
Na abertura do Fórum Empresarial dos BRICS, neste sábado (5/7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento, em defesa de um novo modelo de desenvolvimento baseado em justiça social, transição ecológica e soberania tecnológica. Diante de empresários, representantes de governo e lideranças internacionais, Lula destacou que o bloco – que reúne 11 países – tem hoje um papel estratégico no futuro da economia global.
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“Fortalecer o complexo industrial da saúde amplia o acesso a medicamentos e é fundamental para superar doenças socialmente determinadas que afligem os mais vulneráveis”, afirmou Lula, ao defender maior protagonismo dos países do BRICS em áreas sensíveis ao bem-estar social e ao desenvolvimento humano.
Com forte ênfase na inovação, Lula destacou que a revolução tecnológica atravessa todos os setores econômicos e que é preciso criar condições equitativas para que startups e pequenas empresas também possam inovar. Nesse contexto, ele propôs que os países do bloco atuem para construir diretrizes claras e multilaterais sobre o uso da inteligência artificial.
“Na ausência de diretrizes claras coletivamente acordadas, modelos gerados apenas com base na experiência de grandes empresas de tecnologia vão se impor”, alertou. Para ele, os riscos e efeitos colaterais da IA demandam “uma governança global compartilhada”.
Transição verde e potencial mineral
Outro eixo central do discurso foi a transição ecológica. Lula reiterou que a descarbonização das economias é “um processo irreversível” e lembrou que o Brasil apresentou novas metas climáticas (NDCs), com previsão de redução entre 59% e 67% das emissões de gases de efeito estufa. “Estamos comprometidos com uma transição ecológica justa e inclusiva, especialmente às vésperas da COP 30”, disse.
Segundo o presidente, os países do BRICS já estão entre os maiores investidores globais em energia renovável e concentram reservas estratégicas para a transição energética: 84% das terras raras, 66% do manganês e 63% do grafite do mundo. “A demanda por esses minérios vai triplicar até 2040. Queremos ir além da extração dessas riquezas e qualificar nossa participação em toda a cadeia de suprimento”, afirmou Lula, destacando o potencial do Brasil no refino sustentável desses materiais, com energia limpa, marcos regulatórios estáveis e mão de obra qualificada.
Financiamento e integração regional
Lula também ressaltou o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), criado pelos BRICS em 2014. De acordo com ele, o banco já aprovou mais de US$ 40 bilhões em 120 projetos de infraestrutura e energia limpa. “O NDB tem contribuído para reduzir custos de transação ao impulsionar o uso de moedas locais”, observou.
Outro avanço citado foi a criação de um sistema de pagamentos transfronteiriços instantâneos e seguros, em articulação entre os bancos centrais dos países do grupo. O presidente ainda celebrou o desempenho do BNDES, que destinou mais de US$ 50 bilhões desde 2023 para projetos de transformação produtiva sustentável.
O presidente brasileiro também fez questão de parabenizar a Aliança Empresarial de Mulheres pelo incentivo ao empreendedorismo feminino e afirmou que ampliar a presença das mulheres no mercado de trabalho é condição para o crescimento sustentado. “Traz ganhos de produtividade e acelera o desenvolvimento”, afirmou.
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Por fim, Lula associou prosperidade à estabilidade geopolítica. “Não haverá prosperidade em um mundo conflagrado. O fim das guerras e dos conflitos é uma das responsabilidades dos chefes de Estado”, declarou. E concluiu com um apelo por cooperação: “Ao invés de barreiras, promovemos integração. Contra a indiferença, construímos solidariedade”.
A expectativa é que as propostas debatidas no Fórum sejam levadas à Cúpula do BRICS, que tem início neste sábado, e sirvam de base para uma agenda de ação conjunta entre os países-membros.