Eleições 2022

Ex-presidente José Sarney declara apoio a Lula: "Voto pela democracia"

Com Sarney, Lula totaliza o apoio de três ex-presidentes, somando a Dilma Rousseff (PT) e Fernando Henrique Cardoso (MDB). Já Bolsonaro, é apoiado por Fernando Collor de Mello (PTB). Michel Temer (MDB) optou pela neutralidade

Pedro Grigori
postado em 24/10/2022 21:42 / atualizado em 24/10/2022 21:43
Lula e Sarney se encontraram em Brasília, em 2022, e conversaram por mais de uma hora. -  (crédito: Ricardo Stuckert/Divulgação PT)
Lula e Sarney se encontraram em Brasília, em 2022, e conversaram por mais de uma hora. - (crédito: Ricardo Stuckert/Divulgação PT)

O ex-presidente da República José Sarney (MDB) declarou apoio a Lula (PT) nas eleições do próximo domingo (30/10). Antigo opositor do petista, Sarney disse que o eleitor decidirá no segundo turno se “vota pelo fim da democracia ou por sua restauração”.

Em carta divulgada na noite desta segunda-feira (24/10), Sarney denunciou o autoritarismo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem comparou com presidentes de extrema-direita e de regimes totalitários, como Donald Trump (Estados Unidos), Vladimir Putin (Rússia) e Viktor Orbán (Hungria). “Esse voto não é para quatro anos de governo: é um voto para o destino do Brasil. O voto em Bolsonaro é voto contra as instituições, que terá como consequência anos de autocracia, um regime de força, construído na mentira sistemática e no abuso do poder”, escreveu.

Com Sarney, Lula totaliza o apoio de três ex-presidentes, somando a Dilma Rousseff (PT) e Fernando Henrique Cardoso (MDB). Já Bolsonaro, é apoiado por Fernando Collor de Mello (PTB). Michel Temer (MDB) optou pela neutralidade.

Na carta, Sarney cita um “grande acordo da sociedade” feito com Tancredo Neves, em 1985, como exemplo da união pela democracia. “Tinhamos muito claro um compromisso: a transição para a democracia”, diz.

O ex-presidente ainda criticou o orçamento secreto. “O atual contrato "secreto" entre o Executivo e o Legislativo, fixado em valores agigantados diante dos parcos recursos do Orçamento da República, é campo privilegiado para os interesses escusos. A minoria, esmagada de uma forma que não se via desde o princípio do Império — lembro que nos períodos de exceção não há maioria ou minoria —, tem como única defesa apelar para que o Judiciário faça o que não é sua função e interfira no funcionamento do Congresso Nacional”, disse.

Na carta, Sarney destaca ainda a atuação de Lula como presidente, entre 2003 e 2012. “ O voto em Lula — que já tem seu lugar na História do Brasil como quem levou o povo ao poder e como responsável por dois excelentes governos — é voto pela democracia, pela volta ao regime de alternância de poder, pela busca do Estado de Bem-Estar Social. A diferença é clara”, disse.

Confira a íntegra da carta publicada por José Sarney


"Quando, em janeiro de 1985, Tancredo Neves e eu fomos eleitos por um grande acordo da sociedade, tínhamos muito claro um compromisso: a transição para a democracia. A partir da eleição é que, no espaço cedido pela Fundação Getúlio Vargas, começou-se a detalhar números e tarefas. Antes de janeiro a tarefa não apenas era impossível por não dispormos dos dados reais sobre o funcionamento do governo, mas sobretudo porque a dimensão do que se decidiria na eleição era política e institucional, num nível superior de decisão: estava em jogo o Estado Democrático de Direito, o futuro da Nação.


Estamos, neste momento, numa situação que tem desafios semelhantes. Disfunções dos Poderes aconteceram de tempos em tempos, mas raras vezes se viu o ataque sistemático do Executivo contra o Judiciário. Ora, guardião da Constituição, o Supremo Tribunal Federal se transformou, ao longo das gerações, no ponto de equilíbrio do nosso sistema político. O desacato de Floriano Peixoto, nos primeiros dias da República; a intervenção de Getúlio Vargas, acompanhando os Estados concentracionários europeus; o regime militar, manipulando sua composição para controlá-lo, foram momentos breves, registros inglórios de tempos sombrios. A partir da transição democrática, a Corte Suprema consolidou-se como o mais importante símbolo do Estado brasileiro, por caber-lhe sobretudo a defesa daquilo que nossa Constituição tem de melhor: a garantia dos direitos — individuais, coletivos, difusos, sociais.


O atual contrato "secreto" entre o Executivo e o Legislativo, fixado em valores agigantados diante dos parcos recursos do Orçamento da República, é campo privilegiado para os interesses escusos. A minoria, esmagada de uma forma que não se via desde o princípio do Império — lembro que nos períodos de exceção não há maioria ou minoria —, tem como única defesa apelar para que o Judiciário faça o que não é sua função e interfira no funcionamento do Congresso Nacional.


Um aspecto tenebroso dos movimentos políticos é sua globalização. Desde a Antiguidade as estruturas das nações assumem formas paralelas. Um exemplo é a proximidade das figuras de Trump, Orbán, Putin, Bolsonaro. Uma de suas marcas é a proliferação das fake news. Outras a xenofobia, o racismo, a divisão da sociedade. Assim se hostiliza, agora, os nordestinos, os pobres, como se fossem brasileiros inferiores. Isso atenta contra todos os princípios democráticos e até éticos. É a guerra contra a democracia, o demos, o povo.


No próximo domingo, o eleitor decidirá se vota pelo fim da democracia ou por sua restauração. Esse voto não é para quatro anos de governo: é um voto para o destino do Brasil. O voto em Bolsonaro é voto contra as instituições, que terá como consequência anos de autocracia, um regime de força, construído na mentira sistemática e no abuso do poder. O voto em Lula — que já tem seu lugar na História do Brasil como quem levou o povo ao poder e como responsável por dois excelentes governos — é voto pela democracia, pela volta ao regime de alternância de poder, pela busca do Estado de Bem-Estar Social. A diferença é clara.


No mesmo espírito dos que construíram em torno de Tancredo Neves a Aliança Democrática, reunindo um amplo espectro de homens públicos, agora congregamos em torno do Presidente Lula os homens de maior responsabilidade do País para formar uma nova união pela democracia. É a esperança que nos convoca."

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