Eleições 2022

Bolsonaro chega ao dia das eleições fiel ao estilo agressivo e polêmico

A campanha investiu ainda no apoio de prefeitos e vereadores de várias regiões do país, além do engajamento de artistas da música sertaneja, jogadores de futebol e atletas do MMA. Apesar de pesquisas mostrarem Lula na liderança da intenção de votos, o cenário ainda é de indefinição

Ingrid Soares
postado em 30/10/2022 03:50
 (crédito: Douglas Magno/AFP)
(crédito: Douglas Magno/AFP)

O presidente e candidato Jair Bolsonaro (PL) chegou ao final da campanha eleitoral fiel ao estilo adotado desde o começo da gestão: ladeado de polêmicas, ataques ao Judiciário e questionando o sistema eleitoral. Nas primeiras semanas pós-primeiro turno, o chefe do Executivo recebeu apoios importantes de governadores como o reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), estado chave para a reeleição no qual foi derrotado na primeira rodada das eleições pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ontem (29) a capital mineira Belo Horizonte, foi escolhida por ele para sua última motociata antes das eleições.

 

A campanha investiu ainda no apoio de prefeitos e vereadores de várias regiões do país, além do engajamento de artistas da música sertaneja, jogadores de futebol e atletas do MMA. Apesar de pesquisas mostrarem Lula na liderança da intenção de votos, o cenário ainda é de indefinição.

 

Na tentativa de conquistar o eleitorado mais pobre, Bolsonaro seguiu fazendo uso da máquina pública com pacotes de bondades, como o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, empréstimo consignado e, em nova ofensiva ao voto feminino, 13º para 17 milhões de mulheres chefes de família a partir de 2023. No último debate presidencial, na TV Globo, prometeu reajustar o salário mínimo para R$ 1,4 mil no próximo ano, apesar de a medida não estar prevista no Orçamento de 2023 enviado pelo governo ao Congresso.

 

Bolsonaro concentrou viagens nas regiões Sudeste, onde estão os três maiores colégios eleitorais do país, e Nordeste, conhecido reduto petista, em busca de quem não votou nele (ou em ninguém) no primeiro turno. Isso porque 32,7 milhões de eleitores não compareceram às urnas, público que representa quase 21% do eleitorado.

 

Na reta final, o chefe do Executivo sofreu reveses diante de declarações sobre adolescentes venezuelanas refugiadas em Brasília, com a frase infeliz do “pintou um clima”. O caso foi seguido dos ataques do aliado, o presidente de honra do PTB, Roberto Jefferson, à ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia. Ao ter a prisão domiciliar revogada, o ex-deputado recebeu a Polícia Federal com tiros de fuzil e granadas. Depois do episódio, Bolsonaro tentou se desvincular de Jefferson. Deixou o ex-aliado pelo meio do caminho ao se referir a ele como “bandido” e “criminoso”. Outra notícia que integrantes da campanha e do governo tentaram contra atacar durante a semana foram as críticas à ideia do Ministério da Economia de deixar de corrigir o salário mínimo e a aposentadoria pela inflação passada.

 

Rádios e Michelle

Em outra frente, o presidente contou com o apoio da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na tentativa de vencer a rejeição feminina. Se no começo da campanha ela adotava uma postura mais discreta, na segunda parte das eleições, assumiu papel de destaque participando de caravanas e pregando contra o PT. Michele ajudou a alimentar a “guerra santa” contra Lula.

 

Na semana final, a campanha do presidente denunciou supostas irregularidades em inserções de propagandas eleitorais em emissoras de rádio. O QG bolsonarista ingressou com uma petição junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ministro Alexandre de Moraes encontrou inconsistências no relatório, abriu processo contra a campanha e extinguiu o pedido ao apontar uma eventual tentativa de tumultuar as eleições. Bolsonaro subiu o tom contra a corte e disse que iria “às últimas consequências” para recorrer sobre a denúncia. Ao longo de sua gestão, Bolsonaro tem lançado dúvidas sobre a lisura do sistema eleitoral (leia na página 4). Após o debate na TV Globo, porém, o presidente afirmou que respeitará o resultado das eleições. “Quem tiver mais votos assume o governo”, disse. “Não há a menor dúvida: quem tiver mais votos leva, isso que é democracia”, declarou.

Na visão de André César, cientista político, sócio da Hold Assessoria, caso ocorra a vitória de Lula, há chances de um “terceiro turno” ao estilo Aécio Neves (PSDB/MG) em 2014, desembocando em uma longa e tensa transição.

 

“O resultado nas urnas será acirrado. Se Lula ganhar, essa transição não será fácil. As duas primeiras semanas após o primeiro turno refletiram o bom humor da campanha do presidente, mas o ponto de inversão foi a polêmica com as venezuelanas. No caso das inserções, o objetivo era pedir o adiamento das eleições, mas não teve apoio de ninguém”, disse o analista.

 

Ele também observa o peso suplementar das redes sociais nas campanhas. “Elas, que tiveram grande importância ao longo de todo governo do presidente Bolsonaro, no processo sucessório se tornaram fundamentais e representam agora o diferencial para o êxito do vencedor, seja Lula ou Bolsonaro. Isso explica a renovada preocupação do TSE com as redes.”

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