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O dilema do PP: é base ou não? Entenda a dúvida do partido

Apesar de a cúpula aprovar um conjunto de diretrizes que põe a legenda na oposição ao governo, bancada na Câmara se reúne com o ministro Alexandre Padilha para fechar estratégias de aprovação dos temas de interesse do Palácio

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Ciro garante que "água e óleo" não se misturam - (crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
postado em 21/09/2023 03:55

O PP vive um dilema: não sabe se é governo ou se é oposição. Naquilo que depender do senador Ciro Nogueira (PI), atuará contrariamente aos interesses do Palácio do Planalto no Congresso. Mas, se prevalecer o que foi acertado entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha — com a bênção de Luiz Inácio Lula da Silva —, o governo verá as propostas que considera importantes serem aprovadas com alguma facilidade.

Ontem, ficou claro que o racha no PP é profundo. Depois de a Executiva Nacional do partido aprovar um conjunto de diretrizes que põem a agremiação na oposição, os deputados da legenda Câmara se reuniram com Padilha para discutir as prioridades do governo. O encontro ocorreu a convite do próprio líder da bancada, Dr. Luizinho (RJ), que assumiu o lugar do agora ministro dos Esportes, André Fufuca — também presente. Para o ministro, apesar da divisão, o PP entregará os votos necessários.

Na noite de terça, o PP aprovou um documento com 11 "valores pétreos" que devem ser seguidos por todos os filiados, "independentemente de acordos locais ou apoio ao governo federal ou a governos estaduais" — segundo a legenda. As posições são, em grande parte, contrárias ao que defende do governo Lula: contra descriminalização das drogas, volta do imposto sindical e invasões de terras; e a favor das privatizações.

"Valores pétreos"

Na manhã de ontem, Ciro defendeu que os "valores pétreos" representam a "essência" do PP. "Água e óleo não se misturam! Em nossas convicções centrais, fecharemos até questão. Seremos uma só voz", escreveu em sua conta no X (antigo Twitter). Ao lado de Ciro estão parlamentares ligados ao bolsonarismo e aos ruralistas, como a senadora Tereza Cristina (MS), ex-ministra da Agricultura do governo anterior, e o deputado Covatti Filho (RS).

Mas apesar de Ciro dizer que o PP tem "uma só voz", a história é outra na Câmara, área de influência de Lira. Não demorou nem um dia para Padilha ser convidado por Dr. Luizinho para uma reunião, ato visto como resposta aos "valores pétreos".

Embora haja deputados que defendam a oposição a Lula, a leitura da bancada é que a maioria está com o governo. Basta ver votações como a da medida provisória que reestruturou a Esplanada. O PP deu 34 votos favoráveis, apenas um a menos do que União Brasil e MDB, que já tinham três ministérios cada.

Ao comentar a reunião com o PP, Padilha destacou o histórico de cooperação do partido. "Acreditamos que com a colaboração que a bancada do PP deu nos últimos seis meses — aprovando o marco fiscal, reforma tributária, a criação dos programas sociais e contribuindo para salvar a democracia e rechaçando os golpistas do 8 de janeiro —, essa colaboração será ainda maior a partir do momento que o líder da bancada na Câmara assume um ministério", frisou Padilha.

Para o ministro, as afirmações de Lira, de Fufuca, além do convite para se reunir com a bancada, são provas da presença do PP na base governista. Entre as prioridades do Planalto levadas aos deputados, são destaque duas medidas para baratear o acesso ao crédito: o marco legal das garantias e a criação das debêntures de infraestrutura. Participaram do encontro com Padilha, entre outros, os deputados Claudio Cajado (BA) — relator do arcabouço fiscal na Câmara —, José Nelto (GO) e Mário Negromonte (BA).

 

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