
Um dos universos mais complexos e cultuados pelos fãs na história da cultura pop, Star Trek tem recebido novas histórias e adaptações nos últimos tempos. A mais recente, que chega à Paramount , é o filme Star Trek: seção 31, estrelada pela vencedora do Oscar Michelle Yeoh e muito diferente de uma história comum da importante saga das telinhas e telonas.
O longa, dirigido por Olatunde Osunsanmi, conta uma história derivada em que a imperadora Philippa Georgiou se envolve com uma divisão secreta da Frota Estelar, que tem que agir debaixo dos panos para proteger o futuro da galáxia. Um grupo de pessoas completamente fora do padrão dos heróis precisa se unir para proteger a Federação dos Planetas Unidos de consequências catastróficas.
Com uma atuação teatral, muitas cores e uma história cheia de passeios pelas possibilidades do gênero de ficção científica, o filme se mostra completamente distinto das demais produções da franquia que começou nos anos 1960 e perdura até a atualidade com longas, séries e animações. "Esse é um dos filmes mais loucos no que diz respeito a ser divertido, talvez um dos mais diferentes da era moderna do Star Trek ou até da saga como um todo", afirma Olatunde Osunsanmi em entrevista à Revista.
Com ação, comédia e, é claro, a louca e grandiosa estética do espaço sideral, a produção carrega o público para uma grande aventura interestelar sem muito apego pelos fãs mais fiéis à franquia. "É porta de entrada maravilhosa para quem nunca viu Star Trek. Em todos os outros filmes, é necessário um conhecimento prévio, mas neste não. Dá para entrar nesse bonde andando", diz o cineasta, que também conta que não deixou de colocar alguns detalhes para os mais aficionados. "Se você tiver conhecimento sobre a franquia, também é ótimo, porque há vários easter eggs escondidos", acrescenta.
Afinal, antes de ser uma grande saga ou um ente cultural que ultrapassa barreiras e gerações, Star Trek é sobre o entretenimento com as peripécias intergaláticas daqueles personagens que buscam ajudar o Universo. "Eu quero que a primeira palavra que o espectador lembre quando pensar no filme seja: 'diversão'", destaca Osunsanmi.
De fã para fã
No entanto, para que a saga Star Trek se desenvolvesse e ganhasse tantos títulos, era preciso o carinho dos fãs. O que não é pensado é que este apreço está em cada uma das etapas para a produção se tornar um sucesso. Existe a possibilidade de os fãs sentarem em frente à televisão assistindo a um novo longa, porque existem fãs atuando, criando, produzindo e pensando no universo desses filmes. "O pré-requisito número 1 do nosso trabalho é ser fã de Star Trek e entender sobre o que é esse universo", diz Alex Kurtzman, produtor executivo de Star Trek: seção 31 e de tantas outras produções da franquia.
"Quando a gente entrava no set, nós estávamos cercados de fãs e pessoas dispostas a dar o máximo do máximo para que o trabalho fluísse e o filme desse certo, porque eles amam, acreditam e querem fazer isso", lembra Sven Ruygrok, ator que interpreta Fuzz no longa. É um legado muito importante para dar continuidade. "Eu entendo a responsabilidade de entrar em um universo como esse, que sempre tem muita expectativa em volta. Star Trek faz parte da cultura há décadas e tem fãs em todo o mundo", reflete o ator.
O novo filme entra em um espaço interessante dentro dessa história, justamente por não seguir a narrativa natural de Star Trek. "Esse filme é sobre pessoas diferentes, que não se sentem incluídas nos moldes tradicionais. Elas ainda querem que o Universo seja melhor, só não tem o que é preciso para serem oficiais em uma nave. No entanto, isso não faz delas pessoas menores, apenas mostram saídas distintas para o mesmo fim", explica Kurtzman. "Os próprios fãs de Star Trek se sentem, às vezes, de fora e buscam se encaixar como as figuras do longa", avalia. "A própria franquia deu a elas a esperança que queriam. É uma história que mostra que está tudo ok pensar e enxergar o mundo de forma diferente para os personagens e para os fãs", conclui o produtor.
Um futuro melhor
As aventuras e as batalhas espaciais sempre foram o chamariz para Star Trek, mas essas luzes e cores são como uma "nave de Troia". Ou seja, encapsulam a verdadeira motivação da saga, que está em uma mensagem presente desde os primeiros seriados nos anos 1960. "Estamos falando do sonho de Gene Roddenberry, criador da saga, na qual as pessoas vivem em um futuro em que as coisas que nos dividem hoje não são mais um problema", crava Kurtzman.
Star Trek fala de um futuro melhor em que as diversas espécies espalhadas pelo Universo não se dividem por raça, cor, crença, religiosa, gênero ou qualquer outra questão que gere preconceito na atualidade. Isso é o que as histórias querem transmitir. "Queremos esse mundo em que não faça a diferença qual a sua cor, o seu credo, todo mundo pertence em plena capacidade", pondera Omari Hardwick, que dá vida a Alok Sahar no filme.
O ator acredita que essa tem que ser a luta de todos. "Desde que você consiga entrar, você vai caber. No momento em que você entrar, ninguém vai te empurrar para fora. A porta desse elevador vai fechar e só tem um destino: para cima", pontua. "É muito legal ver que os fãs estão no mesmo movimento que nós acreditamos, vamos todos juntos para um lugar melhor", completa.
Afinal, o momento do mundo é de segregação, preconceito e extremismos. "Nós vivemos em um tempo em que o sistema está falhando com a gente; que o capitalismo está nos comendo vivos; que as organizações governamentais, que deveríamos confiar, são comandadas por idiotas. Nos sentimentos inseguros, com os direitos básicos sendo ameaçados, em um mundo em guerra em que todos se odeiam", analisa Robert Kazinsky, ator que interpreta Zeph. "Nós estamos vivendo no mundo da pós-verdade, onde a verdade não existe mais por si só. Se você repetir a mesma coisa em voz alta muitas vezes, ela se torna a verdade, mas vem Star Trek e mostra um mundo que a verdade importa", contrapõe.
O ator acredita que a saga representa o desejo da imensa maioria das pessoas em relação ao que é um mundo melhor. "Eu tenho certeza que mais de 99,99% das pessoas sonham com um mundo da verdade e da gentileza em que a gente evoluiu e não tem mais todos esses preconceitos que nos dividem atualmente", pontua.
Dessa forma, esse movimento começa pelos fãs que são responsáveis por fazer essas produções. "Entramos em projeto que prioriza a diversidade na frente e atrás das câmeras, o que é super importante. Então estamos empolgados", conta Kacey Rohl, atriz que interpreta Rachel Garrett, que sabe que toda essa mensagem tem que ser carregada com apreço. "Não é uma responsabilidade que se brinca. Star Trek tem um grande legado e nós o estamos continuando", finaliza.
Diversão e Arte
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