
Quando falamos em projetos culturais que são oferecidos ao público, especialmente aqueles, que se beneficiam de incentivos fiscais, por regra devem se preocupar com um fator bastante importante, a democratização do acesso, que é um conceito central quando falamos de cultura, educação, comunicação e cidadania.
A democratização do acesso diz respeito à “ampliação das oportunidades de participação da população em bens e serviços que antes eram restritos a determinados grupos sociais”.
No campo da cultura, isso significa garantir que todas as pessoas, independentemente de classe social, sua localização geográfica, escolaridade ou renda, possam vivenciar, consumir e produzir cultura democraticamente.
Isso aparentemente parece ser fácil de ser posto em prática, mas nem sempre esta é a realidade, por isso hoje, vamos analisar casos específicos onde atividades culturais, segmentadas ou não, são apresentadas amparadas pelo caráter da democratização do acesso para todos.
No caso de espaços públicos como teatros, emissoras de TV, como as legislativas por exemplo e em programas culturais abertos, a democratização se concretiza quando a programação é gratuita ou acessível financeiramente, quando a curadoria das apresentações valoriza a diversidade de expressões culturais, incluindo artistas locais, periféricos e independentes, quando a comunicação é inclusiva, com linguagem clara, acessibilidade para pessoas com deficiência e alcance em diferentes meios e quando a formação de público é incentivada, com ações educativas, oficinas, debates e mediações que aproximam o cidadão da arte.
Importantíssimo destacarmos isso porque o acesso à cultura é um direito constitucional e um instrumento de transformação social.
Quando o Estado promove espaços culturais abertos e plurais, ele não apenas oferece lazer, mas o importante é que ele forma cidadãos críticos, fortalece identidades, estimula a economia criativa e combate desigualdades.
Aqui em Minas Gerais, temos um belo exemplo desta natureza. Falamos da iniciativa da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que ao manter espaços como o Teatro da Assembleia, a TV Assembleia e um programa semanal voltado à cultura, representa um exemplo concreto de como o poder público pode atuar diretamente na democratização do acesso à arte e à informação.
Naturalmente existem outros casos similares no Brasil.
Diversas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais mantêm emissoras próprias, como a TV Câmara em Brasília e a TV Assembleia do Ceará, que também promovem conteúdos culturais e educativos.
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Além disso, instituições como o SESC, mantidas por entidades do sistema “S”, são referências nacionais na promoção de cultura acessível, com teatros, centros culturais e programação gratuita ou a preços populares. Em Belo Horizonte, vivemos essa realidade com o Centro de Cultura Nansen Araújo, também conhecido por Centro de Cultura SESIMINAS. Uma jóia cultural no coração da cidade.
Em São Paulo a Assembleia Legislativa promove o projeto “Arte na ALESP”, com exposições e apresentações abertas ao público. Essas iniciativas mostram que, quando há vontade política e visão estratégica, o Estado pode ser um agente ativo na formação cultural e no desenvolvimento social.
Diante dos fatos e dos ares culturais atualizados, hoje a pauta é para divulgação de um espetáculo musicalmente bastante rico, o Alma Barroca, que se apresenta no dia 06 de outubro próximo, segunda feira, às 20 horas no Teatro Assembleia em Belo Horizonte.
O Segunda Musical
Mas antes de falarmos do espetáculo, é importante apresentarmos o belíssimo projeto Segunda Musical, que em 2025 completa vinte e quatro anos e acontece toda segunda-feira, às 20 horas, no Teatro da Assembleia.
Nos recitais do Segunda Musical, apresentam-se estudantes, professores e músicos consagrados da música erudita. Os músicos são selecionados em audição publica, reservando-se algumas datas para músicos profissionais e consagrados.
O principal objetivo do programa é oferecer ao público um importante oportunidade de apreciação e conhecimento da música erudita, além de abrir espaço do Teatro e da TV Assembleia para os jovens talentos do Estado e profissionais já consagrados nacional e internacionalmente.
