
A prática nascida nas praias do litoral carioca ganha força em Belo Horizonte como ferramenta de inclusão, bem-estar, estilo de vida e ocupação afetiva dos espaços públicos. Se você ainda não cruzou, com certeza irá cruzar por aí com um grupo de pessoas batendo bola com os pés, ombros e cabeça, em perfeita sintonia, ao som de música boa e risadas espalhadas pelo ar. A cena, cada vez mais comum em praças e parques de Belo Horizonte, não é futebol nem futevôlei é a altinha, um esporte coletivo que nasceu nas areias do Rio de Janeiro e, agora, ganha contornos de movimento social, cultural e turístico na capital mineira.
Criada de forma espontânea e despretensiosa entre amigos que se desafiavam a não deixar a bola cair, a altinha nasceu, evoluiu e passou a representar muito mais do que uma prática esportiva. Em Belo Horizonte, esse fenômeno tem nome e tem no Beagalta, o grupo que realiza encontros abertos, treinos e aulas semanais voltadas à difusão e inclusão da modalidade.
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Além do jogo, a altinha é um estilo de vida
A altinha é democrática, acessível e exige apenas uma bola e disposição para jogar. Mas o que realmente a diferencia de outros esportes é a experiência coletiva que se constrói em torno dela. “A bola no ar é só o pretexto, o que importa mesmo é o que rola em volta dela: novas amizades, ocupação consciente do espaço público e um senso de comunidade que vai além do esporte”, afirma Lucas Pedersoli um dos idealizadores do Beagalta.
Segundo os praticantes, a altinha funciona quase como uma meditação ativa, jogar exige presença total, é aquele tempo para nós, que todos tentamos conquistar para desligar da correria e do stress do dia a dia. O corpo se movimenta, o cérebro toma decisões rápidas, a mente relaxa e tudo isso acontece em um ambiente leve, acolhedor e vibrante. Quem chega estressado, sai sorrindo, quem vem sozinho, sai com novos amigos. A gente se encontra sem nem precisar conversar, basta passar a bola.
Em plena capital mineira, a altinha encontrou solo fértil para crescer longe do mar. Aos domingos, das 9h às 17h, o Parque Ecológico da Pampulha se transforma em um grande ponto de encontro de altinheiros, o nome dado aos praticantes desta modalidade. Para pessoas de todas as idades, além dos jogos, há aulas gratuitas para iniciantes, piqueniques, rodas de conversa e até rodas de pagode, o famoso PagodAlta, mais um dos nomes inusitados que a tribo atribui ao estilo musical.
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Durante a semana, o Beagalta também realiza aulas na Praça da Assembleia, às segundas, terças e quintas, tudo de forma gratuita, aberta e acolhedora. O esporte também vem sendo incorporado a ações sociais, colônias de férias e projetos de juventude. Seu baixo custo e alto impacto físico, mental e social, tem chamado a atenção de educadores, terapeutas e profissionais da saúde.
Os benefícios da altinha vão além da diversão, a prática combina exercícios com movimentos de força, agilidade e velocidade, podendo queimar até 700 calorias por sessão. Os ganhos físicos incluem melhora do condicionamento físico, fortalecimento muscular, equilíbrio e agilidade, mas o impacto na saúde mental também é o que torna o esporte ainda mais notável.
“A altinha mudou minha vida. Me tornei mais confiante, mais saudável, fiz amigos e vi pessoas superando até quadros de depressão por conta do ambiente acolhedor”, relata um dos jogadores do grupo.
A dinâmica do jogo exige concentração, tomada de decisão rápida e cooperação constante, isso favorece o desenvolvimento cognitivo, o foco e até o controle emocional. “Quem joga com a cabeça cheia, joga mal. É preciso estar presente e isso, por si só, já é um alívio para muita gente”, comentam os praticantes.
Do improviso à profissionalização
Ainda considerada uma modalidade amadora, a altinha já conta com torneios nacionais, como o Pipalta, na Praia da Pipa (RN), que reúne atletas de vários estados e países, em BH, o Beagalta sonha alto e quer transformar a cidade em um polo oficial do esporte. “Já recebemos pessoas do Japão, da França, da Argentina. Pessoas que vem a Belo Horizonte e vão para outros lugares e Estados a procura da altinha como experiência turística. Temos potencial de nos tornar referência nacional e até internacional”, projeta um dos fundadores.
Para isso, o grupo busca parcerias com poder público e instituições que possam ajudar com infraestrutura básica: pontos de hidratação, sanitários, espaços sinalizados e seguros para prática esportiva, “A cidade só tem a ganhar: movimentamos o espaço público, promovemos saúde e atraímos gente. É uma oportunidade de ouro”, salienta um dos fundadores do grupo.
E falando em disputas, a equipe de Belo Horizonte sagrou-se vice campeã do 1º Campeonato de altinha o “ALTAVIBES”. O torneio aconteceu em Itacaré, BA, nos dias 26 e 27 de julho deste ano.
Em setembro a equipe mineira se prepara para o maior Campeonato de Altinha do País, o “PIPALTA”, que acontecerá em Pipa, RN. Será que essa turma conseguirá repetir ou até melhorar sua posição? Isso não sabemos, o que sabemos é que em média cada torneio desses tem aproximadamente 150 atletas, que atraem por dia em média 300 a 400 pessoas, isso depende do local e do tamanho do torneio.
Se você ficou curioso, mas nunca jogou, a dica é simples: esqueça a vergonha e se permita, os fundamentos são fáceis de aprender (pé, ombro e cabeça) e a acolhida é garantida.
“Não é sobre habilidade, é sobre conexão. Quanto melhor a gente joga, mais a gente se diverte e mais a gente quer estar junto”, diz o Beagalta. O convite está feito, leve sua canga, sua garrafinha de água, sua alegria e entre na roda.
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