Viver sob pressão, no mundo contemporâneo, é um sintoma frequente na vida de muitas pessoas. O estresse, aliado da rotina diária de cada indivíduo, se faz presente em diversas ocasiões. Em casa, no trabalho, nas relações sociais. As preocupações vêm à tona e a única possibilidade é tentar amenizá-las com hábitos que têm poder suficiente para dar mais leveza à vida.
Parar, respirar, descansar. Cada indivíduo dispõe de uma habilidade para proteger a mente das adversidades que se apresentam no dia a dia. Academia, escrever, ler ou procurar no esporte uma válvula de escape. Há alguns anos, porém, a meditação e a prática mindfulness — atenção plena — tornaram-se objetos requisitados pelo público.
Fabiano de Abreu Agrela, pós-doutor em neurociências, explica que o mindfulness tem como base uma interação de regiões cerebrais cruciais para ativar uma experiência emocional e cognitiva. "Entre essas áreas essenciais estão o córtex pré-frontal medial, o córtex cingulado anterior, o córtex pré-frontal lateral, a amígdala, o córtex sensório-motor e o hipocampo", detalha o especialista.
De acordo com ele, cada uma dessas regiões desempenha um papel específico na capacidade de autopercepção, regulação emocional e memória. A atividade, segundo Fabiano, busca uma profunda plasticidade cerebral, promovendo mudanças positivas que sustentam a saúde mental e o bem-estar a longo prazo.
"O objetivo central dessas práticas é o refinamento da densidade do córtex cerebral, especialmente em áreas relacionadas à atenção. Além disso, o treinamento de mindfulness visa à modulação da resposta emocional na amígdala, resultando em efeitos equilibrados e saudáveis. Fortalecer o córtex pré-frontal está associado a uma maior capacidade de controle executivo e de tomada de decisões assertivas", ressalta.
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Conhecendo a prática
Um local que acolhe pessoas e proporciona autoconhecimento. Em Brasília, a Sociedade Vipassana exerce um trabalho fundamental na prática de meditação, mindfulness, entre outras atividades. Atuando desde 2006, a comunidade começou na casa do atual presidente, Régis Guimarães. O grupo cresceu e, hoje, conta com mais de 90 voluntários, 4 mil alunos, tornando-se um alvo de busca para moradores da região — e até mesmo de fora.
Marcus Santos, 30 anos, é terapeuta ocupacional e professor na entidade há 11 anos. "Nossa principal função é difundir a prática da meditação, não seguimos dogmas. Temos o pé no chão e trabalhos baseados em pesquisas", afirma. Outro aspecto importante na Vipassana é a atenção com os instrutores, que estão sempre conectados com o universo da meditação, seja em retiros de silêncio, seja em tarefas complementares. A experiência, antes de encontrar o aluno, se faz necessária, primeiro, em quem tem o prazer de ensinar.
Lá, vários nomes importantes da área também passaram para ministrar aulas, como a monja Coen. "Estamos fazendo intercâmbio com outras instituições, desenvolvendo várias possibilidades para que as pessoas possam ter acesso a essa prática", descreve Marcus. No momento, o principal programa da Vipassana é o Mindfulness Based Stress Reduction (Programa de Redução do Estresse).
Passado e futuro
O professor observa, nos últimos anos, o interesse das pessoas em reduzir essa carga de pressão. A busca reflete em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que classificou o estresse ocupacional como a epidemia do século 21, com mais de 260 milhões de pessoas sofrendo de ansiedade e questões relacionadas ao esgotamento profissional.
"A meditação tem sido recomendada por profissionais como uma ferramenta para amenizar dores crônicas, pressão alta, diabetes, insônia, vícios. A gama de aplicação é muito ampla, elas vêm buscando muito essa prática", aponta Marcus. Com isso, o mindfulness virou um caminho para aqueles que se encontram deprimidos e ansiosos. Uma alternativa para focar no presente, deixando de lado o peso do passado e o medo do futuro.
O exercício da meditação é simples, mas desafiador. Sentar numa postura confortável, observar as sensações do corpo, esquecer do ontem ou do amanhã. Segundo Marcus, a respiração é fundamental nesse processo. "Ela é uma garantia do presente. Essa história de esvaziar a mente é um mito, pois é da natureza da mente pensar. Na respiração, escolhemos onde queremos colocar a nossa atenção."
