Ao unir criatividade, identidade cultural e sustentabilidade, artesãos pernambucanos têm dado significado e valor ao trabalho artesanal e levado sua arte para além das fronteiras do estado. Uma das principais vitrines desses designers é a Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), que ocorre anualmente em Olinda. A Revista esteve presente na 25ª edição, ocorrida em julho, e conheceu alguns talentos que têm movimentado a cena fashion pernambucana. Em comum, eles têm uma rica história de vida que se reflete na criação de suas peças.
Camisas com história
Depois de passar nove dias na UTI por causa da covid-19, o professor de história Osvaldo Bruno chegou à conclusão de que precisava dar uma guinada na vida. “Eu trabalhava em quatro escolas, des, tinha um filho pequeno. E pensei: ‘Preciso me reconectar com a arte’.” Atropelado pela correria do dia a dia, o olindense tinha, inclusive, deixado de tocar no grupo de maracatu, paixão que havia lhe rendido o apelido de Maraca.
Uma marca registrada do professor é o uso constante de camisa estampada — tanto que os alunos fazem brincadeiras com o “estilo de Maraca”. “Eles começaram, então, a me perguntar por que eu não fazia a minha própria camisa. Resolvi, então, tentar”, lembra. Osvaldo vem de uma família em que a avó, a mãe e as tias são costureira, e pediu à mãe que lhe ensinasse a fazer as camisas. Ela disse: "É assim, assim, assado, vai pesquisar”. E ele obedeceu.
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“Pesquisei em todos os lugares, porque queria fazer as minhas estampas, e trazer a sala de aula para elas”, conta. No início, não eram autorais. Osvaldo garimpava tecidos pela cidade e fazia as camisas. Nesse processo, o professor produziu 44 peças. “Em um mês, vendi 43 para os amigos e fiquei com uma para mim”, diverte-se. “Ali, vi que podia dar certo.”
Um ex-aluna, empreendedora, vendo o potencial, propôs que o ex-professor participasse de uma feira. “Eu falei que não tinha marca, não tinha uma logo, não tinha nada. Ela disse para eu correr atrás. Em dois meses, eu criei toda a minha identidade e fui para a feira, na casa de Alceu Valença, em Olinda.” Foi um sucesso de vendas. O ano era 2022 e surgia, assim, a marca Seu Maraca.
Manguebeat
Osvaldo não queria mais garimpar peças, mas criar suas próprias estampas. Nessa época, recebeu uma proposta do Marco Pernambucano da Moda, programa do Núcleo Gestor da Cadeia Têxtil e de Confecções de Pernambuco, que oferece a empreendedores pernambucanos recursos e apoio para que possam desenvolver seus negócios de forma competitiva e sustentável. Ele participou de um projeto de incubação de um ano e, ao final desse período, teve que apresentar uma coleção.
Foi assim que surgiram as cinco primeiras estampas autorais do Seu Maraca. “Eu sou apaixonado pelo Manguebeat. O meu filho se chama Otto por causa do cantor. E, naquele ano, o movimento completava 30 anos. As estampas falavam das periferias, e aí entrou o processo de pesquisa do historiador. Fui ver os documentários, ler os livros, ver os filmes, enfim, tudo aquilo que eu vivenciei na adolescência para contar a história do Manguebeat”, detalha.
E nada melhor do que usar os músicos do próprio movimento como garotos propaganda. Osvaldo entrou em contato com integrantes da banda Mundo Livre, com Otto, Cannibal, China e outros nomes do Manguebeat. Eles vestiram as camisas da Seu Maraca nos palcos. Hoje, além das camisas, a marca produz peças diversas, que vestem tanto homens quanto mulheres de forma agênera. Cada item conta um pouco da história de Osvaldo e de Pernambuco, fortemente presente nas coleções.
Organização social privada
Com apoio de parceiros — como o Governo de Pernambuco —, o Marco Pernambucano da Moda compartilha e soma iniciativas entre o setor produtivo, universidades e entidades de fomento e suporte para ampliar a inserção do segmento no mercado nacional e internacional.
