
A amizade entre crianças e pets é uma das formas mais puras e sinceras de afeto. Além de ótimos companheiros para brincadeiras, durante a infância, os animais tornam-se aliados importantes no desenvolvimento emocional e social dos pequenos. Quando o convívio é diário e acompanha a criança ao longo do crescimento, essa relação se torna ainda mais enriquecedora, proporcionando aprendizados, descobertas marcantes e um vínculo de cuidado mútuo especial.
"Os animais de estimação oferecem acolhimento, favorecem o vínculo emocional e a empatia. Além disso, cuidar de um pet ensina à criança responsabilidade, comprometimento e rotinas, influenciando positivamente sua organização e gestão de tarefas", explica a psicóloga Isabella Machado, do grupo Mantevida.
Esse desenvolvimento é algo que Mayara Gurgel, 39 anos, tem observado de perto no filho Victor, de 7 anos. Em 2020, ela adotou Camille, uma gatinha filhote que trouxe alegria à família em tempos de pandemia. Na época, Victor tinha apenas 3 anos e havia acabado de completar o desfralde. "Quando ela chegou, foi uma festa. Ele a carregava para todo lado, brincava com ela e até criou o hábito de dormirem juntos", relembra.
Hoje, após cinco anos de convivência, Mayara relata que o laço entre Victor e Camille é de parceria, apego e, acima de tudo, cuidado. Conforme a mãe explica, a convivência de Victor, que tem transtorno do espectro autista (TEA), com Camille tem sido essencial para o desenvolvimento da criança. "O grande benefício vem dessa responsabilidade que ele vem criando. Limpa o cocô dela, coloca água, comida e cuida muito. Vejo que ele vai crescendo e tendo um cuidado incrível com o animalzinho que está aqui para conviver com todos nós", finaliza.
De acordo com a psicóloga Isabella Machado, tais aprendizados, quando consolidados, se perpetuam até a fase adulta, contribuindo para maior resiliência e habilidades interpessoais. "Pessoas que cresceram com animais de estimação frequentemente desenvolvem características moldadas pelos vínculos emocionais, como sensibilidade, empatia, responsabilidade e cooperação", observa.
Memórias especiais
Em meio a brincadeiras e à rotina em casa, o vínculo entre animalzinho e criança se fortalece no cotidiano. Momentos simples podem se tornar lembranças que duram para sempre. É isso que conta Joyce Mattos, 31 anos, ao observar diversas memórias especiais entre a filha Melina, de 8 anos, e o shih-tzu Loki, de 11 anos, que são melhores amigos.
Joyce relata que a relação da dupla começou ainda na gravidez, quando nem ela sabia que estava esperando um bebê. "Ele não tinha costume de ficar no colo, mas deitava na minha barriga. E foi assim a gestação inteira. Ele buscava se aconchegar e lambia minha barriga", lembra. Depois do nascimento da bebê, Loki passou a fazer parte de todos os momentos da menina.
"Quando ela nasceu, ele sempre a acompanhava. Deitava ao lado do carrinho, da cama, e ficava alerta quando outra pessoa chegava perto", conta Joyce. Definitivamente, o cãozinho foi o primeiro amigo da bebê. "Durante a pandemia, ele era o parceiro de brincadeiras dentro de casa, e acredito que a relação dos dois fez com que ela desenvolvesse amor pelos animais desde cedo", avalia.
Entre todas as memórias, uma das favoritas de Joyce aconteceu durante a introdução alimentar de Melina. "Na época, ela percebeu que ele comia o que ela deixava cair. Então, sempre deixava cair 'acidentalmente' e sorria", brinca. Outro momento marcante foi quando a menina começou a frequentar a escola.
"No primeiro dia, quando voltei para casa sozinha, ele entrou em desespero, chorando na porta como se eu a tivesse esquecido. Depois, ele logo entendeu os horários e ficava sentado na porta esperando a hora de Melina chegar", relata. Hoje, embora Loki tenha começado a apresentar sinais de velhice, os dois continuam inseparáveis. "Ele sempre procura minha filha quando quer comida ou água. Dorme na cama encostado nela. Quando precisa tomar medicação, é só ela quem consegue acalmá-lo", finaliza Joyce.
Michele Vieira, 34 anos, também guarda diversas memórias especiais envolvendo o filho Carlos Eduardo, de 4 anos, e a pitbull Kiara, de 11 anos. A mãe conta que, durante a gravidez, surgiram algumas preocupações em relação ao convívio do bebê com a cachorra. "Nós tínhamos receio de que a Kiara ficasse com ciúmes do bebê. E nossa preocupação era com ele", lembra. Apesar disso, Michele narra que a adaptação foi tranquila e segura.
"A Kiara já fazia parte da família antes do meu filho. Ela sempre foi uma cachorra muito tranquila e conviveu com todos, inclusive com outras crianças", conta. Quando o recém-nascido chegou, a interação dos dois foi natural. "Assim que o apresentamos para a Kiara, ela entendeu que teria mais um morador na casa, e foi tudo muito tranquilo", relata.
Com o tempo e o crescimento do menino, os dois foram se aproximando e se tornando amigos inseparáveis. "A Kiara viu o meu filho crescer. Ela participou de vários momentos especiais", afirma. Uma das memórias favoritas de Michele foi quando o menino estava aprendendo a andar. "Ele ia se apoiando em alguns móveis para conseguir andar. Quando ia para o quintal, ela acabava virando um dos apoios dele também", lembra.
Saiba Mais
Cuidados importantes
O convívio entre crianças e pets traz benefícios maravilhosos, mas exige cuidados para garantir a segurança e o bem-estar de todos. Com a ajuda da veterinária Fabiana Volkweis, professora de medicina veterinária do Ceub, a Revista reuniu algumas orientações essenciais:
- Escolha responsável: antes de adotar um pet, informe-se sobre suas necessidades de saúde, alimentação e personalidade, verificando se ele se adequa à rotina da família. Considere também os custos envolvidos na manutenção do animal.
- Planejamento inicial: providencie itens necessários, como bebedouros e comedouros, e oriente as crianças de que o pet não é um brinquedo, mas um ser vivo que exige amor, atenção e cuidados contínuos.
- Atividades em conjunto: incentive brincadeiras lúdicas, como passeios e jogos com bolas ou brinquedos. Essas interações fortalecem o vínculo entre a criança e o animal, beneficiando ambos.
- Participação nos cuidados: envolva as crianças em tarefas adequadas à idade, como alimentar o pet, trocar a água e escovar os pelos. Isso ajuda a desenvolver o senso de responsabilidade e estreita a relação entre eles.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte