SEM COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA

Associação repudia declarações de Trump sobre autismo, Tylenol e vacinas

Entidade denuncia discurso eugenista e alerta para riscos de políticas que desumanizam pessoas autistas

Trump diz que Lula é um bom homem e fala sobre encontro semana que vem -  (crédito: BBC Geral)
Trump diz que Lula é um bom homem e fala sobre encontro semana que vem - (crédito: BBC Geral)

A associação Autistas Brasil manifestou repúdio às declarações feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que nesta segunda-feira (22/9) associou o uso de paracetamol na gravidez e a vacinação infantil ao desenvolvimento do autismo. A entidade classificou a fala como “eugenista” e “sem qualquer evidência científica”, afirmando que o discurso ameaça políticas públicas inclusivas e reforça estigmas contra pessoas autistas.

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Durante coletiva na Casa Branca, Trump recomendou que gestantes evitem o Tylenol, medicamento à base de paracetamol amplamente utilizado há décadas, e questionou a necessidade da vacinação de recém-nascidos contra a hepatite B. Ao seu lado, estava o secretário de Saúde, Robert Kennedy Jr., conhecido por posições contrárias às vacinas. A FDA (agência reguladora de medicamentos dos EUA) informou que revisará informações sobre o paracetamol, mas reiterou não haver comprovação científica de relação causal com o autismo.

Em nota, o vice-presidente da associação Autistas Brasil, Arthur Ataide Ferreira Garcia, afirmou que as falas de Trump e Kennedy não representam somente um erro de informação, mas um projeto político de apagamento das pessoas com deficiência. “Estão reintroduzindo no século XXI a lógica eugenista que trata pessoas com deficiência como tragédia. O autismo se torna um vilão a ser combatido, e pessoas autistas são reduzidas a sujeitos desumanizados numa cruzada moral em nome de uma sociedade ‘pura’ e homogênea”, declarou Garcia.

A entidade destacou ainda que o aumento de diagnósticos de autismo nas últimas décadas não configura epidemia, mas é resultado do avanço no acesso a avaliações e maior visibilidade de grupos historicamente negligenciados, como mulheres e pessoas negras.

Garcia reforçou não haver evidências científicas consistentes que associem o uso de paracetamol ou vacinas ao autismo. “O que vemos é uma estratégia deliberada de transformar nossa condição em um mal a ser combatido, uma cruzada capacitista em nome de um mundo supostamente mais ‘normal’”, afirmou.

A Autistas Brasil também alertou para os impactos no Brasil, onde discursos semelhantes já circulam em setores ligados ao lobby de clínicas que defendem a “cura” do autismo. “O autismo não é doença e não precisa de cura. O que a sociedade deve buscar são políticas públicas que promovam emancipação, com acessibilidade, educação inclusiva, cuidado humanizado e emprego apoiado”, concluiu Garcia.

 

 

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postado em 23/09/2025 16:09
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