Apresentada pelo neurologista Hector Gonzalez, a definição para tremor que consta no Manual Merck (MSD), que reúne informações de saúde voltadas a profissionais da área e à população em geral, é que "um tremor é um movimento involuntário e ritmado de parte do corpo, nas mãos, cabeça, cordas vocais, tronco ou pernas. Ocorre quando os músculos contraem e relaxam repetidamente", sendo mais comum nas mãos e nos braços do que em outros lugares.
Na dúvida e quando passa a acontecer com frequência e incomoda a vida do paciente — e é de se imaginar esse incômodo —, é imprescindível investigar o problema. É isso que orienta Marcelo Valadares, neurocirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e pesquisador de Neurocirurgia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
E nem todo tremor tem a mesma causa. Eles podem vir por condições do ambiente, mais simples, quando sentimos frio, por exemplo. Mas também por problemas neurodegenerativos, como Parkinson, em que são os sinais mais evidentes, ainda que não sejam os únicos. O corpo trêmulo ainda pode ter a ver com hipertireoidismo, doenças hepáticas (do fígado) ou ser consequência de Acidente Vascular Cerebral (AVC).
O médico explica que um outro tipo, chamado tremor essencial, é comumente confundido com Parkinson. Afeta uma em cada 20 pessoas com mais de 40 anos, e uma em cada cinco com mais de 65. Embora não represente um risco à saúde, pode impedir atividades básicas, como comer ou amarrar os sapatos.
Muitas pessoas reclamam ainda da constante observação por parte dos outros, que questionam o porquê da "tremedeira". No caso do tremor essencial, sabe-se que ele pode chegar ainda na juventude. Estimular o cérebro é uma das indicações para aliviar os sintomas.
O médico neurologista e neuro-oncologista Gabriel Novaes de Rezende Batistella explica que o diagnóstico pode ser dado, na maioria das vezes, dentro do consultório, mas pode ser preciso confirmar ou afastar algumas hipóteses por meio de uma ressonância magnética do crânio.
Doenças associadas
- Doença neurodegenerativa (doença de Parkinson): o tremor é notado quando o paciente está em repouso. Costuma acometer, primeiro, as mãos. Tende a começar de um lado do corpo, afetando o outro depois.
- Tremor essencial: impede atividades básicas do dia a dia. As causas ainda são desconhecidas, mas a desordem pode aparecer na juventude e se agravar com a idade.
- Estresse, medo ou ansiedade
- Medicamentos e outras substâncias
- Outras doenças: pode ser indício de hipotireioidismo, diabetes, esclerose múltipla, doenças hepáticas ou consequência de Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Etapas do diagnóstico
1 - Entender se o tremor ocorre quando o paciente está parado ou em movimento. Se é quando usa o braço para pegar um copo ou escrever... por aí vai.
2 - Existem fatores associados? Rigidez no membro, sinal de fraqueza muscular, dificuldade para andar ou na coordenação motora?
3 - O paciente pode ser orientado a fazer uma ressonância magnética do crânio.
Tratamentos
Dependem do diagnóstico. Podem ser mais brandos, como recorrer a atividades que ajudem na calma e na concentração; ou mais invasivos, por meio de estimulação cerebral profunda, com a implantação de um dispositivo médico cirúrgico, semelhante a um marca-passo cardíaco.
Quando está relacionado ao consumo de substâncias lícitas ou ilícitas, é preciso suspender ou adequar o uso.
No caso do Parkinson
Quanto maior a faixa etária, maior a incidência. A doença de Parkinson é neurológica, crônica e progressiva. As causas ainda são desconhecidas. Além de tremores, o paciente com Parkinson pode apresentar rigidez muscular, redução da quantidade de movimentos, distúrbios da fala e dificuldade para engolir.
Palavra do especialista
Qual é a causa mais comum de tremores no corpo?
Acaba sendo nosso próprio tremor fisiológico, normal ou exacerbado. Praticamente todos nós temos, é só estender as mãos e olhar bem pra elas. Você deve notar alguma oscilação. Após isso, faça bastante força com as mãos estendidas, notará ainda mais. Vários fatores podem aumentar esse tipo de tremor: estresse, ansiedade, consumo exagerado de café, uso de drogas ilícitas e de alguns remédios para asma, por exemplo.
Pessoas mais velhas são mais propensas a tremer? Existe essa relação entre tremores e idade?
Nem sempre. Podemos olhar para os pacientes idosos como pessoas que têm maiores riscos de doenças que geram tremor, como a doença de Parkinson, o acidente vascular cerebral (AVC) em regiões do cérebro que comandam nossos movimentos e mesmo o envelhecimento normal, que pode gerar, sim, algum tremor. Além disso as medicações, frequentes nas rotinas da pessoa idosa, podem ter o tremor como efeito colateral. Ainda assim, se pensarmos nos pacientes jovens, não é infrequente encontrarmos casos de tremor essencial, um tipo de doença de caráter mais genético — geralmente, a pessoa consegue falar que o pai ou outro parente também têm —, que costuma aparecer quando o paciente fica estressado, com medo, ou quando é submetido a uma prova, por exemplo. Pacientes jovens também podem apresentar tremores por doenças genéticas, que são, felizmente, mais raras.
É verdade que até a dieta de uma pessoa com tremores precisa mudar para aliviar os sintomas? Exemplo: reduzir café.
Se a causa do tremor for influenciada pela dieta, sim. Caso não, existe pouca chance de conseguirmos mudar o cenário de tremores do paciente com essas modificações. De toda forma, sempre recomendamos manter uma alimentação saudável, visto que são várias as evidências dos benefícios da dieta mediterrânea e da dieta DASH nesse sentido. Tratamos sempre o paciente que tem a doença, e não a doença que está no paciente.
Como se observa o impacto do tremor na vida de pacientes com o problema?
Esse é um aspecto de extrema importância, pois é o que deveria guiar a terapia. Se a pessoa que tem tremor está bem em casa, mas, quando no trabalho, fica constrangida porque não consegue escrever, precisamos direcionar nossa estratégia para esse contexto. Por isso, o médico deve conhecer muito bem a rotina, a dificuldades, os medos, as vergonhas e os anseios do paciente.
Gabriel Novaes de Rezende Batistella é médico neurologista e neuro-oncologista, membro do corpo diretivo da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA), assistente de Neuro-Oncologia Clínica na Escola Paulista de Medicina da UNIFESP e Neuro-Oncologista do Hcor.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.