PALÁCIO DO PLANALTO

Os erros de Ciro Nogueira sobre o placar da disputa entre Lula e Bolsonaro

Ministro da Casa Civil chegou a prever vitória do presidente por oito pontos de diferença; depois, recalculou rota e estimou triunfo apertado

Guilherme Peixoto - Estado de Minas
postado em 31/10/2022 19:19 / atualizado em 31/10/2022 19:20
Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (foto) foi um dos principais fiadores da campanha de Bolsonaro à reeleição -  (crédito: EVARISTO SÁ/AFP)
Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (foto) foi um dos principais fiadores da campanha de Bolsonaro à reeleição - (crédito: EVARISTO SÁ/AFP)

Ministro da Casa Civil e um dos principais articuladores da fracassada campanha de Jair Bolsonaro (PL), o senador licenciado Ciro Nogueira (PP-PI) errou, nos dois turnos, as previsões que fez a respeito dos resultados das urnas. Depois de garantir que Bolsonaro venceria a primeira votação em "18 ou 19 estados", mas ver o aliado triunfar em apenas 12, Nogueira projetou, três semanas atrás, a vitória, por 54% a 46%, do candidato à reeleição sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O que se viu nas urnas, contudo, foi um apertado êxito petista - 50,9% a 49,1%.

Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, em 13 de outubro, Nogueira disse contar, ainda, com aumento do índice de abstenção no Nordeste. O raciocínio era simples: com menos eleitores indo às seções de votação na região em que Lula é historicamente dominante, o caminho para a vitória de Bolsonaro poderia ser mais fácil. Na prática, contudo, o número de nordestinos ausentes da eleição foi inferior à média nacional. Em todo o país, o percentual de faltas foi de 20,58%, o menor desde 2006. No Nordeste, a estatística ficou em 19,29%.

Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, em 13 de outubro, Nogueira disse contar, ainda, com aumento do índice de abstenção no Nordeste. O raciocínio era simples: com menos eleitores indo às seções de votação na região em que Lula é historicamente dominante, o caminho para a vitória de Bolsonaro poderia ser mais fácil. Na prática, contudo, o número de nordestinos ausentes da eleição foi inferior à média nacional. Em todo o país, o percentual de faltas foi de 20,58%, o menor desde 2006. No Nordeste, a estatística ficou em 19,29%.

"Com esse cenário de crescimento de Bolsonaro no país, acho muito difícil que ele não ganhe esta eleição. E não vai ser por um ou dois pontos. Acredito que o presidente vai ter, no mínimo, 8 pontos (de vantagem) e que fique, no mínimo, entre 54% a 46% (para Bolsonaro). Não sai dessa margem de erro, lhes garanto. Depois vocês me cobrem", afirmou, ao EM.

"Com esse cenário de crescimento de Bolsonaro no país, acho muito difícil que ele não ganhe esta eleição. E não vai ser por um ou dois pontos. Acredito que o presidente vai ter, no mínimo, 8 pontos (de vantagem) e que fique, no mínimo, entre 54% a 46% (para Bolsonaro). Não sai dessa margem de erro, lhes garanto. Depois vocês me cobrem", afirmou, ao EM.

Além da baixa abstenção no Nordeste, Ciro Nogueira não contava com a diminuição, em relação ao primeiro turno, do número de faltantes na região. Na votação inicial, 19,53% das pessoas não compareceram - percentual 0,24% menor do que o registrado ontem.

"A força eleitoral de Lula no Nordeste é histórica. A migração dos percentuais por conta da abstenção no Nordeste vai ser significativa na decisão eleitoral deste ano, porque se você levar em conta apenas a eleição de 2018, a vitória de Lula (do PT, na verdade) cai de 6 milhões para 2 milhões (de margem). A abstenção no Nordeste no 2º turno é muito significativa", projetou, erroneamente.

