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Polícia investiga 3ª morte por bebida falsificada em São Paulo

Outros 10 casos de intoxicação por metanol são acompanhados. Suspeita é de que o PCC esteja por trás das adulterações

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) investiga uma terceira morte, ocorrida no domingo, por suspeita de intoxicação com metanol ao consumir bebida adulterada. Esta é a segunda vítima em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo — a outra morte foi na capital. A polícia, porém, ainda aguarda laudo pericial para confirmar o envenenamento pelo subproduto do álcool. Outros 10 casos são acompanhados por possível contaminação pela mesma substância, segundo o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado de São Paulo.

Os investigadores trabalham com a suspeita de que a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) comandaria uma rede de falsificação de bebidas, que forneceria para os bares em que os casos foram registrados. A primeira morte pelo envenenamento foi em São Paulo, em data não especificada, mas anterior a 18 de setembro, quando ocorreu o segundo óbito, em São Bernardo — um homem de 48 anos que tinha sido socorrido em Itu. O terceiro teria acontecido no domingo. Por meio de nota, a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) suspeita que o metanol usado nas falsificações seja o mesmo importado ilegalmente pela facção para misturar aos combustíveis.

Há um mês, uma operação conjunta da Polícia Federal (PF), da Receita Federal (RFB) e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) contra o crime organizado constatou o uso de combustível adulterado em postos. Os estabelecimentos usavam 90% de metanol, sendo que o máximo de mistura permitido da substância na gasolina e no álcool é de 0,5%.

Cegueira

Os casos de intoxicação por bebida falsificada, porém, vêm sendo registrados desde junho. No início de setembro, Diogo Marques de Sousa, 23 anos, ficou três dias internado no Hospital do Grajaú, na Zona Sul de São Paulo, depois ingerir bebida com adição de metanol. Ele relata que chegou a ter sintomas de cegueira, mas recuperou a visão. "Não estava enxergando assim que acordei. Tudo escuro. E uma dor de cabeça muito forte. Entrei em desespero porque estava sozinho em casa", relatou.

Diogo estava no mesmo grupo do jovem de 27 anos que está em coma desde 1° de setembro, internado no Hospital São Luiz, em Osasco (SP). "Aos poucos, minha vista foi de escura para embaçada. Aproveitei para tomar dipirona, tomei bastante água e comi uma melancia. Estava com muita sede. Sempre tomando água. Fui para o hospital porque soube que o Rafael estava mal. Fiquei três dias internado", disse.

O grupo de amigos de Diogo comprou as bebidas em um local que conheciam, onde a polícia apreendeu garrafas de gim e as encaminhou para perícia — os resultados não foram divulgados. "O gim era de uma marca muito boa, não era barato. Meu amigo gastou cerca de R$ 400", disse Diogo.

Celebração

Em 2 de setembro, a tia de uma das vítimas compareceu à 48ª Delegacia de Polícia, em Cidade Dutra, na Zona Sul da capital, e relatou que o sobrinho fora diagnosticado com intoxicação por metanol. Ela estava acompanhada da mãe de uma jovem de 25 anos, que apresentava os mesmos sintomas.

O consumo teria ocorrido na casa dele, na madrugada de 31 de agosto, logo após o jovem ter adquirido um pacote promocional — de gin, gelo de água de coco e energético — em um estabelecimento no bairro. Cinco pessoas que participavam da confraternização, com idades entre 23 e 27 anos, teriam bebido.

O caso mais grave foi o do homem que ainda está internado — bebeu gim puro, enquanto os demais convidados o diluíram. Ao acordar, reportou fortes dores abdominais, vômitos e, mais tarde, começou a gritar que estava cego. Ele apresentou quadro de consciência rebaixada e precisou receber ventilação mecânica no hospital para respirar. A polícia recolheu duas garrafas de gim na casa dessa vítima e outras 14 garrafas no local em que foram compradas. (Com Agência Estado)

 

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