DIPLOMACIA

Em visita de Macron ao Brasil, governos deverão firmar mais de 15 atos

Expectativa do governo brasileiro com visita do presidente da França, Emmanuel Macron, ao Brasil, na semana que vem, deverá anunciar aproximação das relações bilaterais, que completarão 200 anos em 2025, além de investimentos e parcerias em diversas áreas, inclusive cultural

Em visita de Macron ao Brasil, governos deverão firmar mais de 15 atos e acordos
 -  (crédito: Rosana Hessel /C.B/D.A.Press)
Em visita de Macron ao Brasil, governos deverão firmar mais de 15 atos e acordos - (crédito: Rosana Hessel /C.B/D.A.Press)
postado em 22/03/2024 13:00

O governo brasileiro tem grande expectativa de avanços nas relações bilaterais entre o Brasil e a França durante a visita de três dias ao Brasil do presidente francês, Emmanuel Macron, na próxima semana. A expectativa do Ministério das Relações Exteriores (MRE) é de que, pelo menos, 15 atos dos mais de 30 que estão sendo negociados entre os dois países sejam assinados pelos dois presidentes no último dia da visita de Estado, em Brasília. Entre eles, está um acordo de financiamento da Agência de Desenvolvimento Francês (AFD, na sigla em francês) com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco da Amazônia (Basa).

Em briefing para a imprensa realizado nesta sexta-feira (22/3), a embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes, secretaria de Europa e América do Norte do MRE, informou que o primeiro acordo que deverá ser anunciado é a renovação do plano de ação de parceria estratégica entre os dois países, chamado de Mapa do Caminho, que orienta as principais ações bilaterais e como implementá-las. “Esse acordo está sendo finalizado até o dia da visita”, destacou. Outros temas das conversas entre os dois chefes de Estado deverão constar a presidência do Brasil no G20 – grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento do planeta mais a União Europeia – e das reformas das instituições multilaterais. “Brasil e França têm posições próximas e contamos com o apoio do presidente francês para a candidatura do Brasil ao assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU)”, afirmou.

Outros temas globais, como as guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia e as eleições na Venezuela também devem constar das conversas. “É provável que o presidente Macron tenha interesse de ouvir o Brasil sobre as questões da Venezuela e do Haiti”, afirmou a embaixadora, reforçando o apoio do governo brasileiro à ditadura do país vizinho. “Continuamos acreditando no diálogo e acreditamos que haverá eleições livres e transparentes na Venezuela. Continuamos apostando num final feliz para essa história”, acrescentou a diplomata.

Acordo UE-Mercosul e visita ao Pará


Apesar de o governo francês ter sinalizado que não pretende discutir durante a visita ao Brasil sobre a paralisação das negociações do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, a embaixadora disse que esse assunto deverá ser citado nas conversas entre os dois presidentes.

“As negociações foram suspensas para aguardar as eleições no Parlamento Europeu, que estão em curso. Mas essa negociação é do Mercosul com a Comissão Europeia e não com os países individualmente”, ressaltou. “Os países da UE deram o mandato para a Comissão fazer as negociações e entendemos que é uma pausa e, assim que as novas autoridades do Conselho e do Parlamento forem escolhidas, a negociação continuará”, acrescentou. Ao ser questionada sobre a resistência francesa em relação ao acordo, a diplomata lembrou que “a grande maioria dos países da UE tem interesse em prosseguir com as negociações”. De acordo com a embaixadora, os acordos que serão anunciados serão em várias áreas, como saúde, defesa e cultura.

Macron vem ao país pela primeira vez e sua visita marca a reaproximação dos dois governos e ele tem uma agenda lotada de eventos em Belém, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília. A chegada do presidente francês será em Belém, por volta das 15h30, onde ele será recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pela primeira-dama Rosangela da Silva, a Janja, e do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

Segundo a embaixadora, a primeira reunião dos dois chefes de Estado no país ocorrerá a bordo de um ferry boat a caminho da Ilha do Combu, a cerca de 15 minutos de barco da capital paraense. A ilha é conhecida pela produção de açaí e de cacau. Lá, eles terão um encontro com Izete dos Santos Costa, conhecida como Dona Nena, empreendedora da Filha do Combu, fabricante de chocolates orgânicos que faturou R$ 800 mil em 2022. Na programação também estão incluídas visitas de Macron a comunidades ribeirinhas e indígenas na região, incluindo o cacique Raoni, que esteve na embaixada da França recentemente.

Está previsto um lanche amazônico no Pará, sem peixe de rio devido às várias restrições de Macron que, segundo a embaixadora, gosta de carne vermelha mal passada.

Diante da falta de redes hoteleiras de grande porte em Belém, apesar de a cidade ser escolhida como sede da 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, a COP 30, no ano que vem, Macron não deverá dormir na capital paraense. Ele seguirá para o Rio de Janeiro, embarcando com Lula, na manhã do dia seguinte (quarta-feira 27), no Forte de Copacabana, em um helicóptero em direção a Itaguai (RJ).

Submarino e passeio na Av. Paulista

Lá, haverá a cerimônia de batismo e lançamento do submarino Tonelero, que faz parte do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), parceria entre os dois países firmada em 2008, com orçamento em torno de R$ 40 bilhões. No próximo ano, está previsto o lançamento de outro submarino dessa mesma parceria, o Angostura. Na sequência, Macron segue para São Paulo, onde haverá encontro com empresários na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e, posteriormente, na Universidade de São Paulo (USP), para a inauguração do Instituto Pasteur. Está previsto um encontro de Macron com o ex-jogador Raí e com representantes e beneficiários da Fundação Gol de Letra, que é patrocinada pelo atleta e engenheiro.

À noite, haverá um jantar organizado pela embaixada da França, provavelmente na região da Avenida Paulista, com presença de empresários dos dois países e personalidades brasileiras, como o cantor Chico Buarque. Após o evento, Macron pretende caminhar pela Paulista até o hotel onde estará hospedado. Essa parte da agenda provocou reações de espanto por conta do aumento da violência e da presença de mendigos nas proximidades do Museu de Arte de São Paulo (Masp), que também está na possível lista de visitas do presidente francês.

Na quinta-feira (28/3), em Brasília, haverá a visita oficial de Estado de Macron ao presidente Lula e aos presidentes dos demais Poderes, como é a praxe desse tipo de visita. Primeiramente, haverá encontro dos dois presidentes no Palácio do Planalto, com cerimônia de assinatura de atos. Na sequência, haverá o almoço em homenagem ao mandatário francês no Palácio do Itamaraty com presença de autoridades e empresários convidados pela chancelaria brasileira.

“No Palácio do Planalto haverá a tradicional reunião bilateral com temas mais políticos e a ênfase serão temas regionais e globais, com agendas em segmentos recíprocos, como cooperação fronteiriça e sobre questões culturais”, destacou Maria Luisa de Moraes. Ela lembrou que, em razão dos 200 anos das relações diplomáticas que serão comemorados no ano que vem, haverá conversas sobre os preparativos das atividades que deverão ocorrer tanto na França quanto no Brasil em “diversos âmbitos de cooperação cultural, educacional e acadêmica”.

De acordo com informações do Itamaraty, as relações franco-brasileiras apoiam-se em firmes laços históricos. A França foi o primeiro país europeu a reconhecer a independência brasileira, em 1825, estabelecendo importantes vínculos políticos, culturais e econômicos com o Brasil. O Presidente Lula realizou visita à França em junho de 2023, por ocasião da Cúpula por um Novo Pacto de Financiamento Global.

A França ocupa a posição de 3º maior investidor no Brasil, pelo critério de controlador final, com cerca de US$ 38 bilhões investidos, de acordo com dados do Banco Central. Em 2023, a corrente de comércio bilateral alcançou US$ 8,4 bilhões, com US$ 2,9 bilhões de exportações brasileiras.

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