Em 2009 um passo louvável foi dado no desenvolvimento do “Segunda Musical”, a interiorização. Para fazer justiça ao título de programa estadual os conservatórios do interior e universidades federais, como as de São João Del Rei e Ouro Preto, foram convidados para que os seus alunos e professores participem.
Dentro dessa política, em 2010, foi firmada parceria com o Instituto Cervantes, que incrementou o intercâmbio internacional do programa, tanto na Europa quanto na América Latina.
Por lá, na coordenação do espaço, já passaram nomes importantes como o da criadora Cláudia Bento e a direção artística do programa era de responsabilidade da professora Míriam Bastos que posteriormente assumiu, também, a produção artística, até 2008.
No ano de 2009 o cravista e servidor da Casa Antônio Carlos de Magalhães assumiu estas funções.
Atualmente o programa conta o apoio institucional da Fundação de Educação Artística, do Instituto Cervantes de Belo Horizonte, das Universidades Federais de Minas Gerais, de São João Del Rei e de Ouro Preto e da Universidade Estadual de Minas Gerais.
O Segunda Musical, garante a sua importância no cenário cultural mineiro, uma vez que tem o objetivo de reconhecer, valorizar e incentivar jovens talentos estudantes de música erudita em Minas Gerais, o Segunda Musical recebe recitais no Teatro da Assembleia, com entrada franca.
O concerto Alma Barroca
Segundo Maria Bragança, saxofonista e compositora, “Somos um povo barroco. Parafraseando Adelia Prado somos de barro e oco somos barrocos!”
O encontro do Trio de músicos no palco e a proposta deste concerto chegam com o propósito de contribuir com criação musical trazer Barroco na luz do século XXI ampliando fronteiras musical, criando pontes entre culturas!
Os músicos
No Alma Barroca, estarão em cena, os músicos Maria Bragança, saxofonista e compositora, o Cravista Antônio Carlos de Magalhães e o recitalista e camerista, o violoncelista Robson Fonseca.
Para que todos entendam a riqueza do espetáculo, vale falarmos um pouco de cada um dos artistas.
Maria Bragança realizou seus estudos acadêmicos no Brasil e na Alemanha. Seu estilo pessoal é uma mistura bem-sucedida de jazz brasileiro e europeu, música erudita e contemporânea. A artista já protagonizou uma série de concertos internacionais, com destaque para os recitais que fez ao lado do pianista Roberto Szidon, na Academia de Música Sion, na Suíça, e na Robert Schumann Saal, em Dusseldorf, Alemanha.
Realizou Concertos na Philarmonie de Munique, Bosendorf Saal Viena ao lado Michael Collins em Paris, França, com cravista Nicolau de Figueiredo em Paris, França, e na Sala São Paulo com a pianista Maria Teresa Madeira.
Maria, em 2014, foi convidada para participar do Festival Internacional de saxofonistas da América do Sul em Tatuí. Em 2021 ganhou prêmio Radio Inconfidência de melhor instrumentista com CD Duas Marias.
Maria realizou Concertos com grandes mestres da percussão Djalma Correa, Nana Vasconcellos e Mustapha Teddey Adir, o contrabaixista alemão Eberhard Weber e o guitarrista mineiro Toninho Horta. Autora da trilha sonora do filme documentário “Se eu contar você me escuta?” semifinal do Prêmio Cinema brasileiro.
Em sua trajetória temos ainda uma vitoriosa circulação pela Europa com o violoncelista e pianista cubano Yaniel Matos e em sua discografia, destacamos a gravação Alma Barroca serie II e a gravação do Album Jazzue com sua composição em Homenagem a Chiquinha Gonzaga.
Antônio Carlos de Magalhaes, estudou piano na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e é pós-graduado pela Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).
Ele exerce a direção artística do projeto Segunda Musical da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e participou da ópera e do filme “La Serva Padrona” com direção de Carla Camurati.
Com enorme experiência musical, Antonio foi um dos fundadores do grupo “Collegium Musicum de Minas” e é especialista em performance.
