Mais conhecida como boca seca, a xerostomia é uma condição provocada pela falta de produção de saliva causada por diversos fatores, como desidratação, hábito de respirar pela boca, ronco, má higiene bucal, álcool e uso de tabaco. Apesar de parecer um problema simples, pode ser um sinal de desequilíbrio no organismo. O quadro patológico pode gerar desconfortos no dia a dia, como interferir na fala e na deglutição. Segundo pesquisa realizada pela PubMed sobre questões na investigação epidemiológica da boca seca, estima-se que de 12% a 47% dos idosos e de 10% a 19,3% das pessoas na faixa dos 30 anos sofram de boca seca.
A percepção dos sintomas nem sempre é imediata, alguns indivíduos só buscam ajuda quando surgem incômodos maiores e dores associadas. Com isso, especialistas ressaltam a importância de reconhecer o papel da saliva e o cuidado com a higiene bucal. Segundo a dentista Eduarda Jung, é possível reconhecer a xerostomia por uma autoavaliação, desde que a boca seca deixe de ser uma condição temporária, principalmente quando o paciente faz uso contínuo de medicações.
"Caso perceba que o uso de alguma medicação específica esteja causando hipossalivação, o ideal é entrar em contato com o médico responsável para a troca de medicação, e iniciar o uso de salivas artificiais no intuido de inibir a evolução da patologia", destaca a dentista.
Pacientes com xerostomia também apontam dificuldades no uso de prótese dentárias. A falta de saliva compromete a adesão da prótese à mucosa oral, causando irritabilidade, feridas e desconforto durante a mastigação e a fala. Além disso, a redução da lubrificação natural favorece atritos e inflamações na gengiva, o que pode levar à rejeição do dispositivo.
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Dirce Nascimento, mestre e doutora em odontologia pela Universidade de Brasília (UnB), aponta que pacientes pós-cirurgia bariátrica correm o risco de desenvolver o quadro patológico. A odontóloga também dá ênfase nos cuidados com uso de medicamentos: "Fármacos para emagrecer, antidepressivos (tricíclicos e inibidores seletivos de recaptação de serotonina — ISRS), anti-histamínicos, relaxantes musculares e anti-hipertensivos (diuréticos) podem desenvolver a condição".
Sinais
Dificuldade para engolir;
Lábios secos e rachados;
Sensação de ardência ou dor na língua, que fica vermelha e com fissuras;
Maior número de cáries dentárias;
Presença de saburra;
Mau hálito;
Irritação na garganta;
Dificuldade para falar.
Principais fatores
Efeitos colaterais de medicamentos, doenças sistêmicas, diabetes e HIV/AIDS, radioterapia na região da cabeça e pescoço e desidratação. Além disso, o envelhecimento, o hábito de respirar pela boca, o consumo de álcool e tabaco podem contribuir para a xerostomia.
Como evitar
Mantendo-se hidratado, ingerindo alimentos macios e fáceis de deglutir, como frutas e vegetais com alto teor de água. Consumir alimentos ricos em vitaminas A e do complexo B também pode auxiliar.
Nutrição
A xerostomia também pode causar redução da ingestão nutricional, levando à perda de peso, além de afetar significativamente a saúde geral e a qualidade de vida.
Uso de radiação
Considerada uma doença multifatorial pelo uso de radiação em tratamentos de câncer, a xerostomia é sujeita a dose cumulativa de radiação no tecido glandular.
Palavra do especialista
Como a xerostomia é diagnosticada?
O diagnóstico pode ser feito por meio de anamnese detalhada por meio da avaliação dos sintomas relatados pelo paciente, como a sensação de boca seca, dificuldade para engolir ou falar, sede constante. Avaliação clínica sugerida pelo profissional da saúde, com observação de sinais como mucosa oral seca, lábios rachados, língua fissurada, saliva espessa ou ausente. Também são pedidos exames específicos, como a sialometria (que mede a quantidade de saliva produzida em repouso e/ou estimulada), além de exames complementares, testes laboratoriais e de imagem, especialmente se houver suspeita de doenças autoimunes (como a síndrome de Sjögren).
O uso de medicamentos contínuos pode gerar a condição. Quais são os cuidados necessários para evitar a hipossalivação?
É necessária uma revisão médica dos medicamentos em uso, para tentar substituir ou ajustar dosagens com menor efeito colateral. É crucial informar o dentista sobre todos os medicamentos utilizados, com isso, pode ser prescrito o uso de lubrificantes orais ou saliva artificial, ou até mesmo o uso de medicações estimulantes para a salivação. Já para evitar agravantes, é necessário o controle da saúde bucal, para prevenir complicações maiores e evitar o consumo de álcool, tabagismo e desidratação.
Qual o impacto do quadro patológico a longo prazo e como minimizar os sintomas e efeitos?
É impactado com o aumento do risco de cárie de rápida progressão, infecções fúngicas (como candidíase oral), mau hálito e dificuldade para mastigar, engolir e falar e o comprometimento da qualidade de vida e da nutrição. Para minimizar, é indicado que mantenha uma hidratação diária, é pedido para que utilize também o estímulo da salivação com balas ou gomas sem açúcar (com xilitol), ou por laserterapia. É essencial que se use enxaguantes bucais com álcool, alimentos muito secos, salgados ou condimentados e balas ou gomas com açúcar, pois aumentam o risco de cárie.
Ilana Marque é cirurgiã dentista, proprietária da IGM Odontopediatria, membro da ILSD (The Institute for Lasersupported Dentistry) e autora de livros sobre a importância da saúde bucal e tratamento com laserterapia
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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