"Não é uma coisa que dependa do quadro político ou de esforços de um lado ou de outro. Historicamente, no 2º turno, e vocês podem comprovar isso em 2014 e 2018, o aumento da abstenção no Nordeste é muito significativo", completou.

PL se frustra com revés no fim em Minas

Desde o início do segundo turno, Bolsonaro, aliados mineiros e integrantes da campanha nacional do PL passaram a ter, na ponta da língua, discurso uníssono a respeito da necessidade de vencer em Minas Gerais. Desde 1950, quando Getúlio Vargas foi eleito presidente, todos os vencedores do pleito nacional precisaram ganhar a etapa mineira da eleição para chegar ao governo federal.

Ontem, Bolsonaro liderava a apuração mineira quando, após a totalização de mais de 93% das urnas, foi passado por Lula. No placar final, o petista triunfou no estado por apenas 0,4%. Além de manter viva a escrita nascida após Vargas, Lula enterrou o discurso de Ciro Nogueira.

"Com o cenário, agora, de virada em Minas Gerais e em São Paulo - e depois me cobrem: vamos ganhar bem em Minas -, está muito próximo de estourarmos de alegria com a vitória de nosso presidente", havia projetado o ministro, na mesma entrevista.

O apoio do governador Romeu Zema (Novo) era tido como elemento essencial para proporcionar a virada de Bolsonaro em Minas. Apesar do revés, o presidente, de fato, cresceu no estado. No primeiro turno, perdeu para Lula por uma diferença de 563,3 mil votos. Ontem, porém, conseguiu diminuir a margem para 496,6 mil eleitores - 50,20% a 49,8%.

"É o estado que tem a maior sintonia com o país como um todo. Alguns estatísticos dizem que não é preciso fazer pesquisa no Brasil; basta fazer em Minas. Os índices do país foram idênticos aos de Minas. Os números que recebemos nesta semana (do dia 12 de outubro) nos surpreenderam positivamente na migração (de votos), levando a uma vitória do presidente Bolsonaro em Minas de forma muito significativa", emendou Ciro Nogueira.

A crença na virada em Minas foi reverberada, também, por Bolsonaro. No sábado (29), durante visita a BH, o presidente derrotado adotou tom otimista. "Obrigado, Minas Gerais. Obrigado, governador Zema, prefeitos e povo por esse apoio. Minas já virou. Vamos à vitória. (Estou) confiante na vitória", falou, à "Rádio Itatiaia".

São Paulo, outra esperança do bolsonarismo, também aumentou o número de votos dados a Bolsonaro. O crescimento, entretanto, foi insuficiente para barrar a eleição de Lula. No primeiro turno, o presidente venceu por 47,41% a 40,89%, o que equivale a 6,82 pontos de diferença. Agora, a distância aumentou para 10,48 pontos - 55,24% a 44,76%.

Piauí impõe derrota pessoal a ministro

Berço político de Ciro Nogueira, o Piauí impôs uma derrota pessoal a Ciro Nogueira. Isso porque Lula venceu em todas as cidades do estado e, no todo, conseguiu, lá, a maior vitória sobre Bolsonaro: 76,86% a 23,14%. No primeiro turno, o triunfo petista havia sido por margem similar: 74,25% a 19,9%.

O ministro disse ter ficado triste com os resultados do primeiro turno. Além da derrota de Bolsonaro, o candidato do grupo político de Nogueira ao governo local, Silvio Mendes (União Brasil), sucumbiu a Rafael Fonteles (PT). O mesmo ocorreu com Joel Rodrigues (PP), oponente do vencedor Wellington Dias (PT) na corrida ao Senado Federal.

"É, talvez, um dos estados do Nordeste onde houve mais disputa. Estamos trabalhando fortemente para, no 2º turno, diminuir a diferença de Lula para Bolsonaro nas cidades. Não vou dizer que Bolsonaro vai ganhar no Piauí, mas estamos trabalhando muito para diminuir a diferença", vislumbrou, equivocadamente.

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