Além disso, o professor acredita que é necessário desmistificar a ideia de sentar no chão com pernas cruzadas ou cantar mantras para meditar. A prática ensinada na Vipassama pode ser feita em qualquer lugar, seja abraçando uma pessoa, caminhando, tomando café. Afinal, ela não se restringe somente a um lugar tranquilo de olhos fechados. É muito mais que isso.
Aliás, essa alta procura não se limita somente às pessoas, mas, também, às empresas e às organizações. "Já atuamos em vários órgãos públicos: TCU, Procuradoria Geral da República, várias instituições. O bem-estar dos funcionários precisa ser uma prioridade", complementa Marcus. Os benefícios da meditação, todavia, só aparecem se realizados com frequência. Ainda que o impacto seja nítido, o terapeuta enfatiza: ela não é uma pílula milagrosa.
Nova vida
Priscilla de Almeida Fraga, 38 anos, imaginava a prática de meditar como algo que exigiria um ambiente essencialmente tranquilo e em silêncio. Ano passado, depois de vivenciar um quadro de burnout, essa percepção mudou. "Estava vivendo um momento de muito estresse no trabalho. Queria me preparar melhor, para cuidar de mim e da minha filha, já que estou na minha terceira gestação", comenta ela, que trabalha com marketing.
Grávida de 30 semanas, decidiu procurar a Sociedade Vipassana para experimentar novos ares, descobrir um mundo até então pouco explorado. Investiu na ajuda profissional da meditação há pouco mais de dois meses. Mesmo sendo tão recente, detalha como o exercício tem amenizado as preocupações e apaziguado os sentimentos difíceis, ainda mais nessa reta final à espera da filha.
Para ela, é hora de olhar para si mesma. "O burnout veio há oito meses; depois, a gravidez. Com isso, precisava me entender e lidar com esses sintomas. Tentei compreender as fases e enxergar o copo meio cheio, como sempre falam. Eu me acolhi no caminho e entendi que tudo acontece por algum motivo", acrescenta Priscilla.
Viver intensamente e com mais leveza. Os aprendizados ministrados durante as aulas são vários. Ela cita, em especial, a mudança de comportamento para com a própria meditação, já que enxergava a atividade de outra maneira. O autoacolhimento, poder absorver e refletir na vida com os sons dos pássaros na rua, não se limitar à prática somente quando está na companhia dos colegas. "As piores coisas que eu vivi foram as coisas que eu pensei", sentencia.
A ciência por trás
A neuropsicóloga e psicanalista Leninha Wagner concorda que o manejo do estresse diário pode ser reduzido com técnicas práticas e estratégias psicológicas. "Algumas são eficazes para manter a consciência, a inteligência e a maturidade emocional por meio de aprendizados: praticar meditação e respiração consciente, cuidar da alimentação, fazer atividade física e manter relacionamentos saudáveis", aconselha.
A especialista ainda destaca a importância de identificar sinais precoces, como irritabilidade e distúrbios do sono, e agir antes que se agravem, evitando possíveis transtornos como a síndrome do pânico. A prática de mindfulness é enfatizada por inúmeros benefícios: desenvolvimento de inteligência emocional; empatia; criatividade; concentração; controle emocional; redução do estresse; envelhecimento cerebral saudável; e melhoria da memória.
Carla Fragomeni, psicóloga clínica e professora na Sociedade Vipassana de Meditação, especializada na prática de mindfulness, afirma que a prática é uma bandeira pessoal, e compreende que essa abordagem pode contribuir para a promoção do bem-estar mental, especialmente em uma sociedade cada vez mais frenética e estressante. "Nossos dias são marcados pela era da informação, na qual somos constantemente bombardeados por uma sobrecarga de estímulos sensoriais e cognitivos", acentua.
Nesse contexto, o mindfulness oferece a possibilidade de direcionar a consciência ao presente, de maneira deliberada e sem julgamentos. Permitindo, ainda, que o organismo se reequilibre, estimulando uma regulação emocional que impacta positivamente as funções corporais e atenua o estresse.
