A criatividade é uma das características mais buscadas no diferencial de uma empresa. Personalíssima, é um instrumento de inovação e também de construção de novas possibilidades, provocações, sabores, reconhecida pela Unesco, que tem o dia 21 de abril como o Dia Mundial da Criatividade. Escolher pratos para um cardápio de um restaurante baseado na criatividade é um desafio e um risco que somente chefs abertos ao novo são capazes de enfrentar. Assim o fez o chef Danilo Takigawa no seu restaurante ASU.
Aberto em 2021, no turbilhão dos momentos pandêmicos, o ASU vem ganhando espaço na étnica e diversa gastronomia curitibana, que tem na culinária de imigração sua maior referência cultural. Sempre falo que cidades como Curitiba não possui um prato típico, mas sim, um encontro étnico de imigração que continua a construir a história gastronômica da cidade. No qual se insere o ASU e todas as suas referências criativas.
Novo menu degustação em 9 etapas
O menu degustação do ASU, que fica numa das regiões que mais crescem em número de empreendimentos gastronômicos na cidade, entre a Alameda Augusto Stellfeld e a Prudente de Moraes, traz uma combinação interessante do melhor da culinária internacional, como os snacks de Peixe com crocante de quinoa negra, alga kombu e creme de tofu com pimenta fermentada, ou ainda o Chawanmushi com ovas de peixe voador e oleo de gergelim.
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A sequência, além de criativa, é uma aula de ingredientes, técnicas e origens. América do Sul, África, Japão não sei se proposital ou intuitivamente o Chef Danilo nos leva nessa viagem onde toda conexão é um pouco permitida, como por exemplo, servir de entrada pudim salgado japonês (o Chawanmushi) e de sobremesa um sorvete de avocado com gaspacho de pepino, ou seja do Japão à Andaluzia na Espanha.
Do mar a terra
O menu segue com as italianas focaccias de fermentação natural, servidas com creme de ricota, berinjela defumada, manteiga noisette (cozida para adicionar mais sabor). Dois pratos do mar e um da terra. O primeiro uma porção de dourada ao molho de vôngole com alho poro e espinafre, gordura de pato com semente de abóbora, vagem tostada na churrasqueira, cebola crocante e pó de espinafre. O que estava completamente interessante. O segundo um marisco com gordura bovina assada na churrasqueira, polenta cozida com água de tomate, lardo, wakame, caldo de embutidos, que foi uma das surpresas da noite.
Da terra, um dry aged de pato – técnica de maturação a seco, um processo usado para amaciar e intensificar o sabor da carne, especialmente cortes de alta qualidade, o que foi feito por 35 dias e depois, grelhado na churrasqueira, com brócolis tostado servido com laranja e figo fermentado e radite roxo, molho do pato com especiarias. De certo um dos pontos altos do menu, juntamente com o sorvete de avocado servido no gaspacho de pepino.
Avocado x abacate
Devido ao maior teor de gordura, o avocado tem um sabor mais rico e mais forte comparado ao abacate comum, que é mais leve e às vezes descrito como mais aquoso. Na combinação com a suculência do gaspacho – essa sopa fria espanhola – no ASU feita de pepino, deixou tudo realmente criativo e interessante.
Um menu repleto de referências da culinária oriental, italiana, espanhola, brasileira, o que me faz mais uma vez reafirmar o quanto Curitiba tem como culinária típica a miscigenação étnica de imigração. E para acompanhar tudo isso, um saboroso vinho sul-africano (na adega do ASU tem mais que pinotages), para lembrar uma viagem enogastronômica pela África do Sul que nos rendeu uma noite de bom papo e lembranças afetivas.
Culinária de imigração
A culinária de imigração reflete esse fascinante processo de intercâmbio e adaptação cultural, onde as tradições gastronômicas dos imigrantes se misturam com os ingredientes e costumes do país acolhedor. Esse fenômeno resulta em uma rica diversificação dos cardápios locais e na criação de novos pratos que muitas vezes se tornam emblemáticos da identidade nacional. Combinação que a formação do Brasil tem em suas memórias, na história.
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A culinária dos imigrantes miscigenada a dos povos originários não só enriquece a oferta gastronômica, mas também serve como um elo de conexão entre diferentes culturas, promovendo o entendimento entre grupos étnicos variados. Esse intercâmbio culinário demonstra como a alimentação pode ser uma poderosa expressão de identidade cultural e um meio de integração social.
Afinal, onde seria possível combinar alga, língua com cumaru, focaccia, gaspacho e pato senão no Brasil. Sair de casa para comer bem por aqui é viajar por tudo isso. Ainda bem.
Thiago Paes é colunista de Turismo e Gastronomia. Apresentador no canal Travel Box Brasil e está nas redes sociais como @paespelomundo.
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