Celebrado em 20 de julho, o Dia do Amigo convida à reflexão sobre como, na vida adulta, as amizades se transformam em redes de acolhimento, suporte emocional e resistência. Em um contexto em que vínculos familiares muitas vezes se enfraquecem ou se distanciam, os amigos passam a ocupar um lugar central de pertencimento e cuidado mútuo — não apenas como afeto espontâneo, mas como um gesto político de sobrevivência em tempos de crise.
Séries como Friends popularizaram essa ideia de “família escolhida”, revelando o poder dos laços construídos por afinidade e apoio contínuo, especialmente quando o mundo lá fora se mostra cada vez mais hostil. Foi assim que Ana* percebeu que sua família eram suas amigas, e não as pessoas que a tinham colocado no mundo.
Em momentos de crise, eram sobretudo mulheres que estavam presentes para Ana. Com uma estrutura familiar disfuncional, cada amizade desempenha um papel único na vida de Ana, que procura amigas diferentes para situações nas quais elas podem ajudar. “A admiração que tenho por elas é o que me faz querer continuar.”
Aos 16 anos, Ana enfrentou um conflito familiar que a fez tomar uma decisão marcante em sua vida: escolher as amizades em vez da própria família. “Minha família não aprovava minhas amizades e disseram que eu teria que mudar de escola ou sair de casa. Eu escolhi mudar de casa”, lembra. Para ela, as amigas representavam um apoio verdadeiro e uma fonte de felicidade. “Ao contrário da minha família, minhas amizades estavam ali para mim, gostavam genuinamente de mim. Foi um episódio muito marcante, quando escolhi minhas amizades acima da família. Elas se tornaram minha família opcional.”
Hoje, Ana reforça a importância desses laços. “As pessoas que considero amigas ocupam papéis essenciais na minha vida. Nenhuma amizade é igual, mas, em geral, os amigos oferecem bons conselhos, um ombro para chorar e a mão para levantar”, explica. Para ela, a escolha das amizades é consciente e baseada na admiração por pessoas boas, sábias e empáticas — qualidades que, segundo ela, nem sempre encontrou em sua família. “Tenho amigas que me ajudam a pensar, outras que me fazem rir e me distrair. Posso contar com elas para tudo.”
A química da amizade
Segundo a neuropsicóloga Juliana Gebrim, o cérebro entende as amizades como uma experiência de cuidado e prazer, que ativa áreas cerebrais da segurança e bem-estar, além de liberar hormônios que aumentam a confiança e fortalecem o vínculo. Em momentos difíceis, esse apoio reduz a sensação de ameaça — seja pelo carinho, escuta ou simplesmente pela presença de alguém de confiança. “Isso diminui a produção de hormônios ligados ao estresse, como o cortisol, e acalma áreas responsáveis pelo medo e pela ansiedade”, resume.
Descrito como um escudo emocional pela especialista, os laços amistosos reforçam a autoestima, aumentam a sensação de pertencimento e lembram que não precisamos enfrentar tudo sozinhos. “Quem tem boas conexões costuma se recuperar mais rápido de crises emocionais e se sentir mais confiante para enfrentar os desafios do dia a dia”, destaca Juliana.
Mesmo que amizades virtuais possam ser valiosas, Juliana disserta que o contato presencial faz toda a diferença — com toque, olhar e linguagem corporal. Ela justifica que o contato libera mais ocitocina, o hormônio da conexão, tornando o vínculo mais forte e íntimo. As conexões virtuais podem oferecer apoio emocional, mas não ativam tanto as áreas ligadas ao contato físico e à proximidade real.
Todavia, após uma certa maturidade, a vida costuma ficar mais corrida e com mais responsabilidades — quando o cérebro passa a priorizar segurança e estabilidade, ficando mais seletivo na hora de abrir espaço para novas pessoas. Conforme a especialista, as amizades são mais raras após os 30 anos: “A confiança demora mais a se construir e manter esses laços exige esforço consciente.” Mas quando acontecem, tendem a ser mais profundas e verdadeiras.
Pertencer
Segundo a neuropsicóloga, o pertencimento assemelha-se a um abraço cerebral. A partir da presença constante, apoio verdadeiro e confiança profunda, o cérebro entende a pessoa como um “porto seguro”, alguém em quem se pode apoiar sem medo de julgamento — uma rede de sobrevivência emocional.
Assim, a chamada família escolhida é processada como essencial para o equilíbrio, trazendo benefícios até físicos. “Quando o apoio da família não existe ou é insuficiente, as amizades podem ocupar esse lugar, oferecendo acolhimento, escuta e segurança”, ressalta Juliana.
Regando relações
Quando Pietra* passou por dificuldades emocionais e financeiras, seus amigos a ajudaram tanto quanto sua família — muitas vezes até mais devido à proximidade e maior capacidade de entendimento. As relações criadas por decisão ao invés do sangue aproximaram Pietra de pessoas valiosas que a aconselharam com carinho.
“Por eu morar sozinha e não ter tanto contato com minha família, algumas amizades são mais constantes”, relata. “Me abro de problemas que não falo para a família por medo de julgamento. Meus amigos têm um universo mais parecido com o meu. São pessoas que escolhi ter por perto.”
A capacidade de construir laços profundos com pessoas que a vida junta, trouxe a Pietra um insight valioso: a importância da decisão de nutrir uma relação. “Com família não existe tanto essa escolha. Essa afinidade sem uma obrigação é muito valiosa. Temos esse espaço onde ninguém tem a obrigação de cuidar e amar alguém, mas escolhemos construir isso — que é o que o faz tão bonito.”
*Nomes fictícios para preservar a identidade dos personagens, que optaram por não se identificar
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