Depois da pandemia de covid-19, é quase impossível não se incomodar com aquela sequência de tosses e espirros que vez outra ocorre no ônibus ou na sala de trabalho. Acontece que, no outono, os desconfortos respiratórios não são novidade. E, no geral, os cuidados incluem repouso e, caso necessário, algum medicamento.
No caso do Vírus Sincicial Respiratório (VSR), a atenção deve ser redobrada, principalmente em crianças de até dois anos, que, em casos mais graves, podem desenvolver bronquiolites e pneumonias. Segundo dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) sobre a situação epidemiológica do VSR de janeiro a março de 2023, no Distrito Federal, dos 82,9% de casos positivos, 70,42% foram de crianças menores de dois anos. Destas, 19% precisaram de UTI.
Pensando nisso, a AstraZeneca Brasil lançou a campanha Prevenção ao VSR — Muito além de um Detalhe e realizou, em maio, o painel Cenário do VSR em Brasília, com a participação dos especialistas Luciana Monte, pediatra e coordenadora da Pneumologia Pediátrica do Hospital da Criança de Brasília; Renato Kfouri, pediatra infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria; e Denise Leão Suguitani, fundadora e diretora executiva da ONG Prematuridades.
A sazonalidade do VSR, relacionada aos meses frios e/ou mais chuvosos, merece destaque devido à sobrecarga no sistema de saúde neste período do ano. No Centro-Oeste, picos de circulação são registrados entre março e julho. Ademais, como o vírus não oferece imunidade duradoura, as reinfecções podem ocorrer anualmente. “Todos serão expostos”, reforça Kfouri.
O especialista ainda reitera que, entre as principais causas de mortes de crianças menores de um ano no mundo, o VSR só perde para a malária. Os óbitos se concentram em países em desenvolvimento e em países pobres. “Muitas vezes, os enfermos sequer têm oportunidade de chegar aos hospitais para receber tratamento”, completa o pediatra.
O prematuro, por ter um sistema imunológico imaturo e não possuir os anticorpos que a mãe transfere no fim da gestação, é certamente um grupo que merece maior atenção. Denise enfatiza que o letramento e a conscientização acerca das medidas de prevenção para as famílias são essenciais. “É preciso intensificar políticas públicas intersetoriais para a atenção primária e a prematuridade”, pontua.
VSR em foco
- O que é o VSR: é um pneumovírus de RNA, que possui duas cepas, A e B, e manifesta-se em surtos anuais com intervalos regulares previsíveis. Vírus Sincicial Respiratório é o principal agente causador de infecções respiratórias inferiores no mundo inteiro. É altamente contagioso.
- Transmissão: os vírus respiratórios, em geral, são transmitidos de forma semelhante — através de gotículas da pessoa contaminada (por tosse e espirro) e por contato (quando alguém toca em superfícies contaminadas).
- Sintomas: inicialmente há febre baixa, dor de garganta, dor de cabeça, perda do apetite e secreção nasal. Após cerca de cinco dias do início dos sintomas, pode haver falta de ar, chiado e secreção no peito e dificuldades para se alimentar. Em casos mais graves, o vírus atinge as vias aéreas inferiores e provoca bronquiolites e pneumonias. Ademais, pode deflagrar quadros crônicos de chiados no peito.
- Diagnóstico: baseia-se nos sintomas e na sua ocorrência em determinadas épocas do ano. Se necessário, amostras de secreção nasal são analisadas com um exame rápido de antígenos, pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR).
- Tratamento: ainda não existe um tratamento específico para essas infecções, apenas suporte clínico para os sintomas. O ideal é, aos primeiros sinais, cuidar das vias aéreas superiores, dar reforço ventilatório, manter a alimentação e a hidratação em dia e evitar a exposição. Em casos de urgência, deve-se recorrer ao pronto socorro.
- Prevenção: evitar ambientes fechados e com aglomeração de pessoas, em especial nos primeiros três meses de vida do bebê; manter os ambientes com ventilação adequada; lavar as mãos com sabão ou usar álcool em gel. O anticorpo Palivizumabe, disponível no SUS, ajuda a proteger bebês com alto risco de doença grave por VSR.
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Palavra do especialista
Como a pandemia de covid-19 mudou o cenário do VSR no Brasil?
Durante a pandemia, com o isolamento social, a curva habitual de casos caiu consideravelmente, retomando seu antigo padrão no final de 2021. Algo curioso é que, agora, crianças maiores e que antes não tiveram qualquer infecção pelo VSR estão sendo infectadas, inclusive em formas mais graves, situação bastante atípica.
Além dos bebês, em especial os prematuros, quais são os outros grupos de risco para a forma grave da infecção?
Lactentes com menos de seis meses de idade, principalmente prematuros, crianças com doença pulmonar crônica da prematuridade e cardiopatas são a população de maior risco para desenvolver infecção respiratória mais grave, demandando internação em até 15% dos casos. Além disso, pessoas com doenças crônicas e neuromusculares, imunodeficiência, síndrome de Down, fibrose cística e malformações pulmonares completam a lista.
Como reduzir o risco de casos graves e internações?
Ainda não há vacina nem um tratamento específico para prevenir a infecção. O anticorpo Palivizumabe (imunoglobulina monoclonal), porém, disponível no SUS, pode ajudar a proteger bebês com alto risco de doença grave por VSR. A indicação é para crianças nascidas prematuras (com menos de 35 semanas de idade gestacional) e crianças portadoras de doença pulmonar crônica da prematuridade e/ou portadoras de cardiopatia congênita em tratamento. O ideal é o planejamento e o preparo do sistema de saúde como um todo antes da sazonalidade chegar, todos os anos.
Luciana Monte é pediatra e coordenadora da pneumologia pediátrica do Hospital da Criança de Brasília.
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*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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