
A menos de 3 mil quilômetros de distância do Brasil, a Argentina é um dos países mais procurados pelos brasileiros que buscam conhecer outras nações. A capital, Buenos Aires, é uma das principais metrópoles do mundo, e chama atenção pelos pontos turísticos, alta gastronomia e vida noturna agitada. A visita ao país vizinho é uma oportunidade de conhecer a cultura que, apesar de "hermana", tem diversas singularidades.
Mesmo com a alta dos preços na Argentina nos últimos meses, ainda há passeios que saem em conta na capital, ou até mesmo de graça. Isso porque até mesmo as ruas são pontos turísticos em Buenos Aires, como é o caso do famoso Caminito. Localizadas no bairro La Boca, as paredes coloridas pintam o horizonte dos que passeiam pelo trajeto que se estende de leste a oeste, formando uma curva de aproximadamente 150 metros.

A rua-museu adquiriu valor cultural após inspirar o conhecido tango de mesmo nome, composto por Juan de Dios Filberto em 1929. Por isso, é comum encontrar pelo logradouro pares de dançarinos do ritmo tradicional argentino que fazem performances a céu aberto, uma opção para os que optam por não prestigiar os shows pagos.
Outro traço característico da rua é a forte presença futebolística, principalmente pela proximidade do Estádio La Bombonera, do Boca Juniors, um dos principais times de futebol do país. Além disso, as figuras de Diego Maradona e Lionel Messi são constantes por lá, seja em estátuas, pinturas, camisetas, seja em estabelecimentos inteiros dedicados a reverenciar o legado dos maiores jogadores do país.

As praças também chamam atenção, a Plaza de Mayo é o centro da vida política da capital argentina desde a época colonial. Ainda hoje, é palco de diversas manifestações políticas, por exemplo, as das Mães da Plaza de Mayo, grupo de mulheres que se uniram para protestar contra os desaparecimentos e assassinatos dos filhos durante a ditadura militar que governou o país entre 1976 e 1983.
O desemprego e o governo atual são outros temas das manifestações que ocorrem no espaço atualmente. A escolha da praça não foi aleatória — ela fica em frente à Casa Rosada, sede da presidência. A moradia do chefe de Estado não recebe visitação desde 2020, mas dá para aproveitar o museu do palácio, aberto ao público de quarta-feira a domingo, das 11 às 18h.

Quando o assunto são os monumentos da cidade, o Obelisco é um dos principais pontos turísticos. Erguido na Praça da República, a estrutura de 67 metros de altura foi construída em comemoração ao quarto centenário da fundação de Buenos Aires, em 1936, e está localizado onde foi fincada, pela primeira vez, a bandeira da Argentina na capital.
Além de paisagem para fotos turísticas, o Obelisco se tornou ponto de encontro para eventos importantes, como manifestações políticas, comemorações esportivas e festas em feriados. O cartão-postal fica no cruzamento da Avenida 9 de julho — uma das mais largas do mundo — com a Calle Corrientes, rua movimentada por restaurantes, teatros, cinemas e bares.
A apenas cinco minutos de caminhada está o Teatro Colón, principal casa de ópera de Buenos Aires e um dos cinco melhores teatros do mundo. Com capacidade para cerca de 2.500 pessoas, o espaço recebe, neste ano, peças já conhecidas do público, como Aida, produção de 1996, e estreias, que é o caso de Billy Budd, em julho.

