o aborto, o outro é contra. Um lado defende a família, o outro quer cada vez mais desgastar seus valores. Um lado é contra a ideologia de gênero, o outro é favorável", ressaltou.

O chefe do Executivo também defendeu o armamento da população em nome da "liberdade". "Um lado quer que o seu povo se arme, para que afaste cada vez mais a sombra daqueles que querem roubar a sagrada liberdade. Eu tenho dito: povo armado jamais será escravizado. Vendam as suas capas, comprem espadas, está no livro que chamamos de Bíblia sagrada", frisou.

Ele disse ter um exército de 200 milhões de pessoas para defender o país. "Sempre tenho falado das quatro linhas da Constituição. Tenham certeza: se preciso for, e cada vez mais parece que será preciso, nós tomaremos as decisões que devem ser tomadas, porque tenho um exército que se aproxima dos 200 milhões de pessoas nos quatro cantos deste Brasil", destacou. De acordo com projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem 214 milhões de habitantes.

Delegado: ex-ministro sabia de operação da PF

O delegado federal Bruno Calandrini, responsável pela investigação sobre o gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação (MEC), disse acreditar que houve vazamento do inquérito.

"Os indícios de vazamento são verossímeis e necessitam de aprofundamento diante da gravidade do fato aqui investigado", escreveu, em manifestação enviada na sexta-feira à Justiça Federal em Brasília.

Calandrini cita ligações do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, interceptadas na apuração. Para o delegado, as conversas "evidenciam" que ele "estava ciente" de que seria alvo de buscas. O documento diz, ainda, que o ex-ministro demonstrou "extrema preocupação" com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, apontados como lobistas no MEC.

"Nos chamou a atenção a preocupação e fala idêntica, quase que decorada, de Milton com Waldemiro e Adolfo e, sobretudo, a precisão da afirmação de Milton ao relatar à sua filha Juliana que seria alvo de busca e apreensão, informação supostamente obtida através de ligação recebida do presidente da República", explica o delegado.

Em uma das conversas, Ribeiro indicou ter recebido um alerta do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o risco de abrirem buscas contra ele. "Ele (Bolsonaro) acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa", afirma. No dia da ligação, o chefe do Executivo estava viajando com o ministro da Justiça, Anderson Torres, a quem a Polícia Federal (PF) transmite informações diárias de suas missões.

A ligação não é a única que acendeu o alerta sobre uma possível interferência. No dia da operação, a mulher do ex-ministro, Miryan Ribeiro, que também foi grampeada, disse a um interlocutor que o marido "já estava sabendo", da operação.

O Ministério Público Federal (MPF) também apontou indícios de vazamento da operação policial e pediu investigação para saber se houve violação de sigilo e favorecimento pessoal.

Após a Operação Acesso Pago, Calandrini já havia dito que não tem "autonomia investigativa e administrativa" para conduzir o inquérito com "independência e segurança institucional". Em mensagem enviada a colegas, afirmou que a apuração foi "prejudicada" pelo "tratamento diferenciado concedido pela PF" em São Paulo a Ribeiro.

O ex-ministro foi preso preventivamente em Santos (SP) e deveria ter sido levado a Brasília, mas a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo alegou questões logísticas e não fez a transferência. Ribeiro acabou recebendo habeas corpus do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) e foi solto antes de ser ouvido pelo delegado.

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