
Se na CPMI do INSS o governo vem conseguindo equilibrar o jogo, o mesmo não pode ser dito em relação à articulação no Congresso como um todo. Na semana passada, o sinal amarelo voltou a acender por conta de duas pautas — a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 e o veto presidencial à Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Com a ajuda do presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o Palácio do Planalto conseguiu adiar a sessão conjunta de Senado e Câmara que votaria as duas matérias. A nova sessão que reúne os integrantes da duas Casas do Parlamento ainda não tem data para acontecer.
Oficialmente, a justificativa para o adiamento foi atender a um pedido da liderança do governo, na tentativa de ganhar tempo para recompor apoio e reorganizar o cronograma das votações. Mas, entre os parlamentares, o gesto foi interpretado como uma manobra para evitar um novo revés para o Palácio do Planalto. Assim, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ganhou fôlego para negociar pessoalmente com deputados e senadores os ajustes no texto orçamentário.
A LDO, que deveria ter sido votada em julho, foi adiada mais uma vez pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) e deve ser analisada amanhã. Para o relator Efraim Filho (União-PB), o adiamento "é um jogo de perde-perde" e acaba sendo um "prejuízo para o governo, para o Brasil. É ruim para o Congresso e para a agenda como um todo".
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Outro espinho para o governo são os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Lei 15.190/25), que ficou conhecido como "PL da Devastação". A retirada dos 63 trechos do texto aprovado pelo Congresso — entre eles dispositivos que previam dispensa de licenciamento em determinadas atividades e redução de atribuições de órgãos federais — desagradou à bancada ruralista, que, claro, se mobiliza para restabelecer o texto original.
A ordem entre os governistas é segurar a pauta até que haja margem segura para votação. O senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Congresso, reconheceu que "para nós, da bancada do governo, não é simples negociar um veto presidencial. Isso precisa passar por uma conversa direta com o presidente e sua equipe". Para ele, "é muito dificil" avançar no tema antes da COP30.
Para o analista político Rudá Ricci, doutor em Ciências Sociais da Universidade de Campinas (Unicamp), o cenário reflete mais o jogo político tradicional do que uma crise institucional. "Lula está jogando pesado, como sempre jogou o Centrão com os presidentes da República. Isso é política. O que vemos é um xadrez intenso", avalia, ressaltando, porém, que a questão do licenciamento ambiental expõe divisões dentro do próprio governo.
"Há um setor que não aceita as posições da ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima). Existe, também, um jogo interno, de desafetos e reposicionamentos. Não é unanimidade dentro do governo", observa.
