Nas Entrelinhas

Análise: Lula e Bolsonaro estão no mano a mano no Rio de Janeiro

O estado do Rio deixou de ser o "tambor" do Brasil, mas nada garante que os fatores que determinaram a mudança de cenário não possam ocorrer em outros estados

Luiz Carlos Azedo
postado em 19/08/2022 05:54 / atualizado em 19/08/2022 05:55
 (crédito: Maurenilson Freire)
(crédito: Maurenilson Freire)

Uma das frentes de batalha decisivas das eleições presidenciais está no Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral do país, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro estão em empate técnico segundo a pesquisa divulgada, ontem, pela Genial/Quest. De julho a agosto, o presidente da República subiu de 34% para 39% das intenções de voto, colando em Lula, que manteve 39% no período. Na projeção do 2º turno, a diferença entre os dois, que era de 9 pontos, caiu para 2 nos últimos 35 dias. Faltam 44 dias para as eleições.

Detalhe: a pesquisa espontânea aponta uma tendência de Lula ser ultrapassado por Bolsonaro no Rio de Janeiro: com 33% de indecisos, Bolsonaro tem 32%, em empate técnico com Lula, que tem 30%. De onde vem essa mudança no cenário eleitoral fluminense: dos eleitores que recebem o Auxílio Emergencial, que foi reajustado para R$ 600 e está sendo pago em dobro neste mês; dos que têm renda familiar até 2 salários-mínimos; dos católicos e, principalmente, dos evangélicos.

A pesquisa mostra que as ações administrativas do governo para melhorar os índices de aprovação de Bolsonaro começam a surtir efeito. E, também, que a narrativa conservadora nos costumes, em defesa da família, contra o aborto e outras bandeiras de cunho religioso, que estão sendo muito disseminada por meio das redes sociais, atrai de volta parte dos eleitores de Bolsonaro que estavam decepcionados com o desempenho dele na Presidência.

O Rio de Janeiro, desde que a capital foi transferida para Brasília, deixou de ser o "tambor" do Brasil, o que reduz o impacto dessa pesquisa na formação de opinião em outros estados, mas, nada garante que os fatores que determinaram a mudança de cenário não possam ocorrer e influenciar as pesquisas em outros colégios eleitorais. É o caso do Auxílio Brasil, que merece olhar mais atento, porque, até então, seu efeito na base de Bolsonaro não fora significativo.

No segmento dos eleitores beneficiados pelos recursos do governo federal, Bolsonaro cresceu 8 pontos, ou seja, de 32% para 40% das intenções de voto. Lula perdeu 7 pontos, de 47% para 40%. Ou seja, a vantagem de Lula para Bolsonaro caiu 15 pontos em 35 dias. Confirmando essa tendência, entre os que têm renda familiar mensal até 2 salários mínimos, Lula caiu 6 pontos, de 47% para 41% , entre julho e agosto; enquanto isso, Bolsonaro saltou 9 pontos, de 28% para 37%.

Alianças

Outra variável importante é o voto religioso. Era previsível o crescimento de Bolsonaro entre os evangélicos, o que de fato ocorreu: subiu 5 pontos percentuais, de 51% para 56%, ampliando uma base eleitoral que já estava bem consolidada. Entretanto, Lula também cresceu 2 p.p. nesse segmento, mas dentro da margem da erro: passou 24% para 26%. A surpresa, porém, é a queda de cinco pontos de Lula entre os católicos, no mesmo período, passando de 44% para 39%. Nessa faixa do eleitorado, que lhe faz restrições severas, o presidente da República enfrenta a oposição do alto clero, por causa do escancarado favorecimento do governo às igrejas pentecostais. Mesmo assim, Bolsonaro cresceu de 28% para 35%, ou seja, 7 pontos.

Uma das explicações para a essa significativa recuperação de Bolsonaro é o fato de que o Rio de Janeiro é a sua principal base eleitoral, por causa do grande efetivo de militares, do apoio do pessoal da segurança pública e das milícias e, também, dos pastores evangélicos. Mas essa recuperação não se deve apenas ao voto corporativo e religioso, o arranjo político local também faz muita diferença. Bolsonaro conta com o apoio do governador Cláudio Castro (PL), que tem 25% de intenções de voto na mesma pesquisa, e do senador Romário (PL), que lidera a disputa pela vaga do Senado, com 30% — 20 p.p. de vantagem em relação aos principais concorrentes, o deputado Alexandre Molon (PSB) e Cabo Daciolo (PDT), com 10% cada.

Em todas as eleições que disputou, Lula teve muito apoio no Rio de Janeiro por causa da força do PT e de suas alianças locais, principalmente com o MDB, que ainda o apoia. Seu maior triunfo é o apoio do prefeito carioca, Eduardo Paes, mas essa aliança não se produz no plano local porque o candidato de Lula é o deputado Marcelo Freixo (PSB), que 19%, enquanto Rodrigo Neves (PDT), ex-prefeito de Niterói, soma 6% de intenções de voto — ele garante o palanque de Ciro Gomes (PDT) em terras fluminenses.

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