
Um estudo do MIT divulgado recentemente, ainda sem avaliação dos pares, mas com grande repercussão na mídia, analisou o desempenho de estudantes e seus sinais eletrencefalográficos enquanto faziam uma redação com ou sem o ChatGBT. A inteligência artificial (IA) reduziu o engajamento dos estudantes fazendo com que eles tivessem menor capacidade de falar sobre o que escreveram. Linguistas que avaliaram as redações em que o ChatGBT foi usado classificaram os textos como privados de alma. Além disso, os sinais eletrencefalográficos dos que usaram a ferramenta eram menos robustos, refletindo uma menor conexão entre as diferentes regiões do cérebro.
O estudo está longe de ser definitivo, com número limitado de participantes e com resultados que permitem diferentes interpretações. Sem alarde até que tenhamos dados de repercussões do uso da inteligência artificial no médio e longo prazo. Acredito que muito provavelmente teremos demonstrações de discretos prejuízos no desempenho cognitivo dos seus usuários, mas a tese de que os benefícios serão maiores me parece bem plausível.
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Sócrates alertou de que a escrita comprometeria a memória, no século passado houve grande preocupação de que calculadora viria a atrapalhar nossas habilidades matemáticas simples, mais recentemente o google foi colocado sob suspeita de provocar restrição da nossa memória e agora temos a insegurança de como o cérebro será influenciado pela IA. Sigo acompanhando com o norte do psicólogo educacional dinamarquês Guido Makransky que defende que a IA será ótima para guiar os estudantes a ampliar suas perguntas reflexivas e não para dar-lhes as respostas.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília
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