A integração das práticas de mindfulness no âmbito psicológico é profundamente valiosa e bem-recebida, como descreve Carla. Abordagens terapêuticas como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a Terapia Dialética Comportamental (DBT) e a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) já incorporam o mindfulness como parte de suas bases.
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Sem pressa
Para desacelerar e cuidar da saúde mental, a bancária Thayana Silva Bezerra Guimarães, 36, optou pela meditação como uma forma de recomeçar. "Percebi que me habituei a querer fazer várias coisas ao mesmo tempo e reagia muito aos contextos e às pessoas. Comecei a ter reações físicas em decorrência do estresse, como dor no peito e insônia, e senti que realmente precisava mudar meus hábitos", relembra.
Hoje, ela garante que busca meditar e sentir a respiração. Entender no ar que sai e que entra o peso da rotina e dos sentimentos presentes. E mais que isso: ter consciência dos pensamentos que ela reproduz, bem como as emoções que eles geram no corpo. Entendeu, porém, que é capaz de escolher em que lugar da mente deve focar, ser menos reativa e mais compreensível consigo mesma.
"Pratico meditação, ioga, musculação e caminhada. Também me habituei a expressar minhas emoções, escrevo poemas e faço terapia. Faço atividades on-line que me permitem estar em casa e acompanhar palestras e meditações guiadas. Gosto de participar de retiros de meditação presenciais, que me permitem estar mais próxima da natureza e de pessoas que compartilham do mesmo propósito", finaliza Thayana.
Outras práticas
Dentro desse ecossistema, o terapeuta ocupacional Marcus Santos elenca outras práticas contemplativas, como ritos e tradições indígenas; atividades meditativas; momentos de oração. Este último, na observação do professor, também são considerados atividades de meditação, usando um foco diferente. “Os iogues praticam as posturas para adquirir um conhecimento mais elevado, todas as religiões da histórias têm algum momento de meditação em seu processo”.
Programação oferecida pela Sociedade Vipassana de Meditação
— Meditações gratuitas em grupo
Quartas: 8h30, on-line
Quintas: 19h, palestra + meditação da bondade amorosa, presencial
Sábados: 16h, prática de ioga + meditação conduzida, presencial
— Curso de meditação para iniciantes
Uma vez por mês, duração de um final de semana, de sexta a domingo.
Próxima turma: de 15 a 17 de setembro
— Retiros
Retiros de silêncio de três a nove dias na Reserva Ecológica Paraíso na Terra.
Próximo retiro: 9 de fevereiro de 2024
— Aulas de ioga
Diversas modalidades de ioga com horários das 7h30 às 19h30, de segunda a sexta. Aulas experimentais gratuitas.
— MBSR (Programa de Redução do Estresse Baseado em Mindfulness)
Uma turma a cada trimestre. São oito aulas de três horas, sendo uma por semana. Uma intervenção cognitiva que alia a psicologia, neurociência e práticas contemplativas para reduzir o estresse.
Próxima palestra inicial gratuita será em 11 de outubro
Instagram: @sociedade.vipassana
Telefone: (61) 98481-2187
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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30/08/2023 Crédito: Carlos Vieira/CB/DA Press. Brasília, DF. Revista. Redução de estresse. Marcus Santos, professor de meditação. Foto: Carlos Vieira -
Marcus Santos, professor de meditação Foto: Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A Press
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30/08/2023 Crédito: Carlos Vieira/CB/DA Press. Brasília, DF. Revista. Redução de estresse. Foto: Carlos Vieira
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30/08/2023 CrÃ?©dito: Carlos Vieira/CB/DA Press. BrasÃ?Âlia, DF. Revista. ReduÃ?§Ã?£o de estresse. Priscilla de Almeida (aluna de meditaÃ?§Ã?£o) Foto: Carlos Vieira
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30/08/2023 Crédito: Carlos Vieira/CB/DA Press. Brasília, DF. Revista. Redução de estresse. Priscilla de Almeida (aluna de meditação) Foto: Carlos Vieira
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30/08/2023 Crédito: Carlos Vieira/CB/DA Press. Brasília, DF. Revista. Redução de estresse. Priscilla de Almeida (aluna de meditação) Foto: Carlos Vieira
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A bancária Thayana Silva Bezerra Guimarães, 36, optou pela meditação como uma forma de recomeçar Foto: Arquivo pessoal
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