Famosa construção da cidade, o teatro oferece a opção de visitas guiadas, que ocorrem diariamente, das 10h às 16h, com saídas a cada 15 minutos. Aos que desejam realizar o passeio com explicação em português, os encontros são às 11h45, 13h e 16h. A entrada geral custa cerca de R$ 135 e a visitação dura 50 minutos.
Se estiver pela região, aproveite para conhecer a tradicional Pizzaria Güerrín, a 650 metros do teatro. Aberto desde 1932, o restaurante é considerado por muitos o melhor no quesito pizza. O carro-chefe da casa são as fugazzettas, invenção da capital argentina, composta por duas fatias de massa com queijo no meio e uma generosa camada de cebola por cima, sem molho. O estabelecimento funciona diariamente, das 11h à 1h. Às sextas e sábados, o horário se estende até 2h.
Cultura histórica
Para os fãs de arte e história, o destaque fica por conta do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba) e do Museu de Arte Moderna de Buenos Aires (Mamba). O Malba é conhecido pelos brasileiros como a casa do quadro O Abaporu, de Tarsila do Amaral, e, até abril, abriga a exposição Diego e eu, de Frida Khalo. O funcionamento é diário, com exceção de segunda-feira, das 12h às 20h, e gratuito às quartas. Nos demais dias, o valor é de R$ 47. O Mamba, por sua vez, tem a mesma escala de funcionamento e custa R$ 30 para turistas do Mercosul.

Ao ar livre, o Rosedal é uma opção que se destaca pela beleza e pelo cheiro. Como o nome indica, o parque repleto de rosas é destino certo para ter contato com a natureza, aberto de terça a domingo, das 8h às 18h, e até às 20h no verão. A entrada é gratuita. Também há a possibilidade de fazer um passeio de pedalinho pelo lago que cerca o local. Ainda na região, o Jardim Japonês transporta os visitantes para o continente asiático, assim como o Bairro Chino, em Belgrano, a "Rua da Liberdade argentina".
Aos domingos, das 10h as 16h, a principal atração da cidade é a Feira de San Telmo, que reúne estandes de artesanato e antiguidades, ideal para a compra de lembrancinhas de viagem. Lá é possível encontrar brechós, assistir a apresentações de tango de rua e tirar foto com a famosa estátua da Mafalda, responsável por grandes filas de espera.
A parte gastronômica fica centralizada no Mercado de San Telmo, espaço ao lado da feira que funciona diariamente, das 9h às 20h, e reúne restaurantes de comidas tradicionais argentinas. Lá, você pode experimentar as empanadas do El Hornero e o choripán da La Choripaneria.

O roteiro turístico em Buenos Aires é tão extenso que até locais incomuns se tornam atração. Exemplo disso é o Cemitério de Recoleta, onde estão os túmulos de grandes personalidades do país, a Faculdade de Direito, prédio que chama a atenção pela arquitetura e a proximidade com a Floralis Genérica, o El Ateneo Grand Splendid, uma das livrarias mais bonitas do mundo, e a região portuária de Puerto Madero, que foi revitalizada e se tornou ponto de encontro.
Na Argentina, a comida é outra atração à parte. Tradicionais no país, as carnes, milanesas, medialunas, doces de leite e helados são recomendações obrigatórias, além das empanadas e do choripán. Uma região que concentra restaurantes de todos os tipos é Palermo Soho, lar para estabelecimentos com estrelas Michelin, bares e outras opções gastronômicas.

Campeões mundiais
Os argentinos ostentam o status de atuais campeões da Copa do Mundo de futebol. O tri, conquistado no Mundial de 2022, no Qatar, já seria, por si só, motivo de sobra para os hermanos estarem em lua de mel com o esporte, mas a relação deles com a bola é muito mais profunda. Andando pelas ruas de Buenos Aires, é comum ver pessoas com camisas de time ou jogando com os amigos, mas também é muito fácil virar uma esquina e dar de cara com um estádio. A capital argentina, inclusive, é a cidade com mais estádios no mundo, somando 36, considerando aqueles que ficam nas províncias.
Tanto as arenas modernas, quanto aquelas com o estilo mais “raiz”, fazem parte do roteiro cultural em terras portenhas. O maior destaque é para La Bombonera, do Boca Juniors, cujo tour custa R$ 177 a entrada geral e R$ 159 para menores. Localizado perto do Caminito, as ruas próximas ao estádio são tomadas pelo azul e amarelo xeneize que atestam como, ali, a representatividade do clube nas pessoas vai muito além do campo.

