LUTO

Morre Francisco Dornelles, presidente de honra do Progressistas e ex-governador do RJ

Político morreu no Rio de Janeiro, aos 88 anos

Presidente de honra do Progressistas, Dornelles morreu nesta quarta-feira, aos 88 anos -  (crédito: Reprodução/Progressistas)
Presidente de honra do Progressistas, Dornelles morreu nesta quarta-feira, aos 88 anos - (crédito: Reprodução/Progressistas)
Ingrid Soares
postado em 23/08/2023 15:48 / atualizado em 24/08/2023 14:25

Morreu nesta quarta-feira (23/8), aos 88 anos, o presidente de honra do Progressistas Francisco Oswaldo Neves Dornelles. A informação foi confirmada pelo secretário de saúde do Rio de Janeiro, dr. Luizinho (PP-RJ).

Ele nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, em 1935, e fazia parte de uma família com ampla vocação política. Era parente de três ex-presidentes da República. Por parte de pai, era primo de segundo grau do ex-presidente Getúlio Vargas. Pela da mãe, sobrinho dos ex-presidentes Tancredo Neves e Castelo Branco, além de ter como tio Ernesto Dornelles, que já foi senador e governador do Rio Grande do Sul.

Francisco Dornelles foi secretário da Receita Federal no governo João Figueiredo, ministro da Fazenda durante o governo Sarney e, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, ocupou a pasta da Indústria, Comércio e Turismo. Já no segundo mandato de FHC, ficou à frente do Ministério do Trabalho e do Emprego. Foi eleito deputado Federal e senador da República pelo estado do Rio de Janeiro e fez parte da Assembleia Nacional Constituinte, ajudando a aprovar a Constituição Federal de 1988.

Em nota de pesar, o Progressistas o caracterizou como um "grande homem público, defensor da democracia e do diálogo" que deixa "um imenso vazio na política brasileira".

"O Progressistas está em luto. Com profunda dor e tristeza, informamos o falecimento do nosso presidente de honra, Francisco Dornelles. Grande homem público, defensor da democracia e do diálogo em todos os momentos, nos deixa um legado de ética, responsabilidade, humildade e dedicação ao Brasil. Com um imenso vazio na política brasileira e no coração de cada filiado, o Progressistas apresenta sentidas condolências à família. Francisco Dornelles, que tanto nos ensinou com suas ações registradas em uma honrada e ilibada biografia, por seus incansáveis serviços ao país e ao Rio de Janeiro, passa hoje da vida à imortalidade. Deus o acompanhe, eterno presidente!", escreveu.

O líder do Progressistas na Câmara dos Deputados, André Fufuca (PP-MA), lamentou a morte de Dornelles o qual apontou como "exemplo de homem público".

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante relembrou a trajetória política de Dornelles. 

"Fomos parlamentares na Câmara e no Senado por algumas legislaturas e sou testemunha da participação destacada de Dornelles na formulação de políticas públicas relevantes. Apesar das divergências, sempre mantivemos uma relação cordial, republicana e respeitosa. Neste momento de dor, manifesto minha solidariedade para todos os amigos, familiares e correligionários de Dornelles", apontou, por meio de nota.

ARTIGO

Dornelles, o poderoso sem pompa

Paulo Fona*

Recentemente li o livro Francisco Dornelles - O Poder sem Pompa, um depoimento dado por ele à jornalista Cecília Costa. Uma biografia sucinta de um dos nomes mais laureados na vida política brasileira das últimas seis décadas e uma fonte permanente de histórias da vida nacional, que ele viveu de maneira privilegiada, sempre ao lado dos poderosos e sem nenhuma pompa.

Ex-governador do Rio de Janeiro, ex-senador da República, ex-deputado federal por cinco legislaturas, ex-ministro por três vezes, Dornelles tem um invejável currículo na vida política nacional, que poucos podem ostentar. Trabalhou com os presidentes Figueiredo, Tancredo, Sarney e Fernando Henrique nos ministérios da Fazenda, da Indústria e Comércio e do Trabalho.

Primo em segundo grau do ex-presidente Getúlio Dornelles Vargas, sobrinho do governador gaúcho Ernesto Dornelles, sobrinho do presidente não empossado Tancredo Neves, Francisco Oswaldo Neves Dornelles já nasceu carregando a história do país no nome. E, junto, a vocação irresistível para a política e o refinado gosto de viver o Poder com classe, sutileza, discrição. E de gostar de conviver com quem definia os rumos do país - da década de 60 do século passado aos primeiros anos da década de 20 do atual século. Um currículo invejável.

Francisco Oswaldo Neves Dornelles, conhecido no poder apenas como Dornelles, começou sua trajetória como secretário particular do então primeiro-ministro Tancredo Neves, no breve regime parlamentarista de 61/63. Nessa época, aprendeu uma lição do tio: não importa o cargo que você ocupe e sim onde você está e com quem está e o que faz.

Ouvi dele uma saborosa história dessa época: assessor do gabinete do primeiro-ministro, Dornelles o acompanhava regularmente, registrava pedidos e reuniões do tio. Um dia soube que um político mineiro exibia um cartão com a função que ele exercia. Foi reclamar com Tancredo e ouviu dele que “se era ele quem convivia com o primeiro-ministro, se era ele quem o acompanhava dia e noite, porque se preocupar com o outro e seu falso cartão funcional?”

Dornelles carregou a lição pelo resto da vida e a convivência com o Poder lhe renderam outras histórias como a cena, contada no livro biográfico, viu o ex-ministro Sergio Motta, o poderoso do governo FHC, fingir um telefonema para Belém para agradar ao deputado federal paraense Gerson Peres.

Vendo que o parlamentar acreditara no falso telefonema, Dornelles cochichou com o então poderoso “Serjão” que precisava resolver os pedidos para o governo não perder um voto. E resolveu porque dias depois o deputado federal foi ao gabinete do ministro Dornelles para lhe dizer que não o apoiava, nem a FHC e sim somente o ministro das Comunicações!

Dornelles, inclusive, quase perdeu o cargo de ministro no governo FHC porque, divergindo do PFL, apoiou a vitoriosa candidatura do sobrinho Aécio Neves à presidência da Câmara dos Deputados. Vitorioso Aécio, não perdeu o cargo apesar de ter sido avisado pelo partido que FHC o tiraria do ministério. “Felizmente Fernando Henrique Cardoso se esqueceu de me demitir e o PFL não insistiu muito em me demitir”, conta no relato à jornalista Cecília Costa.

Nessa eleição do sobrinho à presidência da Câmara ele discretamente me ligava quase diariamente quando eu era editor do Informe JB, para passar informações e análises sobre a eleição no parlamento. Uma vez, liguei para o candidato Aécio Neves, que não respondeu. Mais tarde, Dornelles me perguntou como estavam a coisas e lhe disse que precisava falar com o deputado mineiro. Não demorou cinco minutos e Aécio Neves ligou para conversamos.

Esse era Dornelles, um homem discreto, simples, eficiente e que ajudava quem lhe pedia apoio. Um poderoso sem pompa!

*Paulo Fona é jornalista.

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