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Fim do mistério: humanos foram responsáveis pela extinção da megafauna

A caça dos humanos primitivos realmente foi responsável por eliminar grandes mamíferos do passado, o que foi descoberto ao analisar clima e costumes antigos

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Caça primitiva mamute arte -  (crédito: Ernest Grise/William H. Jackson/Getty's Open Content Program)
Caça primitiva mamute arte - (crédito: Ernest Grise/William H. Jackson/Getty's Open Content Program)
Augusto Dala Costa - Canaltech
postado em 02/07/2024 14:39

Nós, humanos, fomos os principais responsáveis pela extinção dos mamíferos gigantes, chamados de megafauna — essa é, ao menos, a conclusão de uma equipe de cientistas da Universidade de Aarhus que revisou e compilou artigos sobre o tema, publicando os achados na revista científica Cambridge Prisms: Extinction.

Nos últimos 50.000 anos, inúmeras espécies de mamíferos, répteis e aves desapareceram do planeta, especialmente os grandes. Esse “grande” abarca desde animais com 45 kgs até os herbívoros de uma tonelada para mais, estes últimos os mais seriamente afetados.

Pelo menos 161 espécies de mamíferos da megafauna foram extintos nesse período, e 46 delas eram de megaherbívoros. Das 57 espécies vivas nessas dezenas de milhares de anos, apenas 11 restam — e muitas estão em risco de extinção, com números cada vez menores.

Papel humano na extinção

A megafauna, no passado, incluía preguiças-gigantes e gliptodontes, mas hoje é restrita a espécies menores, salvo raras exceções, como avaliam os cientistas (Imagem: Svenning et al./Cambridge Prisms: Extinction)

A pesquisa envolveu vários campos diferentes da ciência, com foco especial em estudos diretos sobre a extinção de grandes animais. Foram incluídas análises sobre a época da extinção, preferências alimentares, requisitos de clima e habitat, estimativas genéticas do tamanho das populações e evidências de caça por humanos.

E, para descartar ou incluir possibilidades, estudos de campos mais diversos foram de suma importância:

  • Histórico do clima nos últimos 1—3 milhões de anos;
  • Histórico da vegetação nos últimos 1—3 milhões de anos;
  • Evolução e dinâmica da fauna nos últimos 66 milhões de anos (fronteira Cretáceo-Paleógeno);
  • Dados arqueológicos sobre expansão e estilo de vida humanos, preferências alimentares inclusas.

Isso possibilitou descartar o protagonismo das mudanças climáticas, mesmo os efeitos severos do resfriamento dos períodos glacial e interglacial, no chamado final do Pleistoceno (130 mil a 11 mil anos atrás). Animais e plantas foram, de fato, afetados globalmente, mas só foram identificadas extinções nos grandes animais, em especial os maiores deles.

Os mamutes-lanosos eram muito bem adaptados à Era do Gelo, mas seu fim não foi o suficiente para extingui-los: houve papel humano (Imagem: Charles R. Knight/Domínio Público)

Períodos interglaciais e eras do gelo de períodos anteriores não causaram o mesmo efeito. Para completar, extinções de megafauna recentes ocorreram tanto em áreas onde o clima é estável quanto nas de clima instável, mostrando que a mudança de temperatura não é o fator principal.

Indo para a arqueologia, foram encontradas evidências de armadilhas feitas por humanos para capturar e matar grandes animais, bem como análises de isótopos mostrando restos de proteína nas pontas de lança vindas dos grandes mamíferos.

Os humanos primitivos eram caçadores habilidosos, e tinham a habilidade de reduzir a população de animais. Mais vulneráveis, os maiores deles possuíam longos períodos de gestação, davam à luz poucos filhotes e levavam muitos anos para chegar à maturidade sexual, então explorá-los em nível excessivo era fácil para nossos ancestrais.

A arte rupestre mostra a valorização da caça por sociedades do passado — espécies grandes eram as mais vulneráveis aos antigos humanos (Imagem: Claude Valette/CC-BY-4.0)

As espécies antigas foram extintas em períodos diferentes, acontecendo rapidamente em alguns lugares e levando até 10.000 anos para sumir em outros. Em todos os locais, isso aconteceu após a chegada dos humanos, e, na África, após avanços culturais e tecnológicos da nossa espécie. Espécies de todos os continentes sumiram, menos na Antártida, e em todos os ecossistemas.

A perda da megafauna, que incluía mamutes, mastodontes e preguiças-gigantes, teve consequências ecológicas profundas, apontam os cientistas. Tais espécies influenciam na estrutura da vegetação, balanceando áreas de floresta densa e descampados, dispersam sementes e ciclam nutrientes.

Mudanças na estrutura dos ecossistemas e de suas funções ocorreram após extinções dos grandes mamíferos. Isso mostra a importância de conservar e restaurar ambientes — e, se possível, reintroduzir a megafauna neles.

Fonte: Cambridge Prisms: Extinction

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