MEDICINA

Cânceres ginecológicos representam mais de 40% dos tumores em mulheres

Os cânceres ginecológicos costumam ser de difícil diagnóstico. Por isso, é preciso estar atenta aos sinais que o corpo dá

Luna Veloso*
postado em 28/08/2022 07:20
 (crédito: Reprodução/Instagram)
(crédito: Reprodução/Instagram)

Mais de 40% dos tumores que atingem as mulheres no Brasil são ginecológicos. Apesar de pouco falado, o câncer de ovário vem logo depois do de colo de útero em número de incidência, ocupando o sétimo lugar no ranking de cânceres que mais acometem as pacientes femininas, seguido pelo tumor de endométrio, que está na oitava posição.

O oncologista Fernando Maluf explica que o câncer de ovário atinge mais de 6 mil mulheres por ano no Brasil e é considerado o mais letal dos tumores de origem ginecológica. As taxas de mortalidade passam de 80% quando consideramos a doença em seu estágio mais avançado.

Pela falta de exames preventivos diretamente ligados a ele, o diagnóstico precoce é muito difícil de acontecer — apenas duas a cada 10 mulheres conseguem descobrir a doença em seu estágio inicial. A procura pelo atendimento, normalmente, parte da própria paciente por conta dos sintomas, que também não são precisos, demoram muitas vezes para serem identificados e costumam ser confundidos com diversas outras condições.

Assim surge o nome câncer silencioso. Mesmo com o rápido avanço da doença, os sintomas sussurram e apenas com muita atenção no próprio corpo conseguem ser inicialmente percebidos pela paciente.

Por isso é necessário uma atenção redobrada nos sinais de alerta, acompanhamento frequente com um médico ginecologista, alimentação balanceada e, principalmente, manter-se atualizada as novas informações sobre a doença.

Evento promovido pela farmacêutica GSK compartilhou informações com jornalistas
Evento promovido pela farmacêutica GSK compartilhou informações com jornalistas (foto: divulgação)

O alerta foi dado, em São Paulo, neste mês de agosto, durante evento promovido pela companhia biofarmacêutica GSK sobre cânceres ginecológicos sob a ótica jornalística. Com foco em câncer de ovário e endométrio, o oncologista clínico, fundador do Instituto Vencer o Câncer e presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, Fernando Maluf, e a gerente médica do grupo de oncologia da GSK, Tatiana Pires, explicaram um pouco sobre a condição e as novas formas de tratamento.

Luta diária

Anne Carrari vive há sete anos com câncer de ovário. Por meio de seu perfil do Instagram, criado exclusivamente para passar, para as mulheres, informação de qualidade sobre a doença, a estudante de saúde pública relata sua vivência, dá suporte a outras pacientes e luta pelo fim da estigmatização e das barreiras culturais criadas em cima da condição.

Mesmo depois de passar por três gestações de parto natural e apresentar ótimas taxas em todos os seus exames de rotina, descobriu que "saúde não era ausência de doença" e, em 2015, recebeu o diagnóstico. A suspeita partiu de um inchaço abdominal, taxado como frescura por vários profissionais até chegarem de fato à origem do problema. "Os primeiros meses após o diagnóstico foram muito difíceis. Eu me sentia sozinha, não sabia a quem recorrer, não sabia onde buscar conforto e ajuda."

A ideia de criar o perfil @_sobrevivi_ao_cancer_de_ovario no Instagram veio dessa busca por pessoas que estavam passando pela mesma situação. "Eu queria que elas pudessem me encontrar na hora que pesquisassem isso, assim como eu buscava encontrar alguém sete anos atrás."

Anne Carrari mantém um perfil no Instagram, onde criou uma rede de apoio para compartilhar informações sobre cânceres ginecológicos
Anne Carrari mantém um perfil no Instagram, onde criou uma rede de apoio para compartilhar informações sobre cânceres ginecológicos (foto: Reprodução/Instagram)

Anne compartilha diariamente a caminhada pela ressignificação da vida após se deparar com a sua finitude. Além de administrar o perfil, participa do movimento Todos juntos contra o câncer, é voluntária em Organização Não Governamentais, como a Oncoguia, e ministra lives, palestras, fóruns e campanhas pela causa.

