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Para Lula, deficit zero não é preciso. Mercado reage mal

Presidente avalia que é mais importante manter obras "prioritárias" e que não tem compromisso com objetivos "irreais". "Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal, a gente vai fazer", assegurou

No café com jornalistas, no dia em que fez 78 anos, Lula deu um susto no mercado ao afirmar que não vê necessidade de atingir o deficit zero em 2024 -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
No café com jornalistas, no dia em que fez 78 anos, Lula deu um susto no mercado ao afirmar que não vê necessidade de atingir o deficit zero em 2024 - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
postado em 28/10/2023 03:55

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi enfático ao afirmar, ontem, em um café da manhã que reuniu jornalistas no Palácio do Planalto, que o governo não cortará programas prioritários apenas para atingir a meta fiscal de deficit zero em 2024. Segundo ele, será difícil atingir esse objetivo — estabelecido pela equipe econômica e anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quando da aprovação do Arcabouço Fiscal no Congresso. Lula criticou o mercado, que cobra metas "irreais" para o fechamento das contas públicas.

"Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal, a gente vai fazer. O que posso dizer é que ela não precisa ser zero, o país não precisa disso. Não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue começar o ano fazendo cortes de bilhões nas obras que são prioritárias para o país", assegurou o presidente, que completou 78 anos também ontem.

Lula ressaltou que a prioridade do governo federal é a manutenção dos investimentos. "Acho que, muitas vezes, o mercado é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que sabe que não vai ser cumprida. Sei da vontade do Haddad e da minha disposição. Posso dizer que, dificilmente, chegaremos à meta zero, até porque não quero cortes em investimentos de obras. Se o Brasil tiver um deficit de 0,5%, de 0,25%, o que é? Nada, absolutamente nada. Então, vamos tomar a decisão correta e fazer aquilo que é melhor para o Brasil", frisou, reconhecendo, porém, que a meta fiscal para o próximo ano é importante.

Segundo o presidente, 2024 será "um ano difícil" para a economia brasileira em função da queda nos investimentos da China e na taxa de juros dos Estados Unidos. Ele defendeu que se faça check-ups periódicos na economia para que se tomem medidas preventivas a fim de que o país não sofra com as turbulências internacionais.

"Não adianta dizer que o juro americano está ruim. Quero saber do Brasil, temos que ser criativos aqui. Temos consciência do que está acontecendo na economia mundial, então temos que atuar agora para evitar que essa doença fique sem cura. É como a gente faz: um check-upezinho todo ano, a cada dois anos, para evitar ser pego de surpresa. É importante que a gente atue com antecedência, para poder trabalhar e fazer as coisas melhorarem", observou.

Para Lula, a economia brasileira pode crescer até mais de 3% neste ano e apontou que, com "criatividade" na gestão dos juros, o país conseguirá enfrentar o cenário que se anuncia complicado do próximo período. "Começou o ano com todo mundo dizendo: 'o Brasil não vai crescer nem 1%'. O Brasil pode crescer 3% esse ano e, se tudo ajudar, pode até, quem sabe, escorregar para 3% e alguma coisinha", previu.

Recepção negativa

Mas a declaração do presidente sobre não alcançar a meta fiscal foi mal digerida pelo mercado. O Ibovespa teve uma queda de 1,20%, a 113.301 pontos. Além disso, houve uma pressão de alta no valor do dólar, que ultrapassou os R$ 5,01 — a cotação deu um salto de 0,46% no dia.

Apesar de o Arcabouço Fiscal, sancionado em agosto, contemplar uma margem de tolerância de 0,25 ponto porcentual do Produto Interno Bruto (PIB) para saldo positivo ou negativo, o comentário de Lula foi interpretado com desconfiança pelos analistas — que voltaram a ter dúvidas em relação ao compromisso do governo com a agenda econômica.

As declarações de Lula também foram alvo de críticas dos congressistas. Uma das reações mais duras foi do relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), deputado Danilo Forte (União-CE). "Trata-se de uma fala 'brochante' para a pauta econômica, que sofre resistências no Legislativo", lamentou o parlamentar, que vem atrasando a apresentação do parecer para aguardar a aprovação dos projetos que permitirão ao governo federal aumentar a arrecadação em 2024.

"O próprio atraso na votação da LDO ocorreu para dar a oportunidade ao governo de realizar o convencimento acerca das propostas da equipe econômica", acrescentou Forte, segundo quem as críticas de Lula "constrangeram" o ministro Fernando Haddad.


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