São Tomé e Príncipe

'África tem tudo para se tornar potência agrícola', diz Lula na CPLP

Em discurso focado na juventude, o presidente falou sobre educação, sustentabilidade, fome e futuro do trabalho

O presidente Lula participou da Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e posou para foto ao lado de líderes do grupo -  (crédito: Ricardo Stuckert /PR)
O presidente Lula participou da Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e posou para foto ao lado de líderes do grupo - (crédito: Ricardo Stuckert /PR)
Ingrid Soares
postado em 27/08/2023 13:05 / atualizado em 27/08/2023 14:42

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou neste domingo (27/8), em São Tomé, da XIV Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Em discurso, o chefe do Executivo falou sobre educação, sustentabilidade, fome e futuro do trabalho.

"As novas gerações vivem com as incertezas de um mercado de trabalho que se transforma. As novas tecnologias são uma conquista extraordinária da inteligência humana, mas com elas o desemprego e a precarização alcançam novos patamares. O uso irresponsável das redes sociais, com a propagação de fake news e discursos de ódio, ameaça a democracia. O culto ao individualismo leva à descrença de muitos jovens na ação coletiva", apontou.

Lula disse que a maioria dos países da CPLP possui uma população jovem. "Para que eles tenham esperanças de um futuro melhor, a sustentabilidade tem de ser promovida, desde agora, nas suas três dimensões: a social, a econômica e a ambiental. Sem alimentação adequada não há perspectiva de uma vida digna".

"Na CPLP, podemos nos orgulhar do nosso trabalho conjunto na promoção da segurança alimentar e nutricional. Nossa cooperação em prol da agricultura familiar e do reforço dos programas de alimentação escolar são exemplos a serem multiplicados", emendou.

O petista afirmou ainda que "a África tem tudo para se tornar uma potência agrícola, com capacidade para alimentar seu povo e o mundo", que o "Brasil continuará a ser parceiro nessa empreitada" e que deve reeditar o Programa Mais Alimentos, relançado em junho passado, que permite que pequenos produtores possam ter acesso a financiamento para compra de tratores e implementos agrícolas.

"Assim como no passado, uma versão do Mais Alimentos para a África deve ser retomada como mais uma vertente da cooperação Sul-Sul brasileira", pontuou.

Ele ressaltou que mais de 1.700 estudantes dos países lusófonos concluíram estudos de graduação no Brasil nos últimos 20 anos.

Lula citou também que em setembro deve ir aos EUA para participar da abertura da Assembleia Geral da ONU, onde deverá tratar sobre iniciativas por "trabalho decente".

"Com as mudanças no mundo do trabalho, vivemos o desafio de dinamizar nossas economias garantindo trabalho digno, salário justo e proteção aos trabalhadores e trabalhadoras. Esse é o espírito da iniciativa em defesa do trabalho decente que lançarei com o presidente Biden, à margem da próxima Assembleia Geral da ONU".

Citando a Cúpula da Amazônia, realizada no início do mês, em Belém, no Pará, disse que o enfrentamento à mudança do clima é um dos principais eixos da política externa brasileira.

O chefe do Executivo reiterou que a CPLP é "uma grande fraternidade unida pelo idioma e pela busca de soluções sustentáveis e pacíficas em um tempo de grandes incertezas" e destacou que os países da CPLP reúnem quase 300 milhões de consumidores, espalhados por quatro continentes e com um PIB de US$ 2,3 trilhões.

Sobre o acordo de mobilidade aprovado durante a presidência angolana entre os cidadãos dos países-membros, para facilitar a concessão de visto e autorizações de residência e também a circulação de pessoas nos territórios, Lula apontou que para efetivar a implementação da medida, o Brasil vai regulamentar a emissão de vistos para a comunidade acadêmica, científica, cultural e empresarial. 

No evento deste ano, a presidência temporária da CPLP passou de Angola para São Tomé e Príncipe, para o biênio 2023-2025. Foram assinados dois atos bilaterais como o acordo de cooperação e facilitação de investimentos entre a República Federativa do Brasil e a República Democrática de São Tomé e Príncipe e o memorando de entendimento entre o Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil e o Ministério dos Negócios Estrangeiros, cooperação e comunidades da República Democrática de São Tomé e Príncipe. 

Com o tema "Juventude e Sustentabilidade", ambos os países mantêm diversos programas de cooperação técnica nas áreas de educação, saúde, informatização do governo local, agricultura, alfabetização de adultos, defesa, infraestrutura urbana, polícia, previdência social, recursos hídricos e prevenção e controle do HIV/Aids.

Para especialistas ouvidos pelo Correio, o giro africano de Lula reforça o esforço do Brasil em se tornar um protagonista do cenário global, em especial na comunidade da língua portuguesa — condição negligenciada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, as frequentes viagens têm dois objetivos: fazer um contraponto em relação ao antecessor e reconstruir a imagem do presidente como um interlocutor de projeção mundial, e não somente regional.

Integrada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Portugal e Timor-Leste, a Comunidade foi criada em 17 de julho de 1996, na Cimeira Constitutiva de Lisboa. A língua comum é o alicerce da Comunidade, formada por Estados membros que também compartilham laços históricos, étnicos e culturais.

 

Na chegada a São Tomé, Lula estava acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, e foi recebido pelo presidente Carlos Vila Nova, e pela primeira-dama do país africano. Por ocasião de seu aniversário, Janja foi homenageada ao som de "Parabéns pra você". 

A visita de Lula a São Tomé e Príncipe marca o fim de uma semana inteira na qual teve compromissos oficiais no continente africano onde participou do Brics e visitou a Angola. O presidente retorna hoje para Brasília. A expectativa é de que bata o martelo ainda esta semana a respeito da reforma ministerial para abrigar o centrão em sua gestão.


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