Neurônios em Dia

Enquanto a maioria dorme cerca de 7h, entre 30 e 50 anos esse tempo diminui

Uma pesquisa publicada pela Nature Communications mostra que a duração do sono depende muito da faixa etária

Dr. Ricardo Teixeira*
postado em 02/01/2023 16:32
 (crédito: Reprodução/Freepik/@storyset)
(crédito: Reprodução/Freepik/@storyset)

Há poucos dias o periódico Nature Communications publicou a análise de uma grande amostragem de mais de 700 mil indivíduos em 68 diferentes países em cinco continentes mostrando que as pessoas têm dormido em média sete horas por noite. Países próximos ao Equador dormem um pouco menos e o Brasil ficou bem próximo à média.

Além da enorme abrangência do estudo, o ineditismo dos resultados incluiu a demonstração de três momentos diferentes na idade adulta e diferentes durações do sono, independente do país e nível educacional. Os indivíduos estudados eram maiores de 18 anos e até os 33 anos foi o período em que dormiam mais. A partir dessa idade houve um platô de estabilidade até os 53 anos, após o que os voluntários voltavam a ter incrementos no tempo de sono.


Você acha que seus ancestrais dormiam mais que você?

É bastante tentador imaginar que o mundo contemporâneo, com toda sua eletricidade, aparelhos eletrônicos e cafeína além da conta, tem o hábito de dormir menos que nossos ancestrais. Isso sem falar nos atuais índices de depressão, ansiedade e obesidade que costumam atrapalhar o sono. Podemos encontrar relatos já no fim do século XIX de que as pessoas estavam dormindo menos que os antigos, mas parece que a história é um pouco diferente.

Uma pesquisa publicada no prestigiado periódico Current Biology mostrou que caçadores-coletores de três diferentes partes do mundo dormem até um pouco menos do que os homens de vida moderna. O registro da rotina de sono de comunidades de caçadores-coletores na Namíbia, Tanzânia e Bolívia que vivem sem luz elétrica apontou que eles dormem em média 6.5 horas, menos que a média das sociedades atuais que é de aproximadamente 7 horas.

A pesquisa ainda demonstrou que essas comunidades unplugged não tiram cochilos durante o dia, deitam-se para dormir cerca de três horas após o pôr do sol e acordam antes do sol nascer. Eles também dormem uma hora a menos no verão. Apesar de terem genéticas e viverem em ambientes bem diferentes, os hábitos de sono não foram diferentes entre as comunidades. O padrão de sono descrito na Europa antiga dividido em dois tempos separados por um intervalo em vigília não foi identificado nas comunidades estudadas, sugerindo que esse sono não interrompido deva ser o padrão natural dos nossos ancestrais mais antigos, e que o sono europeu repartido já foi uma adaptação às condições ambientais do continente.

Chamou muita a atenção a quase inexistência de insônia, o que nos faz interrogar se a simulação desses ambientes arcaicos não poderia ser eficaz no tratamento da insônia dos homens de vida moderna.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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