Cyro Chagas, professor doutor da divisão de Química Analítica da Universidade de Brasília (UnB)
Por que o nitrito é utilizado em bebidas adulteradas?
Esse composto pode estar sendo aplicado como conservante da bebida, um uso proibido do nitrito. Algumas bebidas até têm adição de sais químicos para aumentar a durabilidade, como os vinhos, que recebem sulfitos para se conservarem por mais tempo. Mas, nesses casos, o uso é autorizado. Já a mistura com nitrito pode indicar adulteração ilegal nos líquidos. É mais provável que esse produto seja usado com objetivo de conservação porque como é um fixador de cores avermelhadas, não faria muito sentido que fosse aplicado para intensificar ou mudar a cor de bebidas como suco de laranja e água mineral, os itens testados no estudo da UFSCar.
Há viabilidade do sensor para testagens na prática?
Até por já ter experiência com detectores à base de eletrodos de baixo custo, acredito que a grande questão para o aparelho com cortiça ter uso comercial é saber se há condições de reprodutibilidade. É um desafio criar equipamentos padronizados quando se usa materiais naturais, como a cortiça, de ponto de partida. Porque ela sempre vai ter, por exemplo, poros diferentes de uma peça para outra. Acredito que vários sensores poderão ser desenvolvidos no futuro, até considerando que o cenário científico para isso hoje está mais estruturado. A academia aprendeu a lidar melhor com a inovação, com mais empresas e startups. O nosso grande desafio é tirar as ideias da bancada e levar para o mercado. Ou seja, retornar a pesquisa para a comunidade e, com isso, melhorar a vida do brasileiro de alguma forma, se integrando ao Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo. (AA)