O Monumental de Núñez, do River Plate, foi reformado em 2023 e se tornou o maior estádio da América do Sul. Quem escolhe pousar em Buenos Aires pelo Aeroparque e viaja nas poltronas do lado direito tem vista privilegiada da arena, mas para ver mais de perto os valores vão de 14 mil a 30 mil pesos (R$ 83,00 a R$ 177,00), dependendo da experiência escolhida. Há até um restaurante dentro do espaço, o Banda.
A experiência gastronômica também está presente no Jorge Luis Hirschi, do Estudiantes, em La Plata, a uma hora do centro de Buenos Aires. No caso, o Leon Bar Bistro proporciona uma refeição na beira do campo. A lista de outros estádios que valem a visita é extensa, incluindo El Cilindro (o Presidente Perón, do Racing), Libertadores de América (Independiente), Nuevo Gasómetro (San Lorenzo), Diego Maradona (Argentino Juniors), José Amalfitani (Vélez Sarsfield) e Tomás Adolfo Ducò (Huracán), este último sendo patrimônio da cidade por ter um estilo arquitetônico Art Deco.
Dia de jogo
O tour guiado, passando por museus e conhecendo a história dos times é uma boa alternativa para se divertir, mas a oportunidade de acompanhar uma partida junto da torcida é uma chance única de mergulhar de cabeça no jeito argentino de viver o futebol. Em dia de jogo de Boca ou River, por exemplo, é possível ver, por diversos bairros da cidade, a legião de torcedores iniciando a caminhada ou partindo em caravanas rumo ao estádio.
Nos arredores das arenas o clima é de festa, lembrando os tailgates comuns nos Estados Unidos, com direito a churrasco na parrilla, cerveja, o tradicional fernet com Coca-Cola e cantos da torcida. Já nas arquibancadas, as músicas não param do começo ao fim do jogo, principalmente no setor da geral, o espaço sem assentos em que as pessoas ficam em pé. Apesar do clima, que pode parecer hostil para os adversários, o que se vê são muitas famílias acompanhando a partida. É comum encontrar homens, mulheres, crianças, idosos e até bebês de colo perto dos alambrados repletos de bandeiras do clube mandante.
A dificuldade, no entanto, é encontrar ingresso. O Boca Juniors só vende entradas para sócio-torcedores, então para conseguir é preciso buscar lojas de turismo confiáveis ou procurar algum sócio disposto a vender, sempre por preços mais caros em uma espécie de cambismo.

A um rio de distância
Se a ideia é conhecer mais de um país da América do Sul, a combinação entre Argentina e Uruguai é uma das mais populares. É muito comum que visitantes das terras hermanas aproveitem para conhecer o país que fica do outro lado do Rio Prata.
A principal alternativa é o ferry boat, balsas confortáveis que fazem o trajeto de Buenos Aires para Montevidéu ou Colonia de Sacramento, além de outras opções. A ida direto para a capital é mais cara e leva pouco mais de duas horas. Já para a pequena cidade de aspecto colonial, o trajeto dura cerca de uma hora e por lá é possível achar ônibus que partem para Montevidéu, uma viagem de três horas por uma estrada tranquila.
No coração do Uruguai, as ruas menos movimentadas são uma mudança drástica em comparação com a Argentina. As principais atrações da capital estão na Ciudad Vieja, com o Mercado del Puerto, os museus do Carnaval e Torres Garcia, o Teatro Solís, o Mausoléu do General Artigas, a Plaza Independencia e caminhadas na rambla (orla). Fora do centro histórico, outras opções de passeio são o Parque Rodó e as vinícolas nos arredores de Montevidéu.
No entanto, é preciso ir com o bolso preparado. Apesar do real ser mais valorizado, valendo 7,20 pesos uruguaios na cotação de janeiro, os preços são mais altos, desde itens básicos no mercado até a conta de restaurantes. Outro detalhe que chama a atenção dos turistas é a legalização da maconha, mas a compra é restrita para moradores e é feita em farmácias.
A três horas de ônibus da capital, Punta Del Este é um paraíso à parte. A cidade, que de um lado é banhada pelo Rio Prata e do outro pelo oceano Atlântico, é nitidamente povoada por pessoas de classe alta, porém oferece beleza e serenidade aos montes. O grande holofote é a Casa Pueblo, a residência-museu construída a mão pelo artista Carlos Páez Vilaró em Punta Ballena, a apenas 13 km da cidade. A “Mônaco sul-americana” conta com hotéis luxuosos, restaurantes, cassinos e um pôr do Sol de primeira linha.

