
Em nenhuma outra cidade o horizonte conta a história da modernidade tão bem quanto em Chicago. A capital do Midwest é um laboratório a céu aberto, onde ferro, aço e vidro se encontraram para reinventar a forma de morar, trabalhar e olhar a cidade. Nas calçadas e no vai e vem do Loop – a área mais vibrante da cidade, no Rio Chicago e nos reflexos que parecem cinema, aliás muitos filmes e séries já foram gravados por lá. E ainda, no Lago Chicago, que de tão grande, dá até para achar que é mar. E claro, nas alturas das plataformas de vidro que tiram o fôlego!
Onde tudo começou: da madeira ao ferro e vidro
O Grande Incêndio de Chicago, em outubro de 1871, foi a faísca — literal e simbólica — de uma transformação urbana sem precedentes. Em dois dias de vento forte e seca histórica, mais de 17 mil estruturas ruíram, cerca de 100 mil pessoas ficaram desalojadas e a cidade de madeira aprendeu, à força, a pensar em aço, alvenaria e planejamento.
A lenda mais famosa culpava a vaca da Sra. O’Leary por chutar uma lamparina no celeiro da família, iniciando o fogo na DeKoven Street. Anos depois, admitiu-se que a história não era verdadeira e foi fruto de um sensacionalismo de época. A causa exata nunca foi comprovada, mas o legado é claro: códigos de construção mais rígidos, novas técnicas, e um apetite por modernidade que colocaria Chicago na vanguarda dos arranha-céus. Para quem visita hoje, entender esse “antes e depois” ajuda a decifrar porque a cidade abraçou fachadas de vidro, estruturas metálicas e uma estética limpa que redefiniu o skyline.
A estrutura ortogonal em ferro (que depois evoluiu para o aço) trouxe um novo jeito de erguer edifícios: o esqueleto suportava o peso, liberando as paredes, que podiam virar grandes panos de vidro. Nascia o princípio da “parede cortina”, que transformou luz natural em protagonista e possibilitou plantas internas muito mais flexíveis, com canalizações e circulações reorganizadas. No começo, a inexistência de elevadores elétricos tornava a ideia de subir muitos andares um pouco inviável, mas, à medida que a tecnologia evoluiu, os primeiros arranha-céus se tornaram realidade — e mudaram o mundo.
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Arte na rua e no museu, característica básica de Chicago
O coração contemporâneo da cidade: o Millennium Park e a Cloud Gate. A escultura espelhada de Anish Kapoor — carinhosamente chamada de “The Bean”, por ter sua forma parecida com um feijão. A visita é um convite perfeito à fotografia e uma introdução lúdica à relação de Chicago com o vidro e a transparência. Além disso, interagir e assistir as pessoas interagindo com a obra de arte é uma diversão à parte.
O Millenium Park é um centro premiado de arte, música, arquitetura e paisagismo. Suas características proeminentes são o Jay Pritzker Pavilion, projetado por Frank Gehry, o local de concertos ao ar livre mais sofisticado desse tipo nos Estados Unidos. Durante o verão, todas as terças-feiras é possível curtir uma sessão de cinema gratuitamente. As pessoas levam toalhas de piquenique e se espalham pelo gramado. Mas também dá para assistir das confortáveis cadeiras do local.
A poucos passos do Millennium Park, está o Art Institute of Chicago, onde a modernidade ganha salas e história. Por lá é possível encontrar tanto obras de artistas mais contemporâneos quanto arte clássica, como egípcia, grega e romana. Há também os vitrais de Marc Chagall, uma homenagem do artista ao bicentenário da América. E ainda, uma área dedicada ao impressionismo, com obras de Renoir e Monet.
Chicago é uma cidade para se conhecer caminhando, pois a cada quarteirão é possível se deparar como uma obra de arte, seja ela fixa ou temporária. Por isso, caminhe olhando para cima e para os lados.
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Tenha um olhar especial durante a noite, quando a cidade se transforma. Apesar de tantos arranha-céus, eles não estão amontoados. Por isso, a profundidade e altura dos prédios com a escuridão da noite e luzes da cidade dão uma impressão de Gotham City, juntando modernidade e mistério.
Um olhar que vem do rio: aula de arquitetura em movimento
Para entender a cidade por dentro, a melhor maneira é fazendo um cruzeiro pelo Rio Chicago. Guiado por especialistas do Chicago Architecture Center, o passeio com a First Lady Curises pelo rio é um dos tours arquitetônicos mais completos do mundo. Em aproximadamente 90 minutos, o cruzeiro percorre um século de ideias, estilos e soluções urbanas, enquanto edifícios icônicos desfilam pelas margens.
