Ditadura

Orientação de Lula contra atos críticos ao golpe de 1964 é alvo de reprovação

A decisão do presidente em inibir manifestações contra a ditadura é lamentada por familiares e vitimas do regime, historiadores e militantes dos direitos humanos

João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart -  (crédito: Evandro Éboli)
João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart - (crédito: Evandro Éboli)
postado em 11/03/2024 06:02

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em vetar atos críticos à ditadura militar, que completa 60 anos no próximo dia 31, foi reprovado por familiares e vítimas do regime, historiadores, estudiosos do período e também de militantes e entidades de direitos humanos. Apesar da orientação do petista a seu governo, de que não seja feito estardalhaço na data com ataques às Forças Armadas, esses segmentos decidiram manter as manifestações contrárias ao golpe.

João Vicente Goulart, filho do presidente João Goulart, deposto pelos militares em 1964, informou que está mantida a série de programações previstas. Sua família irá participar da "Marcha da Democracia", que irá fazer o caminho reverso, agora do Rio de Janeiro para Juiz de Fora (MG), de onde as tropas militares partiram para derrubar Jango do poder. João criticou a ação do governo para inibir a lembrança crítica aos 60 anos.

"E depois dizem que o Jango quem era o conciliador. Foi o presidente que caiu de pé e não voltou ao Brasil, do exílio. Depois de 60 anos, vemos que a conciliação parece que veio por vacina. Não vamos deixar de nos manifestar. Não é questão de remoer, como disse o Lula, mas não vamos nos ajoelhar", disse João Vicente, que classificou a ação de Lula perante os militares de "condescendente".

Na opinião do historiador Lucas Pedretti, a iniciativa de Lula em proibir manifestações no governo contrárias à ditadura em contrapartida ao Comando do Exército não divulgar a "Ordem do Dia", nota oficial sobre a data, é inaceitável.

"A ideia de que proibir atos de repúdio aos 60 anos do golpe é uma contrapartida legítima à proibição da Ordem do Dia nos quartéis é um escárnio. Uma submissão covarde aos militares. Uma omissão histórica que não será esquecida. Imperdoável. Erro histórico. Covardia inexplicável", afirmou Pedretti, autor do livro "A transição inacabada — violência de Estado e direitos humanos na redemocratização", a ser lançado em breve.

O líder sindical João Carlos Juruna, secretário-geral da Força Sindical, também se manifestou em desaprovação à medida do governo.

"Pregar o esquecimento é um desrespeito com quem lutou pela democracia e não produz avanços político e social. No Brasil, é tradição dos governos democráticos buscar justiça e reparação com relação aos abusos da ditadura", postou Juruna.

O professor Thiago Amparo, da Fundação Getulio Vargas e ativista dos direitos humanos, comentou nas suas redes sociais a decisão de Lula. "É um escárnio com as vítimas da ditadura e com a democracia. Por que tanto medo dos militares brasileiros, ao mesmo tempo em que não teme críticas internacionais a militares?", disse.

 

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