Um tango eterno e um orgulho contagiante
por Patrick Selvatti
Buenos Aires não é apenas um destino. É um enredo de aromas, sons e imagens que se entrelaçam, costurando histórias em cada esquina. Entre o cheiro do café quente nas cafeterias antigas e o zumbido constante do trânsito, a capital argentina exala a energia resiliente de um povo que encara a turbulência econômica e política com indignação, mas também com esperança. Essa esperança, em 2022, tomou forma quando Lionel Messi ergueu a taça da Copa do Mundo no Catar, acendendo um patriotismo que hoje se vê em murais, camisetas e bandeiras espalhadas pela cidade.
As dificuldades econômicas mudaram o cotidiano portenho. A inflação galopante elevou os preços de tudo, das emblemáticas parrillas aos tradicionais shows de tango. Até os turistas, outrora beneficiados pelo câmbio favorável, hoje sentem o peso no bolso. Mas Buenos Aires não perde seu charme, especialmente no inverno.
Minhas visitas à cidade foram sempre nessa estação. Gosto da atmosfera de "Europa na América do Sul". O frio — entre 5°C e 15°C — empresta um ar de elegância às ruas. Portenhos e turistas desfilam em casacos de lã e cachecóis volumosos, enquanto os cafés tornam-se refúgios aconchegantes, com o aroma das medialunas recém-assadas preenchendo o ar com as fumaças aromáticas que exalam das xícaras.
Na Avenida 9 de Julio, o Obelisco ergue-se imponente contra o céu, observando o vai e vem frenético. À noite, a iluminação transforma o cenário em uma composição quase teatral.
A Avenida Corrientes, com sua vibrante vida noturna, é um convite ao sabor e à cultura. Entre um bife de chorizo e empanadas, os teatros oferecem dramas e comédias que atraem locais e estrangeiros.
Perto dali, a Calle Florida mistura camelôs, lojas de rua e as luxuosas Galerias Pacífico, onde a arquitetura clássica compete com vitrines modernas.
E em Puerto Madero, o contraste entre as antigas docas e os modernos arranha-céus é acentuado pelo vento frio que sopra do Rio da Prata. Caminhar ali, cruzando a Puente de la Mujer, é um misto de modernidade e nostalgia. E um convite a um bom vinho.
Se for domingo, San Telmo é parada obrigatória. As ruas de paralelepípedos recebem uma feira que mistura artesanato, antiguidades e sabores típicos como choripán e alfajores. Mesmo no frio, uma Quilmes na praça completa a experiência.
No colorido bairro de La Boca, o Caminito quebra o cinza do inverno com suas casas vibrantes e dançarinos de tango que se exibem ao som de bandoneóns. A poucos passos, o estádio La Bombonera pulsa como um coração, símbolo do amor argentino pelo futebol, que se cristalizou com a conquista, em 2024, da Copa América. E eu, que estava lá nessa época, pude sentir na pele essa energia nacionalista que invade dos camelôs às propagandas de televisão e rádio.
Há várias atrações que poderiam ser enumeradas. Mas a capital argentina não é feita apenas de pontos turísticos. É uma celebração de suas contradições, de suas dores e de sua alegria em viver. Cada bairro conta uma história, cada esquina revela uma surpresa.
Em Buenos Aires, o passado e o presente dançam um tango eterno, convidando-nos a entrar nesse ritmo inconfundível e envolvente que o nosso pedacinho da Europa proporciona. Ainda que os preços não sejam mais tão atraentes para os brasileiros, é sempre um destino que vale a pena revisitar.
E a gente até sente um pouco de vontade de torcer para o país vizinho e rival no futebol. Eu mesmo vim de lá com um agasalho preto lindo da AFA que adoro usar. É um orgulho que contagia.