Diagnóstico e tratamento

Todo aumento repentino do volume abdominal, desconforto na região e alteração drástica do hábito intestinal deve ser motivo de suspeita. Depois de identificado os sintomas pela própria paciente, o protocolo é a realização de exames clínicos, seguido por exames de imagem e de sangue. Com a confirmação do diagnóstico nas três etapas, a cirurgia é, muitas vezes, indicada como a primeira opção de tratamento, antes mesmo da biópsia, para agilizar o processo, eliminando o tumor.

Quando a cirurgia não é factível para a situação, ou para o momento, a biópsia é realizada e outros métodos de tratamento são oferecidos para as pacientes. Nos últimos anos, as terapias tiveram avanços significativos — os maiores dos últimos 20 anos, segundo Fernando Maluf.

A oncologista Tatiana Pires, da biofarmacêutica GSK, explica que os estudos PRIMA e NOVA analisam, desde 2016, novos tipos de medicamentos, tanto para pacientes diagnosticadas em primeira linha quanto em pacientes com a doença recorrente — que seriam submetidas a múltiplas sessões de quimioterapia.

Os inibidores de parp — medicamento analisado por esses estudos — são uma nova alternativa de tratamento. De uso oral ou infusional, eles atuam inibindo as enzimas parp, presentes na via de atuação das mutações dos genes BRCA1 e BRCA2, evitando a multiplicação, eliminado as células cancerosas e com menos efeitos colaterais que as quimioterapias tradicionais. Os resultados vêm sendo promissores e trazem esperança na luta pelo tratamento, explica Tatiana.

A GSK lançou nas últimas semanas o Jemperli (dostarlimabe), inibidor indicado para o tratamento do câncer de endométrio. Essa é a segunda terapia para tratamento dessa condição da biofarmacêutica. Em 2021, já havia sido aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o primeiro inibidor da marca, o Zejula (niraparibe), esse para o tratamento do câncer do ovário.

"Nosso portfólio busca oferecer benefícios verdadeiramente transformacionais para as pessoas que vivem com câncer. Estamos fortalecendo o pipeline na ciência relacionada ao sistema imunológico, no uso da genética humana e em tecnologias avançadas. Nosso foco inicial no país são os cânceres ginecológicos", afirmou Deborah Soares, head de Oncologia da GSK Brasil.

Difícil detecção

Mesmo sendo uma condição ginecológica, o câncer de ovário não tem relação com infecções sexualmente transmissíveis e, por isso, não pode ser identificado pelo exame papanicolau, como o câncer de colo de útero, por exemplo. Segundo Fernando Maluf, os reais fatores de risco estão relacionados à predisposição genética, ao histórico reprodutivo e à obesidade.

Esses são fatores que também aumentam a predisposição ao câncer de endométrio, condição que se relaciona à síndrome do ovário policístico e à infertilidade, mas também sem nenhuma correlação com infecções sexualmente transmissíveis.

Os sintomas são mais aparentes, como sangramento vaginal e corrimento vaginal branco ou amarelado (leucorreia) no período pós-menopausa — fase em que a doença se manifesta na maioria das vezes. Com o aparecimento de sintomas, o médico ginecologista precisa ser rapidamente procurado e o tratamento aconselhado continua sendo a cirurgia. Por ser fácil de identificar no diagnóstico precoce, as chances de cura são maiores que 90%.

A Oncoguia, uma das ONGs em que Anne é voluntária, é um portal para pacientes com câncer. "Apoia, informa e defende os pacientes", afirma. Eles oferecem serviços como número de telefone para orientações e suporte dos pacientes, grupos exclusivos no Facebook, rodas de conversa, lives, palestras e campanhas, além de vídeos e textos informativos sobre diversos assuntos da área.

Luciana Holtz, fundadora e presidente do instituto, explicou um pouco sobre a parte exclusiva da ONG para acolhimento e troca de informações de mulheres com cânceres ginecológicos. A importância de dar suporte emocional para essas mulheres está diretamente ligada aos impactos que ultrapassam a esfera da saúde física.

Os efeitos colaterais, como mudanças corporais e perda de cabelo, por exemplo, influenciam na conexão com o feminino e na autoestima dessas pacientes. Além do afastamento da maternidade e todas as outras consequências que atingem diariamente a saúde mental delas.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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