Felipe Eugenio/Divulgação - Seu Marca expandiu a criação para outras peças
Do rami ao mulungu
Mãe solo de dois, Patrícia Emília Freitas logo viu que o salário que recebia do emprego fixo não dava para sustentar os filhos. Era preciso arrumar uma renda extra. Como tinha habilidade manual, começou a fazer acessórios. “Na verdade, eu comprava fecho, linha, miçanga e montava as bijuterias. Eu copiava o que estava na moda, não tinha nenhuma identidade. Mas me ajudava a pagar as contas”, lembra.
Em uma feira de artesanato, Patrícia viu uma artesã que fazia uns cilindros de fio de algodão encerado, formando espécies de mandalas, usadas para fazer bijuterias. “Eu achei aquilo interessante e sabia que conseguiria fazer também”, conta. No processo de pesquisa, a pernambucana descobriu o rami, planta que tem um fio resistente e natural. “Eu comecei a fazer rodas de rami, para usá-las em brincos, colares e acessórios diversos. Aí começou a ser um trabalho mais autoral", detalha.
Patrícia viu a necessidade de fazer cursos para se capacitar e, nessa empreitada, descobriu um projeto que ajudava designers a se profissionalizarem. “Eles conversaram comigo, perguntaram sobre minhas referências, os meus planos, o material que usava e, um mês depois, me entregaram um projeto todo pronto”, conta. Até o nome para a marca já existia: Acessórios Ramifica. “Naquela época (2007), nem se falava em empreendedorismo, sustentabilidade. Fiquei louca porque era um projeto muito bonito.”
Patrícia pensou: “Tenho tudo aqui, agora é comigo”. E correu atrás. A Fenearte, maior feira de artesanato da América Latina, ainda estava nas primeiras edições e, depois de muita insistência, ela conseguiu um espaço de um metro quadrado no fundo de um estande. “Em 10 dias, eu vendi 10 vezes mais do que vendia em um mês. Ali nasceu a artesã Patrícia Emília”, recorda-se. Ela largou o emprego e começou a rodar o país em feiras de artesanato.
Transformação profissional
Com o sucesso dos seus acessórios, Patrícia viu a necessidade ampliar a criação. Um primeiro passo foi tingir o rami, que antes era trabalhado apenas em sua cor natural. Anos depois, uma nova ideia deu um novo valor aos seus produtos, até então, totalmente focados no rami. “Eu estava muito nichada, precisava expandir.” Em 2018, ela trabalhava em uma loja colaborativa com outros designers locais e um deles produzia sapatos. Um dia, viu que vários saltos dos calçados, que estavam com falhas, seriam descartados. “Eu sempre quis trabalhar com madeira, daí pedi esses saltos para ver o que dava para criar.”
Os saltos eram de mulungu, espécie de madeira extremamente leve e maleável. Patrícia começou a cortar esse material e transformar em acessórios, mais precisamente maxicolares. “Cada peça é única, pois cada madeira tem a sua própria forma” detalha. O rami continua presente no trabalho da artesã — algumas vezes, junto com a madeira de mulungu e o couro — que ganhou identidade própria. “Por muito tempo, eu resisti em me autonomear designer, mas hoje eu sei que sou uma designer, porque há muito design no meu trabalho”, orgulha-se.
*A jornalista viajou a Pernambuco a convite da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe)
Joias em papel machê
Luciana Meirelles se emociona quando lembra de sua trajetória e como se reinventou profissionalmente prestes a completar 60 anos de idade. Arquiteta de formação, a pernambucana sempre teve habilidade manual — aliás, escolheu o curso por causa disso. "E, realmente, eu gostei do curso, mas não me identifiquei." Tanto que, depois de formada, Luciana foi trabalhar com produção de cerâmica, no final da década de 1980.
Dois anos depois, porém, mudou o rumo profissional e montou um pequeno ateliê de costura, em que trabalhava com malha. "Era um tipo de moda autoral, mas bem caseira. Passei 10 anos com isso e, nesse período, comecei a fazer acessórios para mim, porque sou muito alérgica e não gostava de usar metal. Eu usava couro, madeira, palha, miçanga… Mas eram materiais muito comuns e isso me incomodava", confessa.
Em 2010, Luciana largou os trabalhos manuais por um emprego fixo. E os acessórios ficaram ali meio adormecidos. No fim da pandemia, a pernambucana viu que era hora de voltar a trabalhar com o que realmente amava. "Queria criar uma peça que tivesse a minha identidade, que só eu tivesse. Não queria voltar para o barro, porque você precisa ter um local para o forno, e eu queria montar meu ateliê em casa."
