IGUALDADE

"Precisamos encontrar um jeito de mulher fazer política", diz promotora

"Nós precisamos de políticas de capacitação, políticas que conduzam a uma transição dessas mulheres, mas o que a gente também precisa é olhar o outro lado do fenômeno: o homem", destaca Vanessa Cavallazzi

Helena Dornelas
postado em 15/06/2023 21:48 / atualizado em 15/06/2023 21:52
Vanessa Cavallazzi, promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de Santa Catarina -  (crédito:  Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Vanessa Cavallazzi, promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de Santa Catarina - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Vanessa Cavallazzi, promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de Santa Catarina, foi a convidada da edição desta quinta-feira (15/6) do Podcast do Correio. Durante o papo com os apresentadores Mariana Niederauer e Ronayre Nunes, a promotora destacou a importância do trabalho dos MPs para direcionar as agendas mais urgentes a serem tratadas pelo poder público, além da reforçar a importância da representatividade e igualdade de gênero . “É papel do Ministério Público induzir as políticas públicas que estão previstas na Constituição”, pontua.

O perfil dos crimes de feminicídio tem preocupado de forma especial a promotora, que percebe na tendência uma necessidade de mudança estrutural que o direito penal, sozinho, não será capaz de abarcar. "O feminicídio é uma realidade. Observamos nos últimos anos um recrudescimento. Eles têm ficado mais violentos, e o pior: pessoas mais jovens, em relacionamentos mais curtos e já cometendo crimes contra a vida", analisa.

De acordo com Vanessa, esse tipo de crime é punido com rigor e celeridade em seu estado, mas o esforço da Justiça e do Ministério Público parece não ter sido suficiente para inibir os crimes, que aumentaram durante a pandemia.

“Nós precisamos de políticas de capacitação, políticas que conduzam a uma transição dessas mulheres, mas o que a gente também precisa é olhar o outro lado do fenômeno: o homem. Porque o problema não é o relacionamento, é a conduta do homem. Por isso políticas públicas também voltadas a esses homens são importantes”, observa Cavallazzi, que veio a Brasília para participar do Congresso Conamp Mulher, evento que abordou os muitos papéis dos MP na luta contra a desigualdade de gênero.

Em relação aos espaços sociais ocupados por mulheres, Vanessa Cavallazzi lança um olhar crítico sobre as relações de poder no próprio Ministério Público, mas que podem ser observadas também na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, ambas as casas com baixa representatividade feminina. “As dificuldades que enfrentamos no processo eleitoral são semelhantes, as histórias são parecidas e há espaço para se criar estratégias conjuntas de elaboração de um jeito de mulher fazer política”, opina a promotora, que concorreu, no início do ano, à Procuradoria-Geral do MPSC — cargo nunca ocupado por uma mulher.

Olhar humanizado

A promotora detalhou ainda como a atuação no MP, principalmente na área criminal, contribuiu para transformar a sua perspectiva social. “Essa sensação de produção de justiça é algo que a gente desenvolve. Um novo olhar sobre a vítima e a participação dela”, relata, ao contar de um dos casos mais marcantes em que atuou, de um usuários de drogas morto a facadas por traficantes e a conexão que estabeleceu com a mãe da vítima. “Eu sou muito grata por aquilo que minha profissão me permite, é um ganho pessoal e profissional."

Sobre o futuro do Ministério Público, a promotora alega que é um processo longo e que aborda mais de um ângulo: "Quando a gente fala sobre diversidade, a gente não pode falar só sobre mulheres, a gente tem que falar de gênero e de raça, e falar dessa colcha de retalhos que é a realidade".

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