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Alvo de protesto de deputados, Lula ataca extrema direita em Portugal

Em críticas aos deputados portugueses que o hostilizavam e a opositores brasileiros, presidente classifica ultradireita de demagógica e diz que o recrudescimento de ideologias extremistas reduz o espaço para diálogo e propaga o ódio

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 26/04/2023 03:55
 (crédito: Fotos: Patricia de Melo Moreira/AFP)
(crédito: Fotos: Patricia de Melo Moreira/AFP)

Lisboa — Sob contundente protesto de deputados da extrema direita na Assembleia da República de Portugal, onde participou de sessão de boas-vindas no dia em que se celebra o fim de uma longa ditadura do país europeu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a democracia no Brasil viveu recentemente momentos de grave ameaça.

Segundo ele, saudosos do autoritarismo tentaram atrasar o relógio em 50 anos e reverter as liberdades conquistadas desde o fim do regime militar.

"Os ataques foram constantes. Os irmãos portugueses assistiram a tudo, preocupados com a possibilidade de que o Brasil desse as costas ao mundo. Mas a notícia que lhes trago é que as forças democráticas brasileiras demonstraram sua solidez e resiliência", afirmou, sob aplausos da maioria do plenário, que se contrapunha ao movimento do Chega, legenda de ultradireita comandada pelo deputado André Ventura, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Sem dar demonstração de descontentamento ante os ataques sofridos, Lula ressaltou que tem viajado pelo mundo a fim de reencontrar parceiros do país.

"Tenho reafirmado que o Brasil que todos sempre conheceram voltou à cena internacional. Um país que não aceita que o seu povo passe fome e que tem consciência de sua responsabilidade na segurança alimentar mundial, pela diversidade e dimensão de seus recursos naturais", frisou. "Um país que reconhece na proteção do meio ambiente um dos maiores desafios contemporâneos e que retoma sua trajetória de forte compromisso com o desenvolvimento sustentável e o enfrentamento da crise climática."

Lula alertou que o mundo tem enfrentado múltiplas crises nas últimas duas décadas. "Temos visto o recrudescimento de ideologias extremistas, impulsionadas pela ditadura dos algorítimos (das redes sociais), que reduzem o espaço para o diálogo e a empatia, propagam o ódio e constrangem a expressão de nossa humanidade", destacou.

Algoritmos

Numa indireta aos deputados que o atacavam no parlamento português — Lula já havia sido avisado sobre esses atos —, chamou de demagogos políticos os que, na Europa, dizem não ser políticos e negam os benefícios conquistados no continente em décadas de paz, cooperação e desenvolvimento dentro da União Europeia. "Considero a integração resultante da União Europeia um patrimônio democrático da humanidade. E vi no Brasil a consequência trágica que sempre acontece quando se nega a política, se nega o diálogo", sustentou, numa clara referência ao governo Bolsonaro.

Para o presidente, o aumento da desigualdade, da pobreza e da fome tornou o atual quadro global mais desafiador. "A crise climática tem se agravado. Mais recentemente, tivemos de enfrentar a pandemia de covid-19 e, paralelamente, fomos atacados pelo vírus da anticiência e do desprezo pela vida humana", criticou. A consequência da tragédia provocada por negacionistas durante a pandemia foi a morte de mais de 700 mil. "Metade dessas mortes poderia ter sido evitada não fossem as fake news, o atraso na obtenção de vacinas e a negação da ciência, feita pela extrema direita no meu país", reforçou.

Atos no parlamento e nas ruas

Deputados do Chega, partido de extrema direita português, interromperam o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva assim que ele começou a falar na Assembleia da República. Os parlamentares exibiram cartazes com os dizeres "chega de corrupção" e começaram a bater nas mesas. Houve, então, uma resposta à altura: o plenário inteiro aplaudiu o petista longamente.

Ante a agressividade, o presidente da Assembleia, Augusto Santos Silva, pediu compostura aos parlamentares, argumentando que a casa estava recebendo um chefe de Estado de uma nação irmã de Portugal. Lula voltou a falar, mas, sistematicamente, os deputados do Chega tentavam tumultuar, sendo contidos por aplausos a favor do petista.

O Chega tem a terceira bancada do Parlamento português — com 12 deputados — e vem apresentado crescimento nas intenções de votos com o forte apoio de brasileiros, especialmente evangélicos, que vivem em Portugal.

Manifestação

Além dos protestos no plenário, eles organizaram um ato do lado de fora do Palácio de São Bento, que reuniu centenas de pessoas. Aos gritos de Lula ladrão, os manifestantes — a maioria, brasileiros evangélicos — se mostraram inconformados com a presença do petista no parlamento.

Apoiadores de Lula também estavam presentes nas ruas, mas em menor quantidade. O braço do PT fez uma convocatória como contraponto aos ultradireitistas. Temendo uma onda de violência, a polícia montou um forte esquema de segurança no entorno do prédio. 

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