O Rio Grande do Sul com seus 497 municípios e 27 regiões turísticas é um dos estados mais importantes do turismo nacional e conta com esse setor para movimentar sua economia através de sua oferta de hotéis, restaurantes, vinícolas, artesãos e meios de transporte. Todos os segmentos juntos empregam cerca de 200 mil pessoas direta- ou indiretamente. Muitas pessoas, portanto, dependem das atividades turísticas para sustentar suas famílias.
Segundo o Observatório de Turismo do Rio Grande do Sul que compila os dados referentes aos meios de hospedagem no estado. No total, estão inventariados 1.755 estabelecimentos, categorizados entre: hotéis, pousadas, flats, resorts e “hostels”. Os meios de hospedagem do Rio Grande do Sul dispõem de um total de 135.365 leitos, cujas maiores concentrações estão nas regiões das Hortênsias (22%), Porto Alegre (16%) e Litoral Norte (14%). De todos os 497 municípios, um total de 285 (57,3%) contam com pelo menos um Meio de Hospedagem listado. Cerca de 80% dos estabelecimentos gaúchos são de pequeno porte, ou seja, com até 50 unidades habitacionais (apartamentos). Porto Alegre dispõe de 9.400 UHs além de outras 24.500 UHs em outros municípios em um raio de 150km. O diretor de Turismo da Secretaria da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (Sedactel), Abdon Barreto Filho, destaca a importância do levantamento. “Os estudos do Observatório de Turismo acompanham o desenvolvimento do fenômeno turístico e seus impactos, como geradores inequívocos de empregos e renda”, afirmou.
Consequências da tragédia climática para os destinos
Os destinos estão vazios já que 73% dos atrativos turísticos do estado foram afetados pela tragédia climática em diferentes níveis de severidade. Hóspedes não virão tão cedo já que cerca de 55% dos municípios pesquisados ainda não conseguem mensurar o tempo que levarão para recuperarem-se dos estragos.
A campanha que repete o mote da pandemia: “Não cancele. Remarque!” surte pouco efeito dada a imprevisibilidade do prazo para recuperação das áreas atingidas além dos permanentes alertas de novas chuvas que são veiculadas na mídia. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH/RS) monitora o setor e afirma que os prejuízos são incalculáveis. Só na Serra Gaúcha – Gramado, Canela, Nova Petrópolis, por exemplo – são estimados R$ 400 milhões em receitas que deixarão de fluir para a região.
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O técnico em hotelaria da ABIH/RS, José Justo, afirma que só estão na Serra Gaúcha neste momento, visitantes muito corajosos. “A empreitada para chegar até lá é ingrata. O percurso que leva normalmente duas horas, hoje leva cinco ou seis”. Há desmoronamentos nas BRs federais 386 e 116 além das rodovias estaduais RS-110,122, 129,13, 332, 348 e 386. É necessário utilizar desvios vicinais, de chão batido ou completamente encharcadas. Cerca de 67% dos acessos rodoviários estão comprometidos, além do principal “hub” de chegada de visitantes, o Aeroporto Salgado Filho na capital ainda sem previsão de reabertura, causando impactos gigantescos no turismo de negócios, eventos e de lazer. “Não há condições para a atividade turística” salienta Justo.
Gramado (principal símbolo turístico gaúcho) enfrenta desmoronamentos em alguns bairros. Os hotéis estão fechados ou só recebem um ou outro hóspede que decidiu não arriscar ir embora. Não vale a pena abrir a maioria dos cerca de 500 meios de hospedagens da região. A cidade recebe cerca de 8 milhões de visitantes por ano – do próprio estado, do país e exterior – segundo informa o Sindicato das Empresas de Turismo do Estado, utilizando dados do Sebrae/RS. Só no município deixarão de ser arrecados R$ 100 milhões em junho e julho, meses da alta estação. “São recursos que chegam através dos turistas que vêm curtir nossa hotelaria e gastronomia”, disse Ricardo Bertolucci Reginato, secretário de Turismo de Gramado.
Funcionários temem perder os empregos e entidades ligadas ao turismo tentam negociar com os sindicatos e vários níveis de governo as medidas que garantirão a estabilidade de emprego até a normalização das atividades.
Hotelaria gaúcha e o programa hospedagem solidária
No meio deste cenário de tragédia, alguns hotéis de Porto Alegre acolhem moradores desalojados da própria capital, além de voluntários e forças de segurança. Gabriela Schwan Poltronieri (CEO da Rede Swan Hotéis e representante do FOHB no Estado) idealizou e lançou o programa “Hospedagem Solidária” com adesão imediata de 19 hotéis de Porto Alegre que disponibilizam mais de 100 UHs gratuitamente para quem necessita de hospedagem para execução de trabalhos de recuperação das áreas devastadas da capital entre outras atividades assistenciais.
Outros problemas acometem as cidades procuradas por pessoas que fugiram da Grande Porto Alegre. Capão da Canoa, no Litoral Norte, com seus 80 mil habitantes, por exemplo, está com superlotação. Foram para lá aproximadamente 300 mil pessoas, segundo a prefeitura local. A cidade não está preparada para suportar tamanho volume de pessoas nessa época do ano. Há registros de problemas de abastecimento nos supermercados e restaurantes além do temor geral em relação à segurança pública, fato que gera preocupação também em inúmeras outras cidades gaúchas.
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Quem tem uma casa ou apartamento nas regiões afetadas pode ajudar acessando o Airbnb.org. É possível oferecer acomodações gratuitamente ou com descontos. A empresa isenta todas as taxas de serviços para hóspedes e anfitriões enquanto a hospedagem estiver no Airbnb. Outro ponto importante é que a plataforma permite que todos os impactados cancelem suas reservas sem nenhum prejuízo ou multas.
“Será necessário recuperar a reputação do destino turístico em mercados tradicionais e mitigar o efeito da catástrofe sobre a imagem do RS em mercados potenciais”
Maarten Van Sluys (Consultor Estratégico em Hotelaria – MVS Consultoria)
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