O que você vai ver:
- Clássicos do “Chicago School” e da era moderna, com suas estruturas metálicas aparentes e fachadas envidraçadas.
- Ícones como o Wrigley Building, a Tribune Tower (um diálogo entre o gótico e o moderno) e o Marina City.
- A controversa Trump Tower
- As incríveis pontes que atravessam o Rio Chicago
O ideal é reservar o passeio com antecedência, especialmente entre primavera e outono, quando o clima convida a sentar no deck. Vale chegar com antecedência e enquanto espera caminhar pelo “Chicago Riverwalk” e conferir um pouquinho das fachadas envidraçadas tomando um café.
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Subir é preciso: os mirantes que mudam a perspectiva
Se arquitetura se entende com o olhar, nada como subir. Chicago tem dois observatórios que oferecem experiências complementares — e que ajudam a ler a cidade do nível da rua até o topo dos arranha-céus.
- Skydeck Chicago (Willis Tower): A bordo do elevador ultrarrápido, você chega ao 103º andar do prédio que já foi o mais alto do mundo. O destaque é o The Ledge: caixas de vidro que avançam para fora da fachada. Pisar ali é experimentar, de forma visceral, a lógica da parede cortina e da estrutura em aço — você literalmente flutua sobre a cidade.
- 360 Chicago (no 875 N Michigan Ave): Aqui, o foco é o encontro da cidade com o lago. As vistas abraçam a Magnificent Mile, o azul do Michigan e a malha urbana que se estende até perder de vista. Para os corajosos, o TILT inclina a fachada e você… inclina junto, numa coreografia de vidro e gravidade.
Quando for visitar os dois mirantes, espalhe as idas ao longo do dia para capturar a cidade em diferentes luzes. Com o CityPass é possível já garantir a entrada em diversos atrativos, e tanto o Skydeck quanto o 360 Chicago estão disponíveis nele – e também o Art Institute of Chicago. O aplicativo é bem intuitivo e os locais estão bem-preparados para receber quem já chega com o CityPass.
Andersonville: ares de interior em Chicago, mas preservando arquitetura fascinante
Já Andersonville é a Chicago que sorri em sueco. No século XIX diversos suecos migraram para Chicago, buscando melhores oportunidades econômicas e mais liberdade social e religiosa. E os suecos se instalaram de uma maneira bastante criativa. Por isso, o bairro possui um toque artesanal no país que se destaca tanto pela tecnologia e grandes indústrias. Esse paradoxo leva um charme único a Andersonville.
O bairro floresceu justamente no rastro do grande incêndio. Com o centro devastado, ondas de imigrantes — em especial suecos — subiram para o North Side, e a expansão dos bondes no fim do século 19 abriu caminho para casas elegantes de tijolo, vitrines independentes e uma rua principal vibrante ao longo da Clark Street.
Hoje, Andersonville é lar de uma das maiores comunidades LGBTQ+ de Chicago, mistura arquitetura histórica com bares dinâmicos e cultiva a fama de “capital local das lojas”, com butiques autorais, brechós com curadoria afiada, lojas de vinil, livrarias-cafés, antiquários irresistíveis e presentes feitos à mão, sem esquecer dos doces suecos autênticos.
Entre bares e restaurantes, o destaque vai para dois locais que são completamente diferentes um do outro, mas que mostram igualmente a diversidade do bairro:
- Minyoli – Comida Taiwanesa: O restaurante é o primeiro em Chicago que serve culinária juann cun taiwanesa. O chef Rich Wang trabalhou em restaurantes com estrelas Michelin e estudou a arte do macarrão artesannal na China. Entradas deliciosas, noodles e os drinks são incríveis. Para a sobremesa, o sorbet é simples e muito saboroso. O destaque vai para o sabor de gergelim.
- Simon’s Tavern: o bar existe desde 1934, e tem toda a cara de bar americano, com um balcão enorme que estimula a interação. O local está com o terceiro proprietário que mantém a tradição desde sua abertura: por lá só se paga em “cash”. Por isso, esqueça seu cartão de crédito e saque seus dólares para desfrutar desse ambiente inigualável. Com sorte, você será recebido por Scott Martin, o atual proprietário que é uma atração à parte. Muito empolgado, ele conta como a história do bar se mistura com a história do bairro e com o período da Lei Seca, quando funcionava como um bar clandestino ilegal durante os últimos anos da lei.
Chicago é uma cidade única nos Estados Unidos, às vezes preterida por quem viaja repetidamente ao país e não faz ideia do que está perdendo!
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