Foi aí que surgiu a ideia do papel machê. A arquiteta já conhecia o material e decidiu fazer testes. Produziu algumas peças e levou para feirinhas do Recife para ver a aceitação. E viu que poderia dar certo. Investiu na produção e, em 2022, participou da sua primeira Fenearte. Surgia, assim, a Lu Madre.
A artesã sonhava em deixar o emprego para se dedicar integralmente à paixão pelos acessórios. Mas não se sentia preparada. Até que participou do programa de incubação do Marco Pernambucano da Moda para estruturar a marca. Na sequência, veio a oportunidade de fazer um curso no Instituto Rio Moda. "Eu precisava me dedicar 100%. Aí, tive coragem e pedi demissão do emprego."
E as oportunidades não pararam de chegar. Luciana recebeu o convite para fazer uma coleção exclusiva para a marca de praia Rush, do Recife, e o Instituto C&A, junto com a Nordestesse, abriu um chamado para selecionar 20 marcas nordestinas para participar de umas palestras. "Eu me inscrevi e fui selecionada. Dentro dessas 20 marcas, cinco foram selecionadas para ir ao São Paulo Fashion Week, e eu fui uma delas." Luciana também foi convidada por Cris Rosenbaum a participar da Feira de Rosenbaum. "Assim, as portas começaram a se abrir para mim."
Criação
Luciana acredita que o sucesso das suas criações se dá pela exclusividade. "Como não uso forma, cada peça minha é única. É tanto que tem peça que eu nem fotografo para colocar no site, porque não sai igual. Algumas eu consigo reproduzir e até elas saem parecidas."
Para formar a massa de papel machê, a artesã utiliza três tipos de papel: rolinho de papel higiênico, quando precisa fazer um trabalho mais rústico, que não precisa lixar; papel ofício de descarte, que recebe de doação de escritórios; e papel higiênico, quando quer fazer algo mais delicado. "Vou modelando, como se fosse barro. Aliás, eu trouxe muita coisa do barro para o papel machê." Inclusive, alguns brincos, colares e pulseiras, de longe, até parecem cerâmica.
Uma das preocupações de Luciana é com o tingimento dos acessórios. Ela usa tinta acrílica à base de água, mas sempre mistura as cores para criar o seu próprio tom, o que faz as bijus serem ainda mais exclusivas. "Eu vendo uma joia feita de um material que não é nobre, que não é uma prata, não é um ouro, mas é uma obra de arte."
Representatividade em cada peça
Desde muito jovem, Maria Alice Lima Batista pegava a máquina de costura da avó para fazer seus experimentos. “Ela é minha referência de costureira”, orgulha-se. O ingresso no curso de moda do Senac acabou se tornando um processo quase natural. De cara, os professores perceberam o talento da jovem e a incentivaram a criar sua própria marca.
A pernambucana tinha 18 anos quando abriu o primeiro MEI (programa de Microempreendedor Individual). E lá se vai mais de uma década até que a Maria Alice Atelier se tornou uma marca autoral e manual. Ela começou com a produção de camisas e t-shirts.
A primeira coleção teve como inspiração um momento que estava vivendo: a de transição capilar. “Eu fiquei quase careca, porque tirei toda a química do cabelo. E foi um processo de reconhecimento. Eu me reconheci como mulher negra, e as estampas começaram a ter essa identidade de mulher preta”, detalha.
Essa representatividade está presente nas estampas que a estilista cria. “Temos umas estampas que traduzem o candomblé, a espiritualidade. Lembro que quando lancei a estampa de Iemanjá, que foi a primeira de Orixá, não sabia como o público ia atender, porque a gente nunca tinha falado abertamente sobre o candomblé. Mas a aceitação foi massa desde o início.”
@renatsilva_fotografias/Divulgação - A estampa Gaivota é a mais famosa da marca
Nordeste presente
Bairrista assumida, Maria Alice traz Pernambuco em suas criações, como na estampa Asa Branca, até hoje a mais famosa da marca, em que o Nordeste é representado nos traços do artista popular J. Borges. “O cacto, o solzinho, a revoada estão presentes até hoje. É muito característico da nossa marca”, ressalta.
Ainda este ano, a jovem deve lançar uma coleção em parceria com rendeiras de Alagoas que trabalham com a renda filé — um bordado feito sobre uma rede de fios atados em nós. “A força do Nordeste está em todo o nosso trabalho.”
Acessórios feitos fio a fio
Arquiteta de formação, Prazeres Accioly usou, inicialmente, suas habilidades na arte de tear para criar peças de decoração. E assim permaneceu por quase uma década. Até que, há 15 anos, resolveu migrar para o mundo da moda e aplicar a mesma técnica na produção de acessórios de moda, especialmente bolsas, que se tornaram sua marca registrada.
Prazeres faz questão de explicar que, apesar de existir o tear elétrico, as suas peças são feitas 100% manualmente, trançadas fio a fio em um tear de madeira. “A minha história é pesquisar fibras e fios. Às vezes, faço combinações inusitadas. Recentemente, usei fio de cobre e tramei com buchas coloridas para dar maleabilidade à peça”, exemplifica.
O processo criativo da pernambucana começa com o desenho da peça em papel e a escolha do tipo de trama que será aplicada. Antes de pôr a mão na massa, ela planeja cada etapa, a quantidade de fios que será usada tanto na horizontal quanto na vertical, que definirá o tamanho da bolsa. “Eu achava que eu não era estilista, mas as pessoas dizem que eu sou, né?”, orgulha-se.
Perfeccionista, Prazeres faz questão de acompanhar todo o processo, mesmo depois que o tear está finalizado. Não é ela quem faz o acabamento, de colocar o fecho nas bolsas. "Mas eu compro cada pecinha e explico exatamente como quero que seja executado”, garante. O resultado são itens exclusivos e modernos, apesar de feitos com uma técnica milenar.
Como um roteiro de cinema
Tiago Salvador começa a conversa dizendo que nunca teve afinidade com a moda e caiu nesse universo totalmente por acaso. Contraditoriamente, hoje, é um dos estilistas mais badalados da nova geração pernambucana. "Aprendi a costurar porque meu pai reformava estofados e eu utilizava os retalhos para fazer coisas aleatórias, como fantasias para o carnaval. Mas só para mim", lembra.
Quando o jovem começou a trabalhar como gerente em uma loja colaborativa, pediu autorização para levar dois vestidos que tinha confeccionado para tentar vendê-los, pois estava precisando de um dinheiro extra. "Vendi os dois no mesmo dia", recorda-se. "A pessoa que comprou ficou tão encantada com a peça, que eu achei aquilo interessante. Então, em vez de ficar com a grana, decidi reinvestir na produção de novas peças."
Nesses primeiros itens, Tiago já trouxe duas de suas marcas registradas: a modelagem ampla e o uso de linho como matéria-prima. A primeira "cliente" do rapaz falou que tinha gostado do vestido justamente porque ele era oversized. "Eu nem sabia o que aquilo significava. Não entendia nada de moda", diverte-se. A inspiração, ele conta, veio, na verdade, da infância. "Eu venho de uma família bem humilde. E meus pais sempre compravam roupas maiores para nós, para que durassem mais tempo."
A escolha do linho também faz parte dos princípios do estilista. "Eu dou preferência a tecidos de fibras naturais. Eu gosto muito do linho porque ele tem durabilidade e, para mim, é importante que a roupa não seja descartável." A sustentabilidade está presente no trabalho de Tiago desde o princípio. Os dois primeiros vestidos, por exemplo, foram feitos, em parte, com retalhos.
Felipe Eugenio/Divulgação - As peças da Timóteo têm modelagem ampla e são feitas em tecido natural
Paixão pela escrita
Apesar do sucesso das primeiras vendas, Tiago continuava resistente a trabalhar com moda. Afinal, o seu grande sonho era escrever roteiros para o cinema e não criar roupas. "Eu demorei para criar uma marca, mas vi que estava tirando um dinheiro dali e estava sendo satisfatório para mim. E resolvi apostar nisso", conta. Em 2017, surgia a Timóteo — nome inspirado no seu apelido de infância, já que, quando nasceu, os pais ficaram em dúvida se o registrava como Tiago ou como Timóteo.
