Saúde

Pesquisa mostra que medicamentos para TDAH não atuam como se imaginava

Estudo publicado na revista Cell revela que as medicações estimulantes não atuam diretamente nos centros de atenção, mas em áreas ligadas à vigília e à recompensa cerebral

O autodiagnóstico é um dos desafios do TDAH a nível nacional  -  (crédito: Freepik)
O autodiagnóstico é um dos desafios do TDAH a nível nacional - (crédito: Freepik)

A prestigiada revista Cell acaba de publicar os resultados de um estudo gigantesco, envolvendo quase 6 mil crianças de 8 a 11 anos, mostrando que as medicações utilizadas para o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) não têm sua ação nos centros cerebrais de atenção, mas em áreas associadas à vigília e recompensa cerebral.

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Os resultados ajudam a explicar o porquê dessas medicações estimulantes, como o metilfenidato, ajudarem no controle da hiperatividade entre esses pacientes, o que parece à primeira vista um paradoxo. Em vez de atuarem diretamente nos centros da atenção, elas fazem com que tarefas difíceis na manutenção da atenção pareçam mais interessantes por ativar os centros de recompensa cerebral e isso promove menos inquietude e menos evitação à tarefa.

Nessa pesquisa ABCD (Adolescent Brain Cognitive Development), as crianças com diagnóstico de TDAH que faziam uso dessas medicações estimulantes tinham realmente um melhor desempenho nos testes cognitivos e desempenho acadêmico. Não houve benefício dessas medicações entre aqueles sem esse diagnóstico, desde que dormissem o número de horas esperado para a idade. No caso da idade dos participantes, isso significa 9 horas.

Para aqueles sem o diagnóstico e que tinham privação de sono, as medicações ajudavam no desempenho e mitigavam sinais no cérebro de sono insuficiente. Há muitas crianças sem TDAH hoje tomando essas medicações que potencialmente teriam os mesmos ganhos cognitivos se dormissem o número de horas recomendadas para a idade. Há de se considerar os efeitos danosos da privação de sono no longo prazo, que incluem, por exemplo, maior risco de depressão, estresse celular e perda neuronal.

O estudo mostrou também os resultados de um grupo bem menor de adultos em que a ação dessas medicações era idêntica à das crianças: áreas vinculadas à vigília e recompensa cerebral.

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

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RA
postado em 30/12/2025 14:05
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