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Conhecer melhor a linguagem do amor pode facilitar a conexão numa relação

Uma relação amorosa é a melhor receita para uma vida satisfatória, prazerosa e com saúde, afirma especialista

Reconhece-se que a principal razão que faz uma pessoa buscar acompanhamento psicoterápico são suas dificuldades no relacionamento amoroso, e não é de se espantar. O psiquiatra Robert Waldinger da escola de medicina da Harvard define a relação amorosa como a melhor receita para uma vida satisfatória, prazerosa e com saúde.

Há algumas décadas a ciência da conexão entre as pessoas, que no seu início analisou a ligação entre mãe e filho, hoje traz um conjunto de conhecimento sobre a relação amorosa e o quanto os padrões de conexão vivenciados na infância repercutem nas nossas relações como adultos. Hoje já se fala em uma estratégia padrão ouro para aprimorar uma relação romântica, um programa “fitness” para a relação a partir desse princípio..

A psicóloga Mary Ainsworth, pioneira no estudo da conexão entre mãe e filho, descreve três tipos de ligação. A primeira é o bebê que não sente ansiedade exagerada com a ausência da mãe por um curto período, numa relação mãe-filho forte e de confiança. A criança explora sozinha o ambiente sem medo.

Outras crianças sofrem com a insegurança da separação, com manifestações de raiva e pânico e, ao entrarem novamente em contato com a mãe, têm menor receptividade por parte delas. E há um terceiro grupo que demonstra indiferença frente à separação ou reencontro com a mãe. Estas não têm expectativa de uma conexão segura.

A partir da década de 1980 foi sendo descrito que esses padrões na relação mãe-filho têm influência nas relações do indivíduo adulto, incluindo as amorosas. Por exemplo, a falta de atenção pela mãe quando ainda bebê pode gerar um comportamento adulto inseguro, na dúvida se têm direito aos cuidados de outra pessoa. Há os que têm um comportamento de evitação, ignoram o parceiro ou parceira, especialmente em situações de vulnerabilidade. Já parceiros seguros têm a expectativa de serem correspondidos e serem amados. Estudos longitudinais mostram que o perfil de conexão com as mães quando bebês vai se refletir no sucesso de relações sociais e amorosas na adolescência e idade adulta.

Um experimento feito com mulheres casadas apontou que, após pequenos choques, elas tinham menor ativação de áreas do cérebro associadas a respostas emocionais e comportamentais a ameaças e também menor sensação dolorosa quando seguravam a mão do marido. Essa mitigação da dor era mais significativa entre casais que mantinham uma relação de apoio mútuo. O efeito era bem menor quando seguravam a mão de um estranho ou mão alguma. Resultados semelhantes já foram demonstrados ao apenas imaginar a pessoa amada, com efeitos positivos também sobre a frequência cardíaca e níveis do hormônio do estresse.

Nossas relações fazem parte do nosso código de sobrevivência. E relações seguras nos fazem sentir protegidos de perigos e ameaças. Elas nos permitem conviver melhor com as fragilidades humanas e isso traz equilíbrio mental que se estende ao corpo.

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

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