Para entrar de vez no mundo fashion, o pernambucano decidiu que suas roupas contariam uma história. "Na minha primeira coleção, eu criei um roteiro. Na minha cabeça, imaginei o que os personagens estavam vestindo, que se transformavam nas roupas (da coleção). Tudo agora fazia sentido", detalha. Essa primeira coleção, batizada de Corpo de Lama, foi baseada em uma música de Chico Science. "Era sobre um personagem chamado Filho do Mangue, que saía de uma zona periférica para um campo abrangente. E essa história continua a ser contada até hoje."
As peças feitas por Tiago não são baseadas em tendências, mas, sim, na sua própria história de vida. "É a minha expressão artística", resume. As peças, que costumam ser agênero e em tamanho único, de fato, trazem a identidade do estilista. Só de bater o olho, logo percebe-se que se trata de uma roupa da Timóteo.
Identidade cultural e sertaneja
Quando tinha 6 anos de idade, Ramylle Barbosa começou a se interessar por moda. Fazia parte de um grupo de costura na escola e usava a máquina da avó para fazer os primeiros testes. Mas a garota cresceu e passou a se interessar por outro tipo de arte: a música. Ela tocava em uma banda e trabalhava com produção cultural na cidade natal, Triunfo, no sertão de Pernambuco.
Como tinha afinidade com a moda, começou a fazer as próprias roupas e os figurinos dos shows. “Fazia para mim e meus amigos porque queria vestir algo diferente, mas sem fins comerciais,” reforça. Ramylle queria trazer para suas peças um pouco dessa cena cultural e artística em que estava envolvida e, assim, começou a desenvolver estampas.
A primeira que ela criou foi inspirada nos casarões de Triunfo. “Minha cidade tem uma quantidade enorme de casarões colombianos, que são preservados até hoje. E eu achava aquelas fachadas muito lindas.” Ramylle fotografou o casario e estampou um vestido. “As pessoas me viam na rua e queriam tirar a peça do meu corpo e comprar”, diverte-se.
Diante de tanta insistência, a jovem se rendeu e começou a aceitar os pedidos, produzir e vender as peças. “Como eu já tinha essa afinidade com a costura, foi natural. Mas não tinha marca, não tinha nome, não tinha nada.” A primeira coleção da Ramys, como ela batizou a marca, foi justamente inspirada nesse casarão.
Influência
As peças são agênero e diversificadas — kimonos, vestidos, camisas. A preocupação com a sustentabilidade também está presente: as roupas são feitas em viscose ecológica e a tintura é biodegradável. Triunfo, conhecida por suas manifestações culturais, como o carnaval dos caretas, em que um grupo de mascarados saem pelas ruas da cidade, é uma das principais fontes de inspiração, mas não a única.
Sempre ligada à arte, Ramylles, eventualmente, tem convidado artistas da região que trabalham com design ou pintura de quadros para estampar suas roupas. Para o futuro, a estilista está desenvolvendo trabalhos manuais com bordado e crochê, além de upcycling, com materiais que seriam descartados.
Da argila para a moda
Do Alto Moura, tradicional bairro de Caruaru que abriga ateliês de barro, vem um projeto que une sustentabilidade e geração de renda para mulheres da região. "Tem uma época que não é boa para a comercialização das peças de barro. Daí, as mulheres, principalmente, têm dificuldade para se manter", explica Marisete Bento, gestora de produção da Mulheres de Argila, que tem como lema transformar poluição em arte.
O projeto nasceu no Sebrae, em março de 2011, e já capacitou mais de 200 mulheres para confeccionar peças de vestuário e decoração com a trama do jeans. Marisete explica que a associação fez parceria com indústrias têxteis do Agreste para receber as ourelas — bordas laterais do tecido — que seriam descartadas. Pelo menos 50 milhões de metros desse material eram jogados fora por mês.
Para transformar esse descarte em uma peça artesanal, as mulheres só precisam de uma folha de isopor vendida em qualquer papelaria e alfinetes. “A partir daí, elas vão, fazendo a trama do tecido, que, depois, é costurado na máquina”, detalha. E assim surgem bolsas, mochilas e diversos acessórios de moda e de decoração.
Para desenvolver o design, a Mulheres de Argila contou com a consultoria do estilista pernambucano Melk Z-Da. “A gente queria um produto que saísse da mesmice”, conta. Além das fitas vendas das ourelas, os fios dos tecidos descartados são usados para fazer peças de crochê e de macramê que são verdadeiras obras de arte. Sustentabilidade e criatividade andando de mãos dadas.
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