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Lula cede, Rita sai e Lira fatura a Caixa Econômica; entenda

Presidente da Câmara emplaca apadrinhado para garantir a tramitação de projetos que visam aumentar a arrecadação. Mas fontes ligadas ao deputado asseguram que ele pretende ocupar ainda mais espaços no Executivo

Lula depende da vontade de Lira para votar matérias de interesse do Palácio. Mas deputado parece querer mais -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
Lula depende da vontade de Lira para votar matérias de interesse do Palácio. Mas deputado parece querer mais - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
postado em 26/10/2023 03:55

Depois de várias semanas de fritura e especulações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), finalmente, cedeu às pressões do Centrão. Demitiu Rita Serrano da presidência da Caixa Econômica Federal (CEF) para entregar o cargo a um apadrinhado do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Assume o servidor Carlos Vieira Fernandes.

O comando da Caixa era uma das exigências de Lira para fazer parte, definitivamente, do governo. Também é o preço para destravar pautas importantes do Palácio do Planalto no Congresso, como o projeto de lei das offshores e a reforma tributária.

Contudo, segundo fontes próximas ao presidente da Câmara, o avanço sobre cargos de peso no governo está apenas começando. Ele pretende, pelo menos, dois ministérios importantes, como o da Saúde e o da Agricultura: no primeiro, está a pesquisadora Nísia Trindade, cuja presença Lula assegurou que não abre mão; no segundo, o senador licenciado por Mato Grosso Carlos Fávaro — Lira pretenderia ocupar a função depois que deixar o comando da Câmara. Na lista de desejos do deputado, há, ainda, o controle de outro banco público.

Com a troca na Caixa, uma parte do acordo do Palácio do Planalto com Lira foi honrado ontem à noite: votou-se e aprovou-se a taxação dos fundos offshores (no exterior) e dos fundos exclusivos (fechados). A matéria, agora, segue para análise no Senado. (Leia mais na página 7)

A saída de Rita reduz, ainda mais, a presença feminina no primeiro escalão do governo Lula. Antes da Caixa, outros dois ministérios com mulheres à frente sofreram alterações para acomodar apadrinhados do Centrão: em julho, a ex-ministra do turismo Daniela Carneiro (União-RJ) foi substituída por Celso Sabino (União-PA); semanas depois, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser deu lugar ao deputado federal André Fufuca (PP-MA) — correligionário de Lira.

Há meses Rita vem sendo fritada. Em julho, ela admitiu que estava "desconfortável" com a situação de ter que trabalhar apesar da certeza de que estava com os dias contados no cargo. Na época, reconheceu que a disputa fazia "parte da democracia", mas que a insegurança a desgastava.

Exposição

A decisão de rifá-la, porém, pode ter sido precipitada por uma exposição que a Caixa pretendia exibir até 17 de dezembro — e foi cancelada. O evento, intitulado O Grito!, montado na galeria principal do espaço Caixa Cultural, apresentava duas obras que causaram incômodo no Planalto e no Congresso: uma, trazia o ex-presidente Jair Bolsonaro defecando sobre a bandeira do Brasil; outra, tinha uma montagem com fotos de Lira, da senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e do ex-ministro da Economia Paulo Guedes dentro de uma lata de lixo, coberta pela bandeira do Brasil. Bolsonaristas e Centrão teriam pressionado para que a exibição fosse suspensa.

De acordo com o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, a mudança na Caixa era mais do que previsível. Marca o enfraquecimento do quadro feminino no governo.

"Além de ceder, o governo vai ter uma mulher a menos em postos relevantes. Mas esse critério não é prioritário para o Centrão. Faz parte de um acordo em que o presidente cedeu e o ônus pela indicação será de Lira e dos seus companheiros do Centrão", afirmou.

Raquel Alves, analista política da BMJ Consultores Associados, lembrou que, apesar do recuo de Lula em favor do presidente da Câmara, a demissão de Rita não afasta a necessidade de construir um ambiente para que as votações sejam tranquilas. "Sem empenho de Lira, qualquer sonho de votar a reforma tributária, ainda em 2023, vai para o espaço", advertiu.

A troca de comando da Caixa, segundo o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, é mais uma evidência dos imperativos da governabilidade. "A pauta do governo envolve discussões que são, tradicionalmente, distantes das preferências da maioria da centro-direita. Com isso, o governo faz o esforço de acomodação, mas com um poder de barganha pequeno se comparado ao que era nos primeiros mandatos (de Lula)", avaliou.

*Colaborou Raphael Pati, estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

 

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