Eleições 2022

Lula defende diálogo com empresários, mas diz que setor vive em redoma de vidro

Ao longo da entrevista, apesar das críticas aos empresários, Lula também acenou para a classe ao defender a retomada do diálogo para que "voltem a acreditar na capacidade de investimento no Brasil"

Agência Estado
postado em 02/07/2022 00:23
 (crédito: Ricardo Stuckert/Divulgação PT)
(crédito: Ricardo Stuckert/Divulgação PT)

Entre tapas e beijos com o setor empresarial, de quem tem tentado se aproximar nas últimas semanas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu hoje a necessidade de estabelecer uma relação de diálogo com empresários e, ao mesmo tempo, disse que a classe "só fala em teto de gastos e política fiscal" e "vive em uma redoma de vidro em que o mundo gira em torno dos interesses deles".

"Na cabeça dessa gente não existe pobreza, não existe fome, não existe gente dormindo na rua, gente dormindo na sarjeta, não tem criança morrendo de desnutrição. Essa gente só fala em teto de gastos, em política fiscal", criticou o petista, que cobrou dos representantes do setor discussões envolvendo política social e distribuição de renda e riqueza. "Parece que eles vivem em uma redoma de vidro em que o mundo gira em torno deles e dos interesses deles", continuou. As falas foram feitas durante entrevista à Rádio Metrópole da Bahia.

Lula afirmou ainda ter certeza de que banqueiro não vota nele. "Eles olham e falam 'esse cara não sabe falar direito, esse cara é nordestino, esse cara não tem diploma universitário. Depois, esse cara ganha e quer aumentar salário de trabalhador, quer regularizar o trabalho da empregada doméstica, depois a empregada da minha mulher vem trabalhar na sexta-feira com o perfume que minha mulher usa'".

"Eles querem alguém que não cheira nem fede. Aquelas pessoas neutras, que não fazem bem, não fazem mal, mas também não fazem nada. E o Brasil está precisando de alguém que faça alguma coisa", emendou. Lula destacou que, se eleito, o "povo pobre" terá prioridade e o foco serão a geração de emprego e o aumento do salário mínimo.

Ao longo da entrevista, apesar das críticas aos empresários, Lula também acenou para a classe ao defender a retomada do diálogo para que "voltem a acreditar na capacidade de investimento no Brasil". O petista destacou a necessidade de garantir credibilidade, previsibilidade e estabilidade política e jurídica para que as pessoas tenham disposição para investir no País.

A estratégia do ex-presidente é conciliar interesses dos empresários e trabalhadores ao relembrar a ascensão econômica que vigorou durante as suas gestões, além de destacar que a melhoria na vida do "povo" é fundamental para garantir prosperidade às empresas. "Quando deixei a Presidência, a economia crescia, o comércio varejista tinha gerado milhões de emprego, a massa salarial crescia", disse.

Diálogo

Apesar do tom elevado aos empresários na entrevista de hoje, Lula tem adotado um discurso mais conciliador nos últimos encontros com o chamado "PIB". No jantar realizado na última terça-feira, o petista reforçou que, se eleito, "não haverá surpresas" no âmbito econômico e que todas as propostas serão alvo de amplo debate com a sociedade, tanto com o empresariado quanto com os trabalhadores.

O ex-presidente disse ainda que quer atrair capital estrangeiro, baixar o dólar e a inflação e pediu ao empresariado que se comprometa a trabalhar com ele para acabar com a miséria no País.

Reeleição

O ex-presidente disse também disse durante a entrevista que, se vencer a eleição presidencial neste ano, a reeleição em 2026 não está nos seus planos.

Para Lula, é preciso formar novos quadros políticos para as próximas corridas ao Planalto e disse que tem apenas quatro anos para reorganizar o País.

"Daqui a quatro anos, a gente vai ter gente nova disputando as eleições. Quero deixar o País preparado", disse. "Não vou ser o presidente da República que está pensando na sua reeleição. Vou ser o presidente que vou estar pensando em governar este país por quatro anos e deixar ele tinindo".

Em outro momento, Lula voltou a dizer que sonha em deixar o País "bem" para o candidato que vencer as eleições de 2026. "Sonho todo dia, quando chegar 31 de dezembro de 2026, que a gente for entregar esse mandato para outra pessoa, esse país estará bem", afirmou.

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