Você já parou para pensar na complexidade que existe por trás dos tipos sanguíneos? Aqueles grupos que aprendemos na escola, como A, B, AB e O são apenas a ponta do iceberg.
Por trás dessas letras aparentemente simples reside um universo de antígenos, anticorpos e fatores Rh que determinam a compatibilidade sanguínea entre doadores e receptores. Além disso, existem sistemas de grupos sanguíneos menos conhecidos, como o Lewis e o Duffy, que desempenham papéis importantes em questões de saúde e transfusões sanguíneas.
De acordo com o hematologista do Hospital Santa Marta Rafael Vasconcelos, os profissionais dessa área desempenham um papel crucial na medicina, ajudando a definir se um paciente precisa de uma tipagem sanguínea estendida além do ABO Rh. "Isso é especialmente relevante no contexto de certas doenças. Além disso, orientamos gestantes que podem desenvolver anticorpos que afetam a saúde do bebê."
O hematologista destaca ainda um marcador genético intrigante para o entendimento fisiológico humano: o antígeno Diegoª (Diª) é pouco conhecido, mas desempenha um papel importante em estudos antropológicos. "Ele é considerado um marcador genético para a raça mongoloide, sendo mais comum em populações asiáticas e indígenas americanos. Essa diversidade sanguínea destaca a complexidade e a riqueza da genética humana", exemplifica.
Saiba Mais
A diversidade dos genes
- O hematologista Rafael Vasconcelos explica que os tipos sanguíneos são resultado da expressão de diferentes açúcares e proteínas na superfície das hemácias. “As variações são causadas por polimorfismos nos genes, assim como temos diferenças na cor de pele e de olhos. Essas variações genéticas formam a base para a classificação dos tipos sanguíneos.”
- No mundo dos tipos sanguíneos, os mais comuns são A, O, B, mas o tipo AB é um dos mais intrigantes. É uma raridade, ocorrendo em uma minoria da população. Cada tipo sanguíneo tem suas características únicas, e entender essas diferenças é fundamental para a medicina transfusional.
- O Fator Rh é um aspecto crítico dos tipos sanguíneos. Relaciona-se com a presença ou a ausência do antígeno D na superfície das hemácias. Pacientes com tipagem Rh negativa que recebem sangue Rh positivo correm o risco de desenvolver anticorpos que podem afetar futuras gestações. O soro anti-D é uma ferramenta valiosa para prevenir esse problema.
Um ato seguro e solidário
- Uma das formas mais nobres de ajudar os outros é doar sangue. O hematologista enfatiza que o processo de doação é seguro e sempre acompanhado por profissionais de saúde. As raras reações, como tontura ou desmaio, são prontamente atendidas. Durante a avaliação pré-doação, são verificados fatores que podem adaptar o doador para garantir a segurança tanto do doador quanto do receptor.
Tipo A+
- Pode doar para: A+ e AB+
- Pode receber de: A+, A-, O+ e O-
Tipo A-
- Pode doar para: A+, A-, AB+ e AB-
- Pode receber de: A- e O-
Tipo B+
- Pode doar para: B+ e AB+
- Pode receber de: B+, B-, O+ e O-
Tipo B-
- Pode doar para: B+, B-, AB+ e AB-
- Pode receber de: B- e O-
Tipo AB+
- Pode doar para: AB+
- Pode receber de: todos os tipos sanguíneos (A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, O+ e O-)
Tipo AB-
- Pode doar para: AB+ e AB-
- Pode receber de: A-, B-, AB- e O-
Tipo O+
- Pode doar para: A+, B+, AB+ e O+
- Pode receber de: O+ e O-
Tipo O-
- Pode doar para: todos os tipos sanguíneos ( A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, O+ e O-)
- Pode receber de: O-
Serviço Hemocentro
Endereço: Setor Médico Hospitalar Norte, conjunto A, Bloco 3, Asa Norte, Brasília-DF
Atendimento: a doação de sangue é realizada mediante agendamento prévio. pode ser feito pelo site agenda.df.gov.br ou pelos telefones 160 opção 2, ou 0800 644 0160.
Horário: o atendimento telefônico é de segunda a sexta, das 7h às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 8h às 18h.
Requisitos: ter entre 16 e 69 anos de idade (menor de 18 anos deve apresentar o formulário de autorização disponível no site e cópia do documento de identidade com foto do pai, da mãe ou do tutor/guardião. Idosos devem ter realizado pelo menos uma doação de sangue antes dos 61 anos).
Palavra do especialista
Quais são os principais fatores considerados ao realizar um transplante de órgão em relação aos tipos sanguíneos?
Os tipos sanguíneos são cruciais para a compatibilidade de doadores e receptores. Os quatro tipos sanguíneos (A, B, O e AB) têm diferentes possibilidades de doação e recepção de órgãos, e as listas de espera são separadas com base nesses tipos. Outro fator é que o Rh não gera interferência para transplantar órgãos sólidos em caso de urgências.
Existem restrições específicas para doação de órgãos entre diferentes tipos sanguíneos? Se sim, quais são elas?
Sim, existem restrições específicas. Os órgãos devem ser compatíveis com o tipo sanguíneo do receptor. Por exemplo, o tipo AB pode receber de todos os tipos, o O pode doar para todos, o A só pode receber de A ou O, o B só pode receber de B ou O, e o O só pode receber de O. As listas de espera são separadas por tipos sanguíneos, mas podem haver prioridades por gravidade.
Como a compatibilidade de tipos sanguíneos afeta o sucesso e a taxa de rejeição em transplantes de órgãos?
A compatibilidade de tipos sanguíneos é essencial para o sucesso de transplantes de órgãos. Um doador e um receptor com tipos sanguíneos incompatíveis podem levar à rejeição do órgão transplantado. Embora o tipo O possa doar para todos, a compatibilidade pode ser melhor quando o receptor também é tipo O ou A, mas não é uma garantia absoluta. Outros fatores, como o painel imunológico HLA (um tipo de código de barras genético do paciente), também desempenham um papel importante na compatibilidade.
Doutor José Eduardo Afonso Jr. é coordenador médico do Programa de Transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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