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De sua discografia constam cinco CDs solo, o “Sabará”, “O Cravo e a Rosa”, “Fortepiano no Brasil do séc. XIX”, o “Cravo e Cantigas” e “Música do Barroco Mineiro”. Antônio marcou presença também nos CDs “Alma Barroca” ao lado de Maria Bragança.
De Antônio Carlos, sou um admirador nato. Acompanho de perto sua trajetória artística e me encanta a realização de concertos solo e em grupo por todo o Brasil, passando pela Alemanha, Portugal, Uruguai, Áustria (Viena), Polônia, entre outros.
O Violoncelista Robson Fonseca, como recitalista e camerista, apresentou-se nas principais salas de concerto do Brasil. Teve aulas com Matias de Oliveira Pinto na Alemanha, país onde também concluiu o Zertifikat na Universidade de Münster. Robson formou-se pela Universidade de São Paulo (USP), instituição pela qual obteve o I Prêmio Olivier Toni. É membro da Filarmônica e seu Violoncelo Principal Assistente.
Hoje, Fonseca é Primeiro Violoncelo na Orquestra Ouro Preto e professor na Academia Ouro Preto, e Academia Filarmônica.
Os segredos e encontros da música
No Espetáculo Alma Barroca, teremos o Cravo, o Saxofone e suas variações e o Violoncelo. Estes são instrumentos de épocas diferentes interpretando Obras Barrocas e melodias do cancioneiro popular.
O encontro destes músicos, é uma vivência musical, com afetos de uma espiritualidade profunda. As árias na versão instrumental que serão apresentadas trazem uma nova estética camerística e as melodias do cancioneiro popular que fazem parte da nossa memória, de um Brasil profundo.
Segundo os músicos uma das propostas do concerto “é criar pontes musicais entre o antigo e o contemporâneo tomando como referência o fenômeno barroco que surge no Brasil como uma vocação especial de nossa gente, a pujança quase polifônica de sua natureza, a dramaticidade estruturada de suas expressões culturais, ao mesmo tempo sensuais e espirituais, o motor contínuo e retórica das linhas melódicas das improvisações populares”.
No repertório do dia, poderemos conferir arias, sonatas e melodias do Cancioneiro popular, vivenciando uma das mais ricas experiências musicais deste semestre no Segunda Musical.
Antenados com a atualidade, Maria, Antônio e Robson, estão atentos à importância destes espaços culturais e destes palcos abertos para este tipo de manifestação cultural, já que são estes espaços, que contribuem para a formação de público e para a inclusão social.
“A música e essencial na formação e saúde de um povo”, arremata Maria Bragança.
Minas Gerais, a Europa contemporânea e a Alma Barroca
Curioso e para não perder a oportunidade, perguntei aos músicos sobre sua percepção sobre a Minas Gerais, a Europa contemporânea e a “Alma Barroca” e ouvi deles, que “o barroco, no Brasil, não se restringe a um período, a uma época histórica, mas faz parte da nossa essência, da nossa forma de ser. O barroco faz parte da cultura do mundo. Tocaremos Sonatas Arias de Bach que é realmente o grande mestre, o arquiteto da nossa música ocidental. Nosso encontro no palco e a proposta deste concerto traz a luz do século XXI concretizando-se não apenas pela interpretação, mas também pelo trabalho de transcrições”.
Realmente, um belíssimo espetáculo, que não vale a pena perdermos. O “Alma Barroca” será apresentado no dia 06 de outubro, segunda-feira, às 20 horas, no Teatro Assembleia, com entrada franca.
Para os que ainda não conhecem, o Teatro fica localizado à Rua Rodrigues Caldas, 30 – Santo Agostinho, em Belo Horizonte.
Caso você não possa comparecer, fique ligado na exibição pela TV Assembleia na sexta-feira seguinte, às 20 horas, com reprise no sábado, às 22 horas; no domingo, às 15 horas; e na terça-feira, 1 hora da manhã!
Até a próxima.
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