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A vida em uma manobra: saiba como salvar seu pet de um engasgo

Assim como os humanos, cães e gatos também estão suscetíveis a situações de engasgo. Para evitar sequelas e, em casos mais graves a morte, os tutores devem estar preparados para salvar o animal

Veterinários orientam verificar a boca do animal antes de realizar a manobra de Heimlich -  (crédito: PetLove)
Veterinários orientam verificar a boca do animal antes de realizar a manobra de Heimlich - (crédito: PetLove)

Quem convive com amigos de quatro patas sabe que a rotina é cheia de momentos intensos. Entre brincadeiras com pequenos objetos, curiosidades inesperadas e a pressa na hora das refeições, cães e gatos estão sujeitos a situações de engasgo. Quando isso acontece, cada segundo conta e, se o tutor não agir rápido, o desfecho pode ser trágico. Nesses casos, a manobra de Heimlich surge como a principal aliada para salvar a vida do animal.

Com uma fisiologia semelhante à dos humanos, o engasgo em cães e gatos acontece quando um objeto obstrui parcial ou totalmente a traqueia. Essa barreira impede a passagem de ar para os pulmões e pode causar asfixia em poucos minutos. Apenas três a cinco minutos sem oxigênio já são suficientes para provocar danos cerebrais irreversíveis. Por isso, é fundamental que os tutores estejam preparados para agir e realizar a manobra capaz de salvar a vida do animal.

A manobra de Heimlich, criada em 1974 para ser aplicada em humanos, consiste em uma pressão súbita no abdômen ou no tórax, forçando o ar preso nos pulmões a sair com intensidade suficiente para deslocar o objeto que obstrui a traqueia. Adaptada também para cães e gatos, a técnica tem como objetivo expulsar de forma eficaz corpos estranhos das vias aéreas. No entanto, o procedimento varia de acordo com o porte do animal.

Em cães pequenos, segura-se o pet de costas, apoiando a mão logo abaixo das costelas, e aplica-se compressões rápidas e firmes para dentro e para cima, verificando a boca em seguida. Já em cães grandes, as compressões são feitas na região abdominal, para cima e para frente, seja com o animal deitado de lado, seja em pé. Nos gatos, mais frágeis, recomenda-se primeiro tentar batidas entre as omoplatas, com o felino apoiado sobre o braço, e só recorrer a compressões abdominais delicadas se necessário.

Formado pela Universidade Católica de Brasília (UCB), o médico veterinário Gabriel Magalhães relata que, apesar do sucesso da manobra, ela pode não ser suficiente para desobstruir o animal. Mesmo quando executada corretamente pelo tutor ou até pelo veterinário, em alguns casos, é necessária uma intervenção cirúrgica. "Se a técnica for feita de forma correta, ela realmente pode salvar a vida de um animal, mas dependendo da gravidade e da demora do tutor para agir, somente uma cirurgia é eficaz", assegura.

Magalhães explica que, tendo êxito ou não na manobra, é de extrema importância levar o animal a um médico veterinário após o ocorrido. "Quando um animal está engasgado, e posteriormente não está, na grande maioria dos casos, há lesões em mucosas, seja no esôfago, seja boca ou no estômago. Então, é primordial uma avaliação veterinária pós-trauma para saber o grau da lesão", detalha.

Para uma ação eficiente, de acordo com o médico veterinário Marcelo Germano, é primordial que os tutores fiquem atentos aos sinais de engasgo. Entre os sintomas mais comuns estão tosse insistente, esforço exagerado para respirar, boca aberta com a língua para fora, salivação intensa e tentativa de usar as patas para retirar o objeto da boca. Em casos mais graves, a língua e as gengivas podem ficar arroxeadas pela falta de oxigênio, e o animal pode desmaiar ou perder a consciência.

Os mais vulneráveis

O profissional alerta que algumas raças são mais suscetíveis, especialmente animais que comem rapidamente ou apresentam características anatômicas específicas. Entre os mais vulneráveis estão os braquicefálicos como pug, buldogue francês e shih tzu, que possuem vias respiratórias estreitas e palato longo, aumentando o risco de obstrução mesmo com objetos pequenos ou alimentos. 

Raças que tendem a engolir rápido, como golden retriever e border collie, também estão mais expostas, assim como cães pequenos e toy, como yorkshire, chihuahua e maltês, além de animais com boca pequena ou mandíbula frágil, que têm dificuldade para manipular ossos e brinquedos grandes. Entre os gatos, a suscetibilidade está mais ligada à idade ou à condição de saúde, sendo que filhotes e animais mais velhos têm mais dificuldade para mastigar corretamente.

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Para uma prevenção assertiva, além de se atentar às refeições, é importante evitar oferecer ossos cozidos, que se quebram facilmente, gravetos, sementes, pedaços de plantas, brinquedos pequenos e itens domésticos, como tampas, elásticos e potes. No caso dos felinos, escovar a pelagem com frequência também ajuda a reduzir a formação de bolas de pelo, outro fator que pode levar ao engasgo.

A manobra na prática

Aos 9 anos, o beagle Azeitona se engasgou ao comer muito rápido. A tutora Fernanda Silva agiu de forma rápida e inteligente, conseguindo salvar o animal. "Fiquei muito assustada quando o vi engasgado. Apesar do medo, mantive a calma, posicionei-o de cabeça para baixo e realizei a manobra. Em menos de 30 segundos, ele desengasgou e seguiu a rotina normalmente", conta.

Após o susto, Fernanda passou a acompanhar Azeitona durante todas as refeições e comprou um comedouro especial, em forma de labirinto, para que ele comesse de forma mais lenta e tranquila. Além dos cuidados com a alimentação, a tutora começou a observar os brinquedos do cachorro, evitando aqueles mais frágeis, que poderiam se romper e deixar pedaços na boca do animal.

"Passei a prestar atenção nos brinquedos que ele mais gostava, principalmente os pequenos, que ele conseguia colocar inteiro na boca. Troquei por brinquedos maiores e mais resistentes e, com essas mudanças, ele nunca mais teve um episódio de engasgo", finaliza.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

  • Azeitona se engasgou ao comer muito rápido e foi socorrido com a manobra de Heimlich
    Azeitona se engasgou ao comer muito rápido e foi socorrido com a manobra de Heimlich Foto: Arquivo pessoal
  • Depois do susto, a tutora do beagle adotou novos cuidados para evitar que o pet se engasgue novamente
    Depois do susto, a tutora do beagle adotou novos cuidados para evitar que o pet se engasgue novamente Foto: Arquivo pessoal
  • Brincadeiras também exigem atenção: pedaços soltos de brinquedos podem causar engasgos
    Brincadeiras também exigem atenção: pedaços soltos de brinquedos podem causar engasgos Foto: Reprodução/Freepik
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JC
postado em 14/09/2025 06:00 / atualizado em 15/09/2025 13:30
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