A deputada federal Talíria Petrone (PSol-RJ), que também é líder da sigla na Câmara dos Deputados, classificou como “homogênerismo, racismo e racismo cultural” os ataques direcionados à ministra Marina Silva durante audiência na Comissão de Agricultura da Câmara nesta terça-feira (2/7).
Em entrevista exclusiva ao Correio, após a sessão, a parlamentar fez duras críticas ao comportamento da oposição, denunciou o que chamou de elitismo estrutural no Congresso Nacional e destacou o incômodo gerado por vozes femininas e populares no Parlamento.
“É mais um episódio de ofensas à ministra aqui no Congresso, um mês depois do que aconteceu no Senado. Não à toa o Congresso está tão desacreditado frente à opinião popular. É um Congresso que defende os bilionários, que trava pautas importantes para os trabalhadores, como o fim da Escala 6x1 e o projeto de Imposto de Renda do presidente Lula, e que quer avançar com o PL da devastação ambiental”, disse a deputada.
A sessão desta terça foi marcada por ataques à ministra Marina Silva. Durante sua fala, ela foi interrompida diversas vezes e enfrentou ironias e deslegitimações — episódios que, segundo Talíria, fazem parte de um padrão de hostilidade direcionado a mulheres e pessoas negras no espaço político.
“É um Congresso composto por homens, em geral homens proprietários, ricos, e que se incomodam quando há mulheres que vêm aqui para defender a maioria do povo brasileiro, como a ministra Marina, que tem feito um trabalho exemplar”, disse a deputada. "Ela é uma mulher preta, amazônida, seringueira, com uma história inquestionável. Isso incomoda", enfatizou.
Além dos ataques à ministra, Talíria também foi alvo de comentários desrespeitosos durante a audiência. O presidente da comissão, deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS), chegou a dizer, dirigindo-se a ela, que “ali não era uma festa de funk” — frase que, segundo a parlamentar, expõe não apenas preconceito de gênero, mas também racismo cultural.
“Mal sabe ele a alegria que é a cultura popular presente num baile funk. Muito mais agradável do que estar aqui ouvindo asneiras negacionistas contra a agenda climática. Esse tipo de fala revela o quanto há uma tentativa de apagar, ridicularizar ou criminalizar a cultura popular, especialmente aquela que vem da juventude negra das periferias”, pontuou a deputada.
Para Talíria, o desconforto de parte dos parlamentares com a presença de mulheres negras em espaços de poder evidencia o abismo entre a composição do Congresso e a diversidade do povo brasileiro. “É uma resistência à democracia real. E a Marina, com toda sua trajetória, é um símbolo disso. Por isso a atacam com tanta ferocidade.”
