Posse

Número de bolsonaristas em QG cai após discursos de Bolsonaro e Mourão

Bolsonaro e Mourão não corresponderam às expectativas de apoiadores mais radicais, que querem impedir Lula de assumir a presidência

Raphael Felice
postado em 01/01/2023 05:27 / atualizado em 01/01/2023 05:28
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Em menor número desde a ida de Jair Bolsonaro (PL) para os Estados Unidos na última sexta-feira (30), o número de bolsonaristas acampados em frente ao Quartel General do Exército (QG), no Setor Militar Urbano (SMU) caiu em comparação aos últimos dias. Se durante a semana milhares de pessoas eram vistas no local, neste dia 1º o número de apoiadores caiu.

A desmobilização foi motivada principalmente pelos discursos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) - no último dia 30 - e do seu vice, o senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS) - no dia 31 -, quando ocupava o cargo de presidente em exercício, uma vez que Bolsonaro foi para os Estados Unidos.

Em pronunciamento feito em cadeia nacional, Mourão pediu aos manifestantes para "retornem à normalidade da vida, dos afazeres e de cuidar dos lares". A expectativa do grupo era estar em um maior número de pessoas, uma vez que apoiadores do atual presidente vieram de várias parte do Brasil para passar o réveillon em frente ao QG, mas a esperança de um ato golpista foi frustrada e um grupo deixou o QG após a fala do então vice-presidente. "Acabou", disse um dos manifestantes.

Próximo à virada do ano, um apoiador em frente ao QG questionou o presidente Jair Bolsonaro por “não usar as Forças Armadas”. "Vão bater no povo. As Forças Armadas são o quarto poder moderador e quando o Lula assumir eles vão bater em nós. Tudo o que o Bolsonaro não usou o Lula vai usar as Forças Armadas. Agora o povo brasileiro tem que tomar uma decisão. Ou vocês vão para a guerra e lutam pela liberdade de suas famílias ou vão ser escravizados pelo comunismo”, disse enquanto gravava um vídeo para enviar a grupos bolsonaristas na internet.

Mesmo assim, há manifestantes que mantêm a crença em uma virada de mesa. Um deles afirma que "não esperava" nada de diferente do posicionamento de Mourão, pois a "decisão" de algum tipo de ação que pudesse impedir a posse de Lula estaria nas mãos do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

"Gente, sobre o pronunciamento do Mourão eu não sei o que vocês esperavam, eu não esperava muita coisa. Não me decepciona, não me abala, não muda meu posicionamento, não me faz pensar em desistir de jeito nenhum. Não está na mão dele. Vamos prestar atenção aos decretos que o presidente assinou por último, nas mãos de quem que ele deixou. Está nas mãos do Heleno. E antes de estar nas mãos do Heleno, está nas mãos de Deus, aguenta firme!”, disse.

A expectativa de parte do grupo era de uma maior movimentação, uma vez que apoiadores de Bolsonaro vieram de várias partes do país para passar o réveillon em frente ao QG, mas desde a live do último dia 30 de dezembro, a esperança por um ato golpista por parte do governo foi se esvaindo.

Mesmo assim, a preocupação das forças de segurança do Distrito Federal ainda é alta, principalmente pela tentativa de atentado à bomba arquitetado por bolsonaristas acampados no QG do Exército. A Polícia Civil do DF prendeu George Washington, um empresário paraense que pretendia explodir o artefato no aeroporto de Brasília. Ele também trouxe armas e munições para distribuir aos acampados no QG nos dias mais próximos à posse.

Além do cerco da polícia a lideranças extremistas, a ida de Bolsonaro para os Estados Unidos desagradou parte dos apoiadores. O presidente não correspondeu aos anseios dos apoiadores mais radicais, que faziam pedidos de decretar intervenção militar ou algum tipo de manobra para evitar a posse de Lula à presidência da República.

O chefe do poder Executivo também criticou ações extremistas, e afirmou que “nada justificava” a ação terrorista de George Washington, que foi preso por ter arquitetado um plano para explodir uma bomba no aeroporto de Brasília.

Os atos antidemocráticos feitos por manifestantes bolsonaristas começaram em todo o país desde a vitória de Lula no segundo turno, no dia 30 de outubro. Os protestos começaram com grupos de caminhoneiros fechando rodovias em todo o país, mas depois o movimento passou a se concentrar na frente dos QGs do Exército em várias cidades.

Os grupos extremistas faziam pedidos como “intervenção militar com Bolsonaro presidente”, “intervenção federal” e pediam para decretar o Ato Institucional nº 5 (AI-5). Com o tempo, para evitar receber a pecha de golpistas, o grupo passo a ter um discurso mais genérico, como "SOS FFAA", "Forças Armadas salvem o Brasil" e passaram a dizer que o ato era para impedir "um ladrão", de subir a rampa.

Segundo os bolsonaristas, Lula não poderia disputar o pleito em razão das condenações contra ele no âmbito da Operação Lava-Jato. Os processos contra o presidente da República, no entanto, foram anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou o ex-juiz e senador eleito Sergio Moro (União-PR) e outros magistrados parciais, após o vazamento de conversa de Moro com outros integrantes da operação, como o então promotor e deputado eleito, Deltan Dallagnol (Podemos-PR).

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE