Nas Entrelinhas

Análise: Cármen Lúcia comandará as eleições da inteligência artificial

Uma das maiores dificuldades da Justiça Eleitoral em eleições municipais e proporcionais é julgar em tempo hábil os casos que chegam aos tribunais

Cerimônia de posse da ministra Cármen Lúcia como presidente do TSE  -  (crédito:  Luiz Roberto/Secom/TSE)
Cerimônia de posse da ministra Cármen Lúcia como presidente do TSE - (crédito: Luiz Roberto/Secom/TSE)

A ministra Cármen Lúcia, do STF, assumiu a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o desafio de comandar eleições municipais que serão um laboratório para o uso político da inteligência artificial (IA) pelos candidatos. A ministra já comandou a Corte, nas eleições municipais de 2012, mas nem de longe as situações são semelhantes: àquela época, não havia a polarização política que existe hoje, embora já houvesse uma insatisfação difusa na sociedade, nem as redes sociais e as fakes news tinham o peso que têm hoje na formação de opinião dos eleitores.

Cármen Lúcia substitui Alexandre de Moraes, que deixa a função. A saída do ministro, que teve um papel proeminente na garantia das urnas eletrônicas e ainda tem no inquérito das fake news e da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro, no STF. De certa forma, a posse de Cármen Lúcia tira o TSE do epicentro da radicalização política e cria um ambiente de "conciliação", dentro das regras do jogo, ou seja, com respeito ao código eleitoral e à urna eletrônica. O perfil suave da ministra não significa que ela não tenha condições de conduzir com firmeza o processo eleitoral. Muito pelo contrário, Cármen Lúcia é conhecida por atitudes claras e afirmativas.

Nas campanhas eleitorais, os juízes eleitorais são os que têm o papel de agir de imediato, em caso de transgressão das regras eleitorais, sempre que provocados pelos candidatos e seus partidos. Entretanto, essas ações são reativas e nem sempre são capazes de neutralizar o impacto do crime eleitoral na eleição, o que permite que candidatos ganhem o pleito, utilizando recursos que alteram a paridade de armas na campanha, e tomem posse. A cassação dos mandatos, depois, embora justa, sempre é um trauma político irreparável.

Em outubro, serão eleitos ou reeleitos prefeitos e vereadores nos mais de 5,5 mil municípios do país. Um dos maiores desafios do pleito deste ano será o combate à desinformação e ao uso da inteligência artificial para produzir e espalhar fake news, ou seja, conteúdos manipulados e mentirosos, com o propósito de prejudicar candidatos adversários. Em campanhas eleitorais, marqueteiros utilizam as técnicas e os recursos digitais disponíveis no mercado; a Justiça Eleitoral não está preparada para lidar com essa situação com capacidade de pronta resposta.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), compareceram à posse de Cármen Lúcia, nesta segunda-feira à noite. Na mesma ocasião, o ministro Nunes Marques foi empossado vice-presidente da Casa. A eleição de ambos para os cargos ocorreu em 7 de maio, durante sessão plenária do TSE, dentro do rito normal de sucessão no comando das Cortes, cuja praxe é seguir a ordem de antiguidade.

Natural de Montes Claros (MG), a nova presidente do TSE se formou em direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG) e fez mestrado em direito constitucional pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Cármen Lúcia foi professora titular de direito constitucional da PUC-MG, advogada militante e procuradora do estado. Integra o Supremo Tribunal Federal (STF) há 18 anos. Além de já ter presidido o tribunal, foi diretora da Escola Judiciária Eleitoral (EJE/TSE). Em 2020, retornou à Corte Eleitoral como ministra substituta. Em 2022, foi empossada integrante efetiva do colegiado e, no início de 2023, assumiu a vice-presidência do TSE, atuando ao lado de Alexandre de Moraes.

Nunes Marques

O ministro Kassio Nunes Marques é natural de Teresina (PI), bacharel em direito pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), mestre em direito pela Universidade Autônoma de Lisboa, em Portugal, bem como doutor e pós-doutor pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Atuou como advogado e foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral piauiense entre 2008 e 2011. Também foi desembargador e vice-presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, sediado em Brasília. Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Nunes Marques é ministro do STF desde 2020. Foi eleito para o TSE em 2021, quando assumiu a cadeira de ministro substituto. Em 2023, passou a ser integrante efetivo.

O TSE tem suas competências, atribuições e composição definidas na Constituição Federal de 1988. De sete ministros titulares, três são provenientes do STF, dois vêm do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e dois são juristas advindos da advocacia. O STF e o STJ escolhem os que vão compor a Corte Eleitoral. Já os dois juízes oriundos da classe dos juristas são nomeados pelo presidente da República a partir de duas listas tríplices elaboradas pelo Supremo, contendo os nomes de seis advogados de notável saber jurídico e com idoneidade moral.

 

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postado em